Divagações: Moonlight
3.8.17
Em um mundo com tantas pessoas fazendo coisas fantásticas, há muitas batalhas silenciosas que passam despercebidas. Moonlight é um filme sobre uma luta que persiste durante toda uma vida. A história poderia ser resolvida de formas muito diferentes, mas a opção aqui foi acompanhar uma pessoa em uma situação de fragilidade, que usa todas as suas forças e vence sob muitos aspectos, mas continua sendo derrotada. Ou seja, esse não é um filme feliz, mas é um longa-metragem tocante e bastante real.
Chiron (Alex R. Hibbert) é um menino pequeno e quieto que se torna vítima de bullying na escola – ele ainda não sabe, mas já é taxado como sendo diferente dos demais. Quase por acidente, ele cai nas graças de Juan (Mahershala Ali) e Teresa (Janelle Monáe), um casal que é bom e que se importa com ele, mas cujo dinheiro vem do tráfico de drogas.
Na adolescência, Chiron (Ashton Sanders) não pode mais contar com a presença de seu pai substituto, mas ainda frequenta a casa de Teresa, especialmente quando sua mãe, Paula (Naomie Harris), está sob o efeito de drogas. Seu amigo Kevin (Jaden Piner/Jharrel Jerome) também está sempre a seu lado e acaba sendo o responsável por dois momentos particularmente marcantes de sua vida.
Já adulto, Chiron (Trevante Rhodes) trabalha para o tráfico e em nada lembra o menino indefeso que foi um dia. Ainda assim, há algo por trás de sua máscara de valentão que fica visível na maneira como lida com Paula e, principalmente, quando ele decide se reencontrar com Kevin (André Holland).
Essas três fases na vida de uma mesma pessoa – interpretada por atores que não viram o trabalho dos colegas escalados para o mesmo papel – trazem uma construção de personagem como raramente podemos ver em Hollywood. Aliás, Moonlight é, basicamente, sobre isso: o filme nos apresenta a uma pessoa, não necessariamente a uma história.
Com isso, o que o diretor Barry Jenkins fez foi dar voz a uma pessoa que não necessariamente seria ouvida (até mesmo porque seu protagonista não gosta muito de falar). Pode-se dizer que o filme significa muito para quem busca por representação – o que é a mais absoluta verdade –, mas ele também traz muitos outros temas importantes à tona. Moonlight apresenta dilemas morais, discute noções de bem e mal, de certo e errado, traz diferentes definições de família e, principalmente, explora o conceito de masculinidade em um cenário bastante opressor e onde há pouco espaço para discussões de gênero, uma comunidade negra e pobre em Miami (mas poderia ser em algum lugar perto da sua casa também).
Aliás, mesmo com um orçamento bastante limitado – considerados ajustes inflacionários, esse é o vencedor de Melhor Filme no Oscar com o menor orçamento de todos os tempos – e uma temática tão polêmica (para não dizer delicada), a produção foi filmada em locação e exibe suas origens e suas cores com orgulho. O drama de cada um de seus personagens é respeitado e eles não são julgados pela forma como reagem às circunstâncias que a vida joga em seu caminho, seja Chiron, Kevin, Juan, Teresa ou até mesmo Paula. Isso, obviamente, só foi possível pelo trabalho cuidadoso de Jenkins e por sua confiança no excelente elenco que a produção conseguiu reunir.
Afinal, não é à toa que a produção conquistou oito indicações ao Oscar e três estatuetas – Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme. Moonlight é um filme como poucos, pois mantém seu coração no lugar certo e sabe se manter simples mesmo sob a luz dos holofotes.
A propósito, embora eu não quisesse tocar no assunto, não posso deixar de mencionar o fato de que o filme será eternamente lembrado pela confusão na entrega da estatueta do Oscar – quando La La Land foi equivocadamente anunciado como Melhor Filme em seu lugar. Mas eu gostaria que outras memórias fossem juntadas a essa. Esse foi o primeiro longa-metragem com um elenco inteiramente negro a receber o prêmio de Melhor Filme. Moonlight também foi o primeiro filme sobre a temática gay a ganhar nessa categoria. Mahershala Ali foi o primeiro ator muçulmano a receber uma estatueta. A produtora Dede Gardner é a primeira mulher a ganhar Melhor Filme duas vezes (o prêmio anterior foi por 12 Years a Slave). E essa é a primeira vez que um filme escrito e dirigido por um cineasta negro leva o prêmio principal. Ou seja, essa é uma vitória significativa demais para ficar escondida por trás de um mal-entendido.
Chiron (Alex R. Hibbert) é um menino pequeno e quieto que se torna vítima de bullying na escola – ele ainda não sabe, mas já é taxado como sendo diferente dos demais. Quase por acidente, ele cai nas graças de Juan (Mahershala Ali) e Teresa (Janelle Monáe), um casal que é bom e que se importa com ele, mas cujo dinheiro vem do tráfico de drogas.
Na adolescência, Chiron (Ashton Sanders) não pode mais contar com a presença de seu pai substituto, mas ainda frequenta a casa de Teresa, especialmente quando sua mãe, Paula (Naomie Harris), está sob o efeito de drogas. Seu amigo Kevin (Jaden Piner/Jharrel Jerome) também está sempre a seu lado e acaba sendo o responsável por dois momentos particularmente marcantes de sua vida.
Já adulto, Chiron (Trevante Rhodes) trabalha para o tráfico e em nada lembra o menino indefeso que foi um dia. Ainda assim, há algo por trás de sua máscara de valentão que fica visível na maneira como lida com Paula e, principalmente, quando ele decide se reencontrar com Kevin (André Holland).
Essas três fases na vida de uma mesma pessoa – interpretada por atores que não viram o trabalho dos colegas escalados para o mesmo papel – trazem uma construção de personagem como raramente podemos ver em Hollywood. Aliás, Moonlight é, basicamente, sobre isso: o filme nos apresenta a uma pessoa, não necessariamente a uma história.
Com isso, o que o diretor Barry Jenkins fez foi dar voz a uma pessoa que não necessariamente seria ouvida (até mesmo porque seu protagonista não gosta muito de falar). Pode-se dizer que o filme significa muito para quem busca por representação – o que é a mais absoluta verdade –, mas ele também traz muitos outros temas importantes à tona. Moonlight apresenta dilemas morais, discute noções de bem e mal, de certo e errado, traz diferentes definições de família e, principalmente, explora o conceito de masculinidade em um cenário bastante opressor e onde há pouco espaço para discussões de gênero, uma comunidade negra e pobre em Miami (mas poderia ser em algum lugar perto da sua casa também).
Aliás, mesmo com um orçamento bastante limitado – considerados ajustes inflacionários, esse é o vencedor de Melhor Filme no Oscar com o menor orçamento de todos os tempos – e uma temática tão polêmica (para não dizer delicada), a produção foi filmada em locação e exibe suas origens e suas cores com orgulho. O drama de cada um de seus personagens é respeitado e eles não são julgados pela forma como reagem às circunstâncias que a vida joga em seu caminho, seja Chiron, Kevin, Juan, Teresa ou até mesmo Paula. Isso, obviamente, só foi possível pelo trabalho cuidadoso de Jenkins e por sua confiança no excelente elenco que a produção conseguiu reunir.
Afinal, não é à toa que a produção conquistou oito indicações ao Oscar e três estatuetas – Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme. Moonlight é um filme como poucos, pois mantém seu coração no lugar certo e sabe se manter simples mesmo sob a luz dos holofotes.
A propósito, embora eu não quisesse tocar no assunto, não posso deixar de mencionar o fato de que o filme será eternamente lembrado pela confusão na entrega da estatueta do Oscar – quando La La Land foi equivocadamente anunciado como Melhor Filme em seu lugar. Mas eu gostaria que outras memórias fossem juntadas a essa. Esse foi o primeiro longa-metragem com um elenco inteiramente negro a receber o prêmio de Melhor Filme. Moonlight também foi o primeiro filme sobre a temática gay a ganhar nessa categoria. Mahershala Ali foi o primeiro ator muçulmano a receber uma estatueta. A produtora Dede Gardner é a primeira mulher a ganhar Melhor Filme duas vezes (o prêmio anterior foi por 12 Years a Slave). E essa é a primeira vez que um filme escrito e dirigido por um cineasta negro leva o prêmio principal. Ou seja, essa é uma vitória significativa demais para ficar escondida por trás de um mal-entendido.
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