Divagações: Wonder Woman
1.6.17
Ao contrário da distinta concorrência, a parceria da Warner e da DC não conseguiu até o momento se fundar como uma marca que inspira confiança. Apesar de ter trazido certo frescor para uma cena de super-heróis tremendamente dominada pela Marvel, o universo compartilhado da DC, capitaneado por Zack Snyder, é repleto de problemas de produção, altas expectativas e uma dose de megalomania.
Por mais que eu tenha gostado dos filmes anteriores da casa (com as devidas ressalvas), nada conseguiu capturar meu coração em sua plenitude. Wonder Woman parecia ter bastante potencial, mesclando um clima mais heroico com uma ambientação não lá tão comum no cinema de heróis: a Primeira Guerra Mundial, tão deixada de lado em ‘favor’ da Segunda.
Sem esconder suas origens místicas – como a escola Christopher Nolan de heróis, mais sombria e realista, gosta de fazer –, Wonder Woman logo apresenta sua protagonista, Diana (Gal Gadot), uma amazona nascida na ilha de Temiscira, protegida pelos deuses do Olimpo e destinada a lutar contra o deus Ares pelo destino do mundo dos homens. Crescendo isolada do resto do mundo, Diana sonha com a possibilidade de colocar seu treinamento em prática, oportunidade que surge quando o piloto e espião americano Steve Trevor (Chris Pine) acidentalmente chega à ilha após ser perseguido pelo exército alemão. Steve, mesmo confuso com a situação em que se encontra, revela estar em posse de segredos militares capazes de mudar o rumo da grande guerra que acontecia no mundo exterior.
Mesmo sem a aprovação de sua mãe, a rainha Hippolyta (Connie Nielsen), Diana foge da ilha, sendo movida por sua vontade de encerrar o conflito. Em Londres, sede do comando do exército aliado, ela acaba insatisfeita em observar a situação se desenrolar da segurança da capital. Assim, a heroína decide ir para a linha de frente, sendo acompanhada por um reticente Steve e seus colegas, Charlie (Ewen Bremner), Sameer (Saïd Taghmaoui) e Chief (Eugene Brave Rock), em uma missão perigosa, mas que poderia acabar de vez com o confronto.
Aliás, de maneira geral, os personagens de Wonder Woman são bem escritos. Eles funcionam bem no contexto e dão certo colorido ao filme, além de apresentarem (nem que muito por cima) alguns conceitos surpreendentemente profundos para uma obra desse tipo. Inclusive, Gadot consegue fazer uma Diana que tem sua ingenuidade, mas possui força e caráter (e, ainda por cima, uma boa química com Chris Pine), soando uma personagem muito mais interessante que seus companheiros na liga da justiça, marcados demais por uma só característica.
Com direção de Patty Jenkins, a produção tem falhas muito menos óbvias que os demais filmes da DC, que geralmente tropeçavam em um ritmo moroso e um clima sóbrio demais. O longa-metragem é bem mais dinâmico e bem-humorado – beirando o cafona de vez em quando –, mas sem deixar de reconhecer a seriedade dos temas com que trabalha, como a natureza da guerra e do próprio homem. Ainda assim, ser melhor que os demais filmes da DC não é lá um grande mérito.
Como nem tudo são flores, a coreografia de combate é no mínimo inconstante, com apenas uma ou duas cenas realmente boas. Gadot não tem a fisicalidade necessária para convencer nas sequências de ação e o excesso de efeitos digitais não ajuda a mudar essa impressão, faltando impacto para tornar os poderes críveis. O confronto final é especialmente marcado por esses problemas, sendo um festival de efeitos medianos e sofrendo do mal mais constante de todos os filmes de super-heróis no mercado: a ausência de bons vilões, essencial para tornar o conflito emocionalmente significativo.
Na realidade, todo o ato final de Wonder Woman é fraco, ainda mais em uma produção que, para todos os efeitos, possui um bom desenvolvimento. A revelação é meio truncada e difícil de engolir, além de não exatamente se resolver depois que as cortinas se abaixam. Mas, pelo menos, o desfecho é satisfatório e explica um pouco sobre o que a personagem é nos dias de hoje, o que certamente ajuda a torná-la uma figura interessante para o universo DC.
Tudo isso torna Wonder Woman (ironicamente esse título nunca é mencionado no filme) um grande salto de qualidade em relação às empreitadas da Warner. A produção é particularmente importante em uma época de representatividade – ainda mais somado ao fato de termos Patty Jenkins na direção – onde a Marvel ainda não teve a coragem de lançar uma personagem feminina em um papel central (Captain Marvel só em 2019).
Agora, é só esperar que Justice League continue nesse ritmo, pois finalmente poderemos ter a esperança de ver coisas boas da DC chegando por aí.
Outras divagações:
Man of Steel
Batman v Superman: Dawn of Justice
Suicide Squad
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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