Divagações: To All the Boys I've Loved Before

Todo mundo teve paixonites irrealizáveis ao longo da vida, especialmente na adolescência. Muita gente fantasiou diversos “e se” e suponho ...

Todo mundo teve paixonites irrealizáveis ao longo da vida, especialmente na adolescência. Muita gente fantasiou diversos “e se” e suponho que várias pessoas tenham um carinho especial que talvez não seja nem exatamente direcionado a alguém, mas àquela época da vida quando o “amor” ia e vinha com certa facilidade, sem muitas consequências (ainda que, às vezes, tenha surgido um bocado de dramas internos). Eu, pelo menos, vivi tudo isso e é por isso que dei uma colher de chá para To All the Boys I've Loved Before.

O filme, vamos ser sinceros, é um romance adolescente bem singelo e inocente, daqueles que não foca nem no humor e nem no dramalhão e pode ser facilmente esquecido. Mas é preciso admitir que ele tem algumas características que o tornam especial.

Lara Jean (Lana Condor) é uma menina órfã de mãe, que mora com o pai e duas irmãs. A mais velha (Janel Parrish) está de mudança para ir estudar em uma faculdade fora do país, enquanto a mais nova (Anna Cathcart) ainda é uma pirralha. Lara Jean, por sua vez, é uma menina quieta e tímida, que gosta de viver em seu próprio mundinho e que, por algum motivo, escreveu cartas para as cinco paixonites que já teve na vida – uma premissa baseada em fatos vividos pela autora da história original, Jenny Han.

Assim, quando essas cartas são enviadas sem o consentimento de Lara Jean, ela tem seus segredos mais íntimos revelados justamente para quem não deveriam. No total, são cinco cartas. Uma está com o endereço desatualizado e outra fica sem resposta. A terceira é para Lucas (Trezzo Mahoro), que a chamou para dançar em uma festinha muitos anos antes, é assumidamente gay e acaba aproveitando a ocasião para criar uma amizade entre eles.

Mas o problema maior são as duas cartas que restaram. Peter (Noah Centineo), de quem ela gostava na 7ª série, agora namora a menina mais popular da escola, Gen (Emilija Baranac). Já Josh (Israel Broussard) é seu melhor amigo e ex-namorado de sua irmã – e ainda existem sentimentos da parte dela.

A vantagem é que Lara Jean é extremamente prática e, se possível, sempre opta por abrir o jogo – exceto com Josh, pois a situação nesse caso é realmente delicada. Assim, quando o namoro de Peter acaba, o rapaz propõe que eles vivam um relacionamento de mentirinha com o objetivo de evitar Josh e criar ciúmes em Gen. A princípio, a ideia parece boa e, com a convivência, os dois realmente se tornam amigos. Mas é claro que há consequências.

Ou seja, a história de To All the Boys I've Loved Before se baseia em um recurso já visto inúmeras vezes antes e não é difícil imaginar o que vai acontecer – mas ela é fofa mesmo assim. E eu dou alguns pontos para a protagonista, que se comporta como uma menina de verdade e encara as coisas com a cabeça no lugar. Ela tem um senso de humor apurado e não se posiciona de forma insegura frente ao mundo, sabendo levar o relacionamento com firmeza e sem se deslumbrar. Nesse ponto, a escalação de Lana Condor também merece elogios, já que ela consegue balancear inocência com esperteza, em uma personagem simultaneamente sonhadora e pé no chão.

Além disso, não é à toa que os meninos do filme tenham virado assunto de discussão nas redes sociais logo que a produção foi lançada pela Netflix (que, aliás, tem apostado fortemente nos romances adolescentes). Por mais que o comportamento de Peter e Josh não esteja lá muito próximo do que eu tenha visto em garotos de Ensino Médio, os dois trazem – em um conflito de personalidades – questionamentos sobre o que se deve esperar da outra pessoa em um relacionamento. Sem dar muitos detalhes sobre o filme, já adianto que isso envolve uma boa dose de amizade e companheirismo.

Assim, embora To All the Boys I've Loved Before seja um romance adolescente que não acrescenta muito ao gênero, o longa-metragem merece certa atenção. Afinal, ele foi devidamente atualizado para as meninas sonhadoras de hoje em dia – inclusive com a presença de mulheres na direção, com Susan Johnson, e no roteiro, com Sofia Alvarez. A minha versão de 14 anos agradece.

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