Divagações: West Side Story

Houve um tempo em que musicais não eram somente sobre cantar, mas também sobre dançar e se apaixonar à primeira vista. West Side Story be...

Houve um tempo em que musicais não eram somente sobre cantar, mas também sobre dançar e se apaixonar à primeira vista. West Side Story bebe muito dessa escola e se beneficia das coreografias puxadas criadas por Jerome Robbins. Para fazer esse filme, os atores se ralaram (literalmente) e trouxeram uma musicalidade nunca antes vista – e que dificilmente será repetida nessas proporções – às ruas de Nova York.

Um musical à moda antiga, o filme talvez incomode aqueles que se irritam com amores inexplicáveis ou canções dubladas (é triste, mas é difícil fugir totalmente quando se olha para a história do cinema). Ainda assim, esse é um clássico que continua muito relevante, especialmente pela temática abordada e pelas questões que levanta.

West Side Story conta uma história de amor e de rivalidade. Os Jets, liderados por Riff (Russ Tamblyn), são a gangue que controla um bairro nova-iorquino. Mas eles estão se sentindo ameaçados pela chegada dos imigrantes porto-riquenhos, que formam um grupo similar, os Sharks, comandados por Bernardo (George Chakiris). Quando uma grande briga entre os dois bandos começa a se armar, a irmã de Bernardo, Maria (Natalie Wood), e o melhor amigo de Riff, Tony (Richard Beymer), cruzam olhares durante um baile – e toda a velha rivalidade perde significado para eles.

Ainda que o amor entre os dois jovens pareça exagerado para os padrões atuais, ele faz todo o sentido em um musical como esse. O que importa aqui não é exatamente a veracidade dessas emoções, mas a intensidade com que elas são sentidas. As canções exploram o quanto esse relacionamento é dificultado por fatores externos, como os imigrantes se sentem divididos entre as saudades do país natal e as promessas da nova terra; aspectos contrabalanceados pela miséria de antes e o deslocamento e preconceito do agora. As músicas também trazem as angústias da juventude, a alegria de descobrir um novo sentimento e a tristeza provocada pelas consequências de ações impensadas.

Isso só prova que, após 55 anos de seu lançamento, West Side Story continua atual. Uma das cenas mais fortes, inclusive, ressoa fortemente nos dias de hoje. Ainda que bastante fragilizada emocionalmente, uma amiga de Maria, Anita (Rita Moreno), vai ao encontro do grupo rival para passar uma mensagem para Tony. Antes que ela possa falar, no entanto, os rapazes decidem se aproveitar de seu estado e do fato dela estar sozinha. Por causa da censura da época e da própria natureza do musical, a cena acontece ‘quase’ sem violência, mas a mensagem fica bem clara: a ‘mulher do outro’ serve como diversão, mesmo contra a sua vontade.

Assim, mesmo que traga um amor dos sonhos, muitas danças e cantorias, esse não é um filme leve em sua temática – pode-se até dizer que ele é contraditório em sua essência. Ao pensar sobre o que é retratado na tela, é possível notar que o entretenimento, nesse caso, serve como denúncia social. As gangues conhecem seus problemas e sabem o suficiente do ‘sistema’ para entender que nada será resolvido. As coisas se encaminham para a violência não por negligência da polícia (que está sempre um passo atrás em sua investigação) mas porque há uma carência mais profunda.

West Side Story é uma obra única. As coreografias exigem força, enquanto os vocais pedem delicadeza. A cidade suja não entende sua própria juventude e os jovens querem dominar algo que não parecem compreender. Essa é uma tragédia cantada e óbvia, daquele tipo que reverbera.

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