Divagações: Snowden

Em um determinado momento de Snowden , o protagonista questiona o que pode acontecer se a enorme quantidade de informações coletada pelo go...

Em um determinado momento de Snowden, o protagonista questiona o que pode acontecer se a enorme quantidade de informações coletada pelo governo dos Estados Unidos cair em mãos erradas – não no sentido de um hacker ou de um ladrão, mas de um governante mal intencionado. Isso assusta muito, independente do resultados das eleições. Afinal, em um mundo onde informação e poder são praticamente a mesma coisa, não há limites quando se tem tudo aquilo que a internet, as redes de telefonia e os aparelhos eletrônicos (mesmo aparentemente inativos) podem alcançar.

Pode parecer uma paranoia gigantesca – do tipo em que os celulares precisam ser guardados dentro do micro-ondas –, mas o diretor e roteirista Oliver Stone é assim, além de ser bastante fiel a sua própria agenda. Ou seja, não dava para deixar passar a história real do funcionário da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA) que decidiu vazar informações secretas para a imprensa por acreditar que o governo estava infringindo a constituição do país.

Edward Snowden (Joseph Gordon-Levitt) é um jovem brilhante e de origem humilde que não consegue seguir carreira no exército e, então, decide servir seu país dentro da Agência Central de Inteligência (CIA). Ele é bastante feliz em sua vida particular, tendo um relacionamento estável com a fotógrafa amadora Lindsay Mills (Shailene Woodley) e, aos poucos, entra nas graças de gente importante, como seu instrutor Corbin O'Brian (Rhys Ifans). Ao mesmo tempo em que questiona o que acontece ao seu redor, ele também tem um espírito ambicioso e começa a subir na carreira.

Eventualmente, a pressão destrói sua saúde e Edward se vê a frente de dilemas morais cada vez maiores. É então que ele entra em contato com a documentarista Laura Poitras (Melissa Leo) e decide entregar documentos para a imprensa. Em um hotel de Hong Kong, após encontros com jornalistas (Zachary Quinto e Tom Wilkinson) e muitas horas de conversas, ele vai a público, divulga sua identidade e precisa se tornar um exilado.

Ok. Eu acabei de contar o filme inteiro, inclusive o final da história. Mas eu suponho que tudo isso ainda esteja relativamente fresco na memória do público. Snowden não é exatamente um filme que procura surpreender narrativamente. O objetivo principal, na verdade, é manter essa história relevante, é garantir que o absurdo daquilo que foi denunciado não se perca. Sob muitos aspectos, a produção foi criada para manter o status de seu protagonista em uma posição de heroísmo, antes que 'versões oficiais' da História o coloquem como o vilão.

Caso você realmente não concorde com essa posição e inclusive se irrite com quem a defenda, nem perca seu tempo com esse ou com qualquer filme de Oliver Stone, para falar a verdade. Esse é um tipo de cinema que é, sim, voltado para as massas. Mas ele também é um cinema posicionado politicamente, que defende suas opiniões – assim como qualquer grande veículo de comunicação.

Snowden deixa bem claro a que veio e conta com um excelente elenco para fazê-lo. Gordon-Levitt caprichou para emular a voz e a postura física do retratado. Melissa Leo está irreconhecível. E até mesmo Nicolas Cage está muito bem.

Para completar, a edição garante que o longa-metragem se mantenha interessante mesmo tendo mais de duas horas de duração. Ou quase isso, já que não dá para negar que o filme é realmente cansativo. A história é densa e em mais de um momento há a sensação de que a sequência final poderia ser aquela, apenas para tudo continuar no instante seguinte.

Mas, mesmo assim, muitas pessoas simplesmente não se levantaram quando os créditos começaram a rolar. Afinal, essa história ainda não acabou. Cada detalhe contado nas pequenas cenas entre os nomes da produção ou nas tradicionais frases que encerram um filme baseado em fatos reais é relevante.

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