Divagações: O Filho Eterno
29.11.16
O escritor Cristovão Tezza quase foi meu professor em duas ocasiões. Duas disciplinas na faculdade em que, por motivos que triviais (ou seria o destino?), ele não pôde lecionar ou eu não pude atender. Assim, ele continua sendo aquele cara legal que muita gente ao meu redor conhece e eu acho que vi uma vez, ao acaso, andando pela rua. Aparentemente alcançável, mas absolutamente distante.
Mas confesso também não ser uma de suas maiores leitoras. Não acompanhava a coluna no jornal (só de vem em quando, raramente até) e li apenas três de seus diversos livro. O Filho Eterno, obviamente, é um deles. É uma história que me provoca diferentes tipos de sentimentos, mas com a qual eu me sinto estranhamente simpática. Nunca vivi nada parecido, contudo, admiro a sinceridade daquelas páginas. São palavras que incomodam em muitos momentos (como alguém pode pensar uma coisa dessas?), mas elas são tão genuínas que se torna impossível desviar (afinal, que coisas horríveis eu não teria pensado em uma situação assim?).
Em formato de filme, O Filho Eterno traz uma história com algumas diferenças pontuais. Os nomes são outros, as circunstâncias mudam aqui e ali. Compactada em uma hora e meia, a relação entre o casal principal acaba sendo percebida de uma forma diferente e toma seus próprios rumos. Mas a essência está intacta.
Com roteiro de Leonardo Levis e direção de Paulo Machline, a produção traz a história de um homem que não está pronto para ser pai. Roberto (Marcos Veras) é imaturo, ainda não se firmou profissionalmente e tem muitas ideias ingênuas sobre a vida. Ainda assim, um dia é chegado o momento de levar Cláudia (Débora Falabella) para a sala de parto. Ele se esforça, tenta dar banho na criança, acompanha as idas ao médico, mas faz tudo isso apenas por uma estranha noção de responsabilidade – tudo o que ele quer é que as coisas fossem diferentes.
A verdade é que Roberto talvez até tivesse conseguido lidar melhor com sua nova posição como pai se seu menino fosse uma criança como as outras. Mas Fabrício (Pedro Vinícius) tem Síndrome de Down e, mesmo sem saber, exige demais de seus pais, ao menos emocionalmente.
Eu gostaria de acreditar que as pessoas estão mais compreensivas atualmente, mas ao final dos anos 1980 esse luxo não era possível. O Filho Eterno faz uma bela reconstrução da época, com cenários que trazem um sorriso aos curitibanos nostálgicos, cortes de cabelo constrangedores e figurinos esquisitos. Mas também traz os preconceitos e a ignorância, com os pais da criança fazendo parte dessa sociedade tanto quanto as pessoas que os olham, curiosas e inconvenientes.
Essa é uma história bastante pessoal, quase um desabafo. Assim, o filme não minimiza os comentários, os despreparos, os erros. Ao mesmo tempo em que não odiamos Roberto, também sentimos o quanto ele precisa crescer. Em muitos momentos, os gestos e as respostas que ele direciona a Cláudia são mais ofensivos que os pensamentos e anseios que ele tenta manter secretos. Por mais que haja certa redenção, não há nada que diminua o que já foi feito.
Vale considerar que, mesmo sendo um filme tecnicamente caprichado, O Filho Eterno conta uma história aparentemente muito simples, com poucos personagens e uma estrutura linear. O drama é auxiliado pelo elenco de qualidade e, garanto, muita gente não vai conseguir conter as lágrimas. Mas, realmente, não há nada muito desafiador naquilo que vemos na tela. Ao mesmo tempo, nada poderia ser mais complexo que uma obra que traz esse tipo de questionamento e de reflexão. Podemos nos distanciar e dizer que o mundo mudou, que não somos mais como éramos 20 anos atrás.
Ou quase. Ainda somos despreparados, preconceituosos e machistas. Há muitos Robertos por aí que simplesmente não encontram a sua redenção, a sua consciência, a sua sensibilidade, o seu amor paternal – ou o que quer que seja. O Filho Eterno traz uma trajetória intimamente cruel, mas que precisa ser compartilhada, amada e abraçada. Talvez alguns sintam a necessidade de julgá-la, mas gostaria que esses representem nada mais que uma minoria numérica.
Mas confesso também não ser uma de suas maiores leitoras. Não acompanhava a coluna no jornal (só de vem em quando, raramente até) e li apenas três de seus diversos livro. O Filho Eterno, obviamente, é um deles. É uma história que me provoca diferentes tipos de sentimentos, mas com a qual eu me sinto estranhamente simpática. Nunca vivi nada parecido, contudo, admiro a sinceridade daquelas páginas. São palavras que incomodam em muitos momentos (como alguém pode pensar uma coisa dessas?), mas elas são tão genuínas que se torna impossível desviar (afinal, que coisas horríveis eu não teria pensado em uma situação assim?).
Em formato de filme, O Filho Eterno traz uma história com algumas diferenças pontuais. Os nomes são outros, as circunstâncias mudam aqui e ali. Compactada em uma hora e meia, a relação entre o casal principal acaba sendo percebida de uma forma diferente e toma seus próprios rumos. Mas a essência está intacta.
Com roteiro de Leonardo Levis e direção de Paulo Machline, a produção traz a história de um homem que não está pronto para ser pai. Roberto (Marcos Veras) é imaturo, ainda não se firmou profissionalmente e tem muitas ideias ingênuas sobre a vida. Ainda assim, um dia é chegado o momento de levar Cláudia (Débora Falabella) para a sala de parto. Ele se esforça, tenta dar banho na criança, acompanha as idas ao médico, mas faz tudo isso apenas por uma estranha noção de responsabilidade – tudo o que ele quer é que as coisas fossem diferentes.
A verdade é que Roberto talvez até tivesse conseguido lidar melhor com sua nova posição como pai se seu menino fosse uma criança como as outras. Mas Fabrício (Pedro Vinícius) tem Síndrome de Down e, mesmo sem saber, exige demais de seus pais, ao menos emocionalmente.
Eu gostaria de acreditar que as pessoas estão mais compreensivas atualmente, mas ao final dos anos 1980 esse luxo não era possível. O Filho Eterno faz uma bela reconstrução da época, com cenários que trazem um sorriso aos curitibanos nostálgicos, cortes de cabelo constrangedores e figurinos esquisitos. Mas também traz os preconceitos e a ignorância, com os pais da criança fazendo parte dessa sociedade tanto quanto as pessoas que os olham, curiosas e inconvenientes.
Essa é uma história bastante pessoal, quase um desabafo. Assim, o filme não minimiza os comentários, os despreparos, os erros. Ao mesmo tempo em que não odiamos Roberto, também sentimos o quanto ele precisa crescer. Em muitos momentos, os gestos e as respostas que ele direciona a Cláudia são mais ofensivos que os pensamentos e anseios que ele tenta manter secretos. Por mais que haja certa redenção, não há nada que diminua o que já foi feito.
Vale considerar que, mesmo sendo um filme tecnicamente caprichado, O Filho Eterno conta uma história aparentemente muito simples, com poucos personagens e uma estrutura linear. O drama é auxiliado pelo elenco de qualidade e, garanto, muita gente não vai conseguir conter as lágrimas. Mas, realmente, não há nada muito desafiador naquilo que vemos na tela. Ao mesmo tempo, nada poderia ser mais complexo que uma obra que traz esse tipo de questionamento e de reflexão. Podemos nos distanciar e dizer que o mundo mudou, que não somos mais como éramos 20 anos atrás.
Ou quase. Ainda somos despreparados, preconceituosos e machistas. Há muitos Robertos por aí que simplesmente não encontram a sua redenção, a sua consciência, a sua sensibilidade, o seu amor paternal – ou o que quer que seja. O Filho Eterno traz uma trajetória intimamente cruel, mas que precisa ser compartilhada, amada e abraçada. Talvez alguns sintam a necessidade de julgá-la, mas gostaria que esses representem nada mais que uma minoria numérica.
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