Divagações: The Secret Garden

Quando eu era criança, ouvi falar que The Secret Garden era um filme maravilhoso, muito bonito e tudo o mais. O que eu via, no entanto, e...

Quando eu era criança, ouvi falar que The Secret Garden era um filme maravilhoso, muito bonito e tudo o mais. O que eu via, no entanto, era a história sobre uma menina chata e emburrada que encontrava um menino pior que ela e, juntos, eles iam para um lugar estranho (que eu achava marrom demais para ser realmente bonito). Muitos anos depois, consigo entender o apelo que a história tem para os adultos, mas ainda entendo o ponto de vista da minha versão com seis anos de idade.

Com direção de Agnieszka Holland, que nunca voltou a ter o mesmo reconhecimento, a produção se apoia em uma história de Frances Hodgson Burnett, uma autora que adora meninas inglesas solitárias que viveram sua primeira infância na Índia. A adaptação do roteiro, por sua vez, é assinada pela sempre fantástica Caroline Thompson. Ela conseguiu dar um tom menos mágico e mais misterioso à história, um aspecto fortemente contrabalanceado pelo design de produção irrepreensível de Stuart Craig (não se engane, cada tapeçaria tem um significado!).

A trama se desenvolve ao redor de Mary Lennox (Kate Maberly). Ela detesta seus pais e nem ao menos chora quando eles morrem em um terremoto na Índia. Órfã, ela passa a morar na casa de seu tio (John Lynch), que se recusa a vê-la. Ainda assim, ela não quer ser mandada para um colégio interno, conforme a sugestão da governanta Medlock (Maggie Smith), e passa seus dias brincando nos jardins da propriedade com o irmão de uma das empregadas da casa, Dickon (Andrew Knott). Lá, ela descobre um jardim fechado a chave que teria sido de sua falecida tia (Irène Jacob).

Mas as flores não são o único mistério do lugar. Mary não demora a descobrir que há mais uma criança na casa. Seu primo Colin Craven (Heydon Prowse) vive em um quarto escuro, preso a uma cama e recebendo uma série de tratamentos médicos. A personalidade de ambos logo colide e, em pouco tempo, eles se tornam amigos.

Para minha surpresa, algumas cenas que eu tinha gravadas em minha memória eram desse filme, especialmente a sequência inicial do terremoto e as explorações pelos corredores abandonados do casarão (essas, inclusive, renderam sonhos muito interessantes ao longo dos anos). Considerando que eu nem sabia que The Secret Garden havia me marcado tão profundamente, ver novamente a produção representou um ótimo reencontro.

A trilha sonora talvez incomode um pouco o público atual, mas ela é adequada dentro do conjunto. Afinal, a ambientação segue o que se esperaria da adaptação de uma novela gótica (como Jane Eyre, por exemplo) e a personalidade soturna da protagonista e dos personagens adultos também ajuda.

O tema, contudo, não é um romance tradicional, mas a busca pelo amor dos pais. Mary não sentia identificação com sua própria família e se apega no ideal da tia (representado pelo próprio jardim) ao lado do primo, que ainda tem um pai a quem recorrer. Acabar com essa ausência se torna o maior dos desafios para ambos, ao mesmo tempo em que eles também constroem uma unidade familiar para si mesmos. Provavelmente era a beleza e o desespero dessa situação que simplesmente me escapava quando eu era criança – uma menina sempre abraçada, bem cuidada e amada. Para devidamente apreciar The Secret Garden é preciso um histórico de tristezas e desapontamentos que apenas a vida pode trazer.

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