Divagações: War for the Planet of the Apes

O reboot de Planet of the Apes é aquele tipo de série que, mesmo gerando algum burburinho e reações positivas quando chega aos cinemas, n...

O reboot de Planet of the Apes é aquele tipo de série que, mesmo gerando algum burburinho e reações positivas quando chega aos cinemas, não tem realmente um grupo de fãs fervorosos ou um impacto muito grande que nos faz pensar: ”Nossa, tem um novo Planet of the Apes chegando aí!”. Essa é uma franquia estranha, que nunca conseguiu exatamente encontrar seu público ou voltar a ser tão culturalmente relevante quanto nos tempos de Charlton Heston, mas que seguiu em frente de algum modo e conseguiu chegar ao que parece ser seu capítulo final. A questão é: precisava?

Pergunto isso porque War for Planet of the Apes não é exatamente um filme muito distinto do seu antecessor, Dawn of the Planet of the Apes. Novamente, acompanhamos Caesar (Andy Serkis) em sua jornada para salvar sua tribo depois do conflito iniciado por Koba (Toby Kebbell) no filme anterior. Sai o personagem de Gary Oldman e entra The Colonel (Woody Harrelson), um militar em constante conflito com os macacos. Assim, mais uma vez, temos a sociedade tribal símia tentando sobreviver contra o que restou da humanidade. Porém, para acabar com o confronto de uma vez por todas, Caesar sai em busca do rival, encontrando pelo caminho uma estranha garota muda (Amiah Miller) e outro chimpanzé evoluído, Bad Ape (Steve Zahn), que o acompanham em sua longa jornada.

Desse modo, enquanto Dawn of the Planet of the Apes parecia ser uma evolução natural e interessante para a franquia, War for the Planet of the Apes soa como uma oportunidade desperdiçada, justamente por teimar em continuar acompanhando Caesar em vez de partir para outros pontos mais interessantes – como, por exemplo, algum momento após a constituição de uma sociedade mais avançada por parte dos macacos. Mas, não. O que temos aqui são os macacos em seu estado altamente primitivo conseguindo milagrosamente ‘vencer’ os humanos com suas ferramentas, armamentos e organizações superiores, o que deixa um gosto um pouco amargo na boca.

Justamente por ser uma história que antecede o filme original (de 1968), qualquer tensão que poderia haver no pretenso conflito entre humanos e macacos é dissipada. Afinal, já sabemos de antemão quem será o lado vitorioso e como ficará o status quo ao final do longa-metragem, uma vez que o objetivo é justificar o universo da série clássica. Com isso, todo o peso do filme recai sobre seus personagens e a maneira como eles interagem. E, apesar do ótimo trabalho técnico de captura de movimentos, há um limite do que se pode fazer quando o que temos em tela durante boa parte do filme são chimpanzés fazendo sinais.

A situação se agrava porque os personagens humanos são extremamente rasos e subutilizados. Colonel, o único com maior desenvolvimento, até consegue ter alguns pontos em que sua filosofia é razoável, mas sua ambiguidade vai por água abaixo quando vemos que ele se apoia em tortura e escravidão, tornando-o um mero antagonista para a pureza quase rousseauniana da sociedade primata. Ainda que o filme tente colocar Caesar como um protagonista falho e “humano”, ele ainda tem um que de infalível e inalcançável.

Além disso, a tal guerra do título é bem decepcionante e, efetivamente, nem ao menos existe, sendo até um pouco constrangedor para alguém que esperava um final grandioso. A verdade é que War for the Planet of the Apes é legalzinho, mas não exatamente muito empolgante. O filme até tenta colocar uma mensagem aqui ou ali, mas suas ambições são muito pequenas para o que deveria ser o final da série, soando muito mais como aquele capítulo meio estranho do meio, onde nada demais acontece até os cinco minutos finais. Não deixa de ser uma pena, já que uma verdadeira guerra entre os desgarrados sobreviventes da civilização humana e os macacos já organizados e longe das suas toscas cabanas de madeira faria bem mais sentido.

Até entendo que a guerra pode ser algo mais metafórico do que tiroteios e explosões. Ainda assim, se a produção entregasse um final catártico, eu poderia perdoar as suas falhas. No entanto, tudo soa tão pouco natural que existe uma sensação constante de que algo está faltando para que as peças se encaixem no lugar.

Claro que, para quem acompanhou toda a franquia nos cinemas, War for the Planet of the Apes é uma conclusão bem-vinda e vale justamente para os que querem ver fechadas as pontas deixadas pelos outros filmes. Ainda assim, como obra individual, ela não tem tanto mérito, sendo talvez o capítulo mais esquecível de uma trilogia não tão memorável assim.

Outras divagações:
Rise of the Planet of the Apes
Dawn of the Planet of the Apes

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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