Já se passaram alguns dias desde que assisti Keyke mahboobe man e ainda estou me questionando como uma produção consegue ser tão fofa (dessas que esquentam o coração) e tão triste (dessas que fazem o peito doer). Acho que eu realmente não estava preparada para essa reviravolta toda.
A história se passa no Irã, com direito a uma sequência sobre o trabalho da polícia da moralidade. Mahin (Lili Farhadpour) é uma senhora de 70 anos que vive uma vida muito isolada: ela é viúva, seus filhos saíram do país há muito tempo e suas amigas só conseguem visitar uma vez por ano. Frequentemente, seu único contato com pessoas queridas é pela tela do celular.
Instigada por uma amiga, Mahin decide procurar por um namorado. Ela tenta encontrar alguém que a interesse na padaria e no parque local, por exemplo, mas suas habilidades de flerte não estão exatamente afiadas. Eis que seus olhos recaem sobre Faramarz (Esmaeel Mehrabi) em um restaurante e ela resolve tentar conversar com ele, ainda que isso possa envolver muitas horas de espera.
É então que Keyke mahboobe man mostra a que veio. O encontro dessas almas solitárias é tão mágico que beira o irreal. Eles conversam, bebem, comem, dançam, sujam-se, limpam-se e até fazem planos para o futuro. Trata-se de uma única noite, porém, muita coisa acontece enquanto um bolo ainda está no forno ou esperando para ser decorado. Mas, obviamente, estava muito bom para perdurar.
Com essa premissa tão contida, a produção depende muito de seus atores. O veterano Esmaeel Mehrabi consegue dar credibilidade para ser personagem quietão, dócil, sonhador e um tanto quanto impossível. Enquanto isso, Lili Farhadpour é uma daquelas atrizes que consegue dizer muita coisa com apenas uma expressão facial ou meramente um olhar – a cena em que ela encontra a cartela de remédio na roupa dele é uma das minhas favoritas.
Assim, Keyke mahboobe man é um filme sobre solidão, sobre saudade, sobre abandono, sobre opressão e sobre a necessidade do ser humano de ter alguém por perto. Ainda que o contexto cultural e político possa soar como algo distante, estas temáticas são compreensíveis e tocam fundo. Quando os protagonistas conversam sobre seus medos e falam da morte, isso fica ainda mais evidente.
Ao mesmo tempo, o longa-metragem é um sobrevivente do governo retratado. Seis meses antes da exibição em Berlim, os escritórios da produção foram invadidos pela polícia da moralidade. Sob a alegação de que há cenas de mulheres sem hijab (e realmente há), eles confiscaram equipamentos e ecoaram uma sequência do próprio filme – felizmente, uma cópia já se encontrava fora do país. Além disso, os diretores Maryam Moghadam e Behtash Sanaeeha não foram autorizados a viajar para ver o lançamento no festival.
Com isso em mente, Keyke mahboobe man parece se tornar ainda mais dolorido. Em um contexto em que as liberdades individuais e de expressão estão tão restritas, a história de uma viúva solitária que busca por companhia (não necessariamente um namorado) pode ser considerada uma ameaça. O bolo feito na expectativa de que alguma visita apareça apenas apodrece sobre a mesa.
A história se passa no Irã, com direito a uma sequência sobre o trabalho da polícia da moralidade. Mahin (Lili Farhadpour) é uma senhora de 70 anos que vive uma vida muito isolada: ela é viúva, seus filhos saíram do país há muito tempo e suas amigas só conseguem visitar uma vez por ano. Frequentemente, seu único contato com pessoas queridas é pela tela do celular.
Instigada por uma amiga, Mahin decide procurar por um namorado. Ela tenta encontrar alguém que a interesse na padaria e no parque local, por exemplo, mas suas habilidades de flerte não estão exatamente afiadas. Eis que seus olhos recaem sobre Faramarz (Esmaeel Mehrabi) em um restaurante e ela resolve tentar conversar com ele, ainda que isso possa envolver muitas horas de espera.
É então que Keyke mahboobe man mostra a que veio. O encontro dessas almas solitárias é tão mágico que beira o irreal. Eles conversam, bebem, comem, dançam, sujam-se, limpam-se e até fazem planos para o futuro. Trata-se de uma única noite, porém, muita coisa acontece enquanto um bolo ainda está no forno ou esperando para ser decorado. Mas, obviamente, estava muito bom para perdurar.
Com essa premissa tão contida, a produção depende muito de seus atores. O veterano Esmaeel Mehrabi consegue dar credibilidade para ser personagem quietão, dócil, sonhador e um tanto quanto impossível. Enquanto isso, Lili Farhadpour é uma daquelas atrizes que consegue dizer muita coisa com apenas uma expressão facial ou meramente um olhar – a cena em que ela encontra a cartela de remédio na roupa dele é uma das minhas favoritas.
Assim, Keyke mahboobe man é um filme sobre solidão, sobre saudade, sobre abandono, sobre opressão e sobre a necessidade do ser humano de ter alguém por perto. Ainda que o contexto cultural e político possa soar como algo distante, estas temáticas são compreensíveis e tocam fundo. Quando os protagonistas conversam sobre seus medos e falam da morte, isso fica ainda mais evidente.
Ao mesmo tempo, o longa-metragem é um sobrevivente do governo retratado. Seis meses antes da exibição em Berlim, os escritórios da produção foram invadidos pela polícia da moralidade. Sob a alegação de que há cenas de mulheres sem hijab (e realmente há), eles confiscaram equipamentos e ecoaram uma sequência do próprio filme – felizmente, uma cópia já se encontrava fora do país. Além disso, os diretores Maryam Moghadam e Behtash Sanaeeha não foram autorizados a viajar para ver o lançamento no festival.
Com isso em mente, Keyke mahboobe man parece se tornar ainda mais dolorido. Em um contexto em que as liberdades individuais e de expressão estão tão restritas, a história de uma viúva solitária que busca por companhia (não necessariamente um namorado) pode ser considerada uma ameaça. O bolo feito na expectativa de que alguma visita apareça apenas apodrece sobre a mesa.

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