Divagações: Hunt for the Wilderpeople

Quando você ouve que um filme é um grande sucesso na Nova Zelândia, bom, isso não exatamente representa algo grandioso. Mesmo assim, é sem...

Quando você ouve que um filme é um grande sucesso na Nova Zelândia, bom, isso não exatamente representa algo grandioso. Mesmo assim, é sempre interessante observar as produções que chamam atenção em seus países de origem, afinal, não é sempre que temos contato com alguma produção de fora dos Estados Unidos ou da Europa (convenhamos, nem mesmo com os filmes brasileiros). Para completar, Hunt for the Wilderpeople é dirigido e escrito por Taika Waititi, que se tornou um nome importante internacionalmente.

A história é digna de uma aventura da Sessão da Tarde e não é só isso. A loucura que acompanha todos os momentos do filme realmente me lembra dos bons momentos da minha infância. Ou seja, esse é um filme que bebe fortemente daquelas tramas sem pé nem cabeça onde tudo pode acontecer, quase como se a história realmente tivesse surgido da cabeça inocente e impressionável de uma criança.

Ricky (Julian Dennison) é um menino órfão problemático que nunca se adapta às famílias que o recebem. Agora, ele recebeu seu ultimato do governo: essa é sua última chance antes de ir para um orfanato. E, embora ele não goste muito da ideia de viver em uma fazenda isolada, Bella (Rima Te Wiata) o recebe de braços abertos e tudo parece que vai dar certo – ele até ganha um cobertor e um cachorro! O único problema é o marido dela, Hec (Sam Neill), que não parece ir muito com a cara do garoto.

Depois de um acontecimento terrível, Ricky acredita que a ameaça do orfanato pode se concretizar e decide fugir pela mata selvagem da Nova Zelândia. Contudo, não apenas Hec decide o seguir, como um conjunto de mal-entendidos vem na esteira dos dois. Para completar, uma determinada assistente social, Paula (Rachel House), mobiliza o governo a iniciar uma verdadeira caçada aos dois.

Para funcionar com uma história tão simples, Hunt for the Wilderpeople se apoia principalmente em colocar seus personagens em situações absurdas e em observar as reações deles. Basicamente, o filme traz Taika Waititi fazendo o que sabe fazer melhor e em seu habitat natural. Nem parece que ele está trabalhando com a adaptação de um livro (Wild Pork and Watercress, de Barry Crump).

Sam Neill segura as pontas e mantém a credibilidade da história (dentro do possível) ao bancar o velho sério e durão que sabe o que está fazendo. Ele também dá uma lição de humildade ao abrir espaço para Julian Dennison brilhar como a verdadeira estrela do filme. O menino se aproveita disso e entrega caras e bocas exageradas que funcionam por si só como parte da comédia. O elenco de apoio segue as deixas dos dois, mas a verdade é que todos os demais são apenas ‘participações especiais’ no contexto. O filme é realmente sobre a jornada de um velho e um menino rumo a uma estranha amizade.

Assim, de repente, as áreas verdes da Nova Zelândia se transformam naquele quintal da sua infância onde você viveu todo o tipo de histórias fantásticas. Por mais que Hunt for the Wilderpeople tenha várias semelhanças com a história de Up!, o filme se distancia bastante da animação por causa de seu tom, que nunca apela para qualquer dramaticidade mais profunda, embora ele não seja de forma alguma raso e tenha uma humanidade comovente.

A ideia da produção é levar o público a acompanhar a correria, rir dos absurdos e torcer pelos personagens, mesmo sem entender como aquilo tudo pode dar certo no final (vai, não vai?). Ao mesmo tempo, as relações entre as pessoas e a posição das instituições deixam claro que os ‘errados’ podem não ser os dois malucos em fuga pela floresta, mas o resto do mundo. Mesmo sem ser um conto de fadas, Hunt for the Wilderpeople funciona maravilhosamente bem como um.

Outras divagações:
What We Do in the Shadows
Thor: Ragnarok

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