Divagações: O Grande Circo Místico
19.12.18
Não é todo dia que um filme dirigido por Carlos Diegues chega aos cinemas – essa é a primeira vez desde 2006, para falar a verdade. Porém, mesmo assim, O Grande Circo Místico passou praticamente despercebido pelos cinemas, com poucas salas e quase nenhum público (na minha sessão, por exemplo, estávamos só eu e meu namorado). Nem mesmo uma eventual curiosidade com a produção escolhida como representante do Brasil no Oscar conseguiu melhorar as coisas.
O problema, é claro, tem muitas facetas. Um desinteresse histórico pelo cinema nacional, os constantes imbróglios para a captação de recurso, dificuldades de distribuição, entre outros. E, nesse caso, a própria natureza da produção também entra na conta, já que esse não é um filme que naturalmente atrairia um grande público – mesmo com esse título. Afinal, trata-se de uma experimentação narrativa um tanto quanto pessoal, um “filme de arte”.
O Grande Circo Místico conta a história de uma família ao longo de várias gerações, todas elas marcadas por suas próprias tragédias. Tudo começa com o jovem médico Fred (Rafael Lozano) que, ainda recém-formado, descobre a verdade sobre suas origens. Quando recebe a oportunidade de fazer um pedido para sua madrinha (Catherine Mouchet), ele escolhe um circo com o objetivo de poder empregar sua amada, Beatriz (Bruna Linzmeyer).
À frente do circo, os herdeiros do casal vão acompanhando a decadência do próprio negócio e da família – tudo sob o olhar atento do assistente de picadeiro Celavi (Jesuíta Barbosa). Charlotte (Marina Provenzzano) não sabe bem o que quer e acaba dependendo demais do marido, o mágico Jean-Paul (Vincent Cassel). Oto (Juliano Cazarré) tem uma estranha obsessão pela irmã (Flora Diegues). Margarete (Mariana Ximenes) é ressentida por não poder seguir sua verdadeira vocação. E as gêmeas Maria e Helena (Amanda e Louise Britto) parecem não levar nada a sério.
Aproveitando-se da própria linguagem do circo e da relação entre esse tipo de apresentação e o imaginário popular, Carlos Diegues tenta criar sua própria versão de um realismo mágico. Contudo, o decorrer da história cria uma estranha expectativa pela inevitável tragédia, o que atrapalha um pouco o efeito. Além disso, a constante sucessão de personagens – cada vez mais irreais e distantes – também afasta o espectador, com a produção parecendo bem mais longa que seus meros 105 minutos.
Mesmo assim, não se pode negar de que há algo de especial em O Grande Circo Místico. No primeiro terço do filme, a linguagem adotada (propositalmente exagerada) e todo o esplendor do espetáculo produzem um efeito bastante curioso. Se a história fosse diferente e se concentrasse em Fred e Beatriz, por exemplo, o resultado final poderia ser bem mais animador – ainda assim, de nada adianta fazer esse tipo de conjectura.
Além disso, a trilha sonora – assinada por Chico Buarque e Edu Lobo – também ajuda, tanto para a mágica quanto para a sensação de estranhamento. Há uma variedade de sentimentos sendo transmitida e é abundante o uso de canções com letra, algo que não se vê comumente no cinema estadunidense. Para completar, ela é tão inerentemente brasileira que, até mesmo quando temos uma dançarina do ventre na tela, o ritmo é indiscutivelmente nacional.
Com isso, O Grande Circo Místico não é exatamente fácil de assistir, mas acredito que esse nunca foi o objetivo. A produção exige um comprometimento do público e mais de uma camada de interpretação, entregando algo tão bonito e cativante quanto confuso, tão precioso e atemporal quanto absolutamente perdido, especialmente em multiplexes dedicados a filmes de super-heróis.
A produção dificilmente ganhará um espaço na cerimônia do Oscar. Mesmo assim, eu espero sinceramente que ela seja respeitada e tenha futuras exibições pelo país, nem que restritas ao público universitário ou a cinemas ‘alternativos’.
O problema, é claro, tem muitas facetas. Um desinteresse histórico pelo cinema nacional, os constantes imbróglios para a captação de recurso, dificuldades de distribuição, entre outros. E, nesse caso, a própria natureza da produção também entra na conta, já que esse não é um filme que naturalmente atrairia um grande público – mesmo com esse título. Afinal, trata-se de uma experimentação narrativa um tanto quanto pessoal, um “filme de arte”.
O Grande Circo Místico conta a história de uma família ao longo de várias gerações, todas elas marcadas por suas próprias tragédias. Tudo começa com o jovem médico Fred (Rafael Lozano) que, ainda recém-formado, descobre a verdade sobre suas origens. Quando recebe a oportunidade de fazer um pedido para sua madrinha (Catherine Mouchet), ele escolhe um circo com o objetivo de poder empregar sua amada, Beatriz (Bruna Linzmeyer).
À frente do circo, os herdeiros do casal vão acompanhando a decadência do próprio negócio e da família – tudo sob o olhar atento do assistente de picadeiro Celavi (Jesuíta Barbosa). Charlotte (Marina Provenzzano) não sabe bem o que quer e acaba dependendo demais do marido, o mágico Jean-Paul (Vincent Cassel). Oto (Juliano Cazarré) tem uma estranha obsessão pela irmã (Flora Diegues). Margarete (Mariana Ximenes) é ressentida por não poder seguir sua verdadeira vocação. E as gêmeas Maria e Helena (Amanda e Louise Britto) parecem não levar nada a sério.
Aproveitando-se da própria linguagem do circo e da relação entre esse tipo de apresentação e o imaginário popular, Carlos Diegues tenta criar sua própria versão de um realismo mágico. Contudo, o decorrer da história cria uma estranha expectativa pela inevitável tragédia, o que atrapalha um pouco o efeito. Além disso, a constante sucessão de personagens – cada vez mais irreais e distantes – também afasta o espectador, com a produção parecendo bem mais longa que seus meros 105 minutos.
Mesmo assim, não se pode negar de que há algo de especial em O Grande Circo Místico. No primeiro terço do filme, a linguagem adotada (propositalmente exagerada) e todo o esplendor do espetáculo produzem um efeito bastante curioso. Se a história fosse diferente e se concentrasse em Fred e Beatriz, por exemplo, o resultado final poderia ser bem mais animador – ainda assim, de nada adianta fazer esse tipo de conjectura.
Além disso, a trilha sonora – assinada por Chico Buarque e Edu Lobo – também ajuda, tanto para a mágica quanto para a sensação de estranhamento. Há uma variedade de sentimentos sendo transmitida e é abundante o uso de canções com letra, algo que não se vê comumente no cinema estadunidense. Para completar, ela é tão inerentemente brasileira que, até mesmo quando temos uma dançarina do ventre na tela, o ritmo é indiscutivelmente nacional.
Com isso, O Grande Circo Místico não é exatamente fácil de assistir, mas acredito que esse nunca foi o objetivo. A produção exige um comprometimento do público e mais de uma camada de interpretação, entregando algo tão bonito e cativante quanto confuso, tão precioso e atemporal quanto absolutamente perdido, especialmente em multiplexes dedicados a filmes de super-heróis.
A produção dificilmente ganhará um espaço na cerimônia do Oscar. Mesmo assim, eu espero sinceramente que ela seja respeitada e tenha futuras exibições pelo país, nem que restritas ao público universitário ou a cinemas ‘alternativos’.
0 recados