Divagações: Captain Marvel

Está ficando cada vez mais difícil escrever sobre filmes de super-heróis. No começo, as questões que envolviam essas produções eram relaci...

Está ficando cada vez mais difícil escrever sobre filmes de super-heróis. No começo, as questões que envolviam essas produções eram relacionadas a aspectos como fidelidade aos quadrinhos, ritmo frenético, vilões absurdos e problemas das narrativas estrambólicas.

Todos esses, na verdade, continuam sendo dilemas válidos – e são pontos a serem considerados, para o bem ou para o mal, em Captain Marvel. Porém, o universo cinematográfico da Marvel ultrapassou a marca de 10 anos com um sucesso atrás do outro, de modo que as responsabilidades foram se multiplicando na mesma velocidade que o número de fãs. E lidar com esse tipo de expectativa é complicado.

Captain Marvel surge nesse contexto e (como acontece com qualquer novo herói) traz seus próprios desafios. Além de ser a primeira heroína da Marvel a receber um filme só dela, a história precisa se encaixar entre Avengers: Infinity War e Avengers: Endgame ao mesmo tempo em que busca por seu brilho único.

Isso foi, em parte, resolvido com a trama se deslocando para os anos 1990 – ou quase isso. Vers (Brie Larson) é uma guerreira do planeta Hala que está se preparando para sua primeira missão com a ajuda de Yon-Rogg (Jude Law). Ela é bastante impulsiva, o que não é exatamente bem visto pela Inteligência Suprema (Annette Bening), e se sente um tanto quanto deslocada, já que não lembra de nada de seu passado. O mistério que a cerca, entretanto, começa a ser desvendado de uma maneira inesperada, quando ela cai no planeta C-53, também conhecido como Terra, e faz amizade com um jovem Nick Fury (Samuel L. Jackson).

Só com essa sinopse talvez já dê para notar que há um quê de rocambolesco na trama, algo devidamente acompanhado por um visual exagerado e, suponho, bastante divertido para quem curte quadrinhos – em resumo, Captain Marvel não esconde suas origens. Quem curte filmes e séries de ação ou aventura no espaço também deve mergulhar com facilidade nesse universo.

Mas há um porém nisso tudo. O filme se passa nos anos 1990 e, embora não carregue demais nos clichês, também soa como uma produção desta década. Talvez isso tenha sido intencional, mas não deve cair bem para muita gente. Os alívios cômicos são bem estabelecidos, a principal reviravolta acontece um pouco antes do que estamos acostumados, as cenas de ação parecem meio antiquadas e, bom, o desenvolvimento dos personagens não é lá essas coisas.

Obviamente, grande parte do problema fica resolvido quando o público embarca na nostalgia (a trilha sonora ajuda um bocado, inclusive). Mesmo assim, é preciso considerar que a protagonista enfrenta muitos dilemas, mas não há ninguém suficientemente poderoso para lutar com ela ou sequer desafiá-la.

Dessa forma, seu desenvolvimento como personagem depende apenas de uma estranha trajetória pessoal onde ela é, basicamente, inalcançável para os demais personagens – o que é estranho para um filme escrito e dirigido pela dupla Anna Boden e Ryan Fleck, ainda que seja perfeitamente compreensível no contexto. De qualquer forma, quando o filme termina, essa sensação é apenas elevada a uma nova potência.

Com isso, não é de se estranhar que Captain Marvel tenha confundido um pouco as pessoas que esperavam muita coisa do primeiro filme solo de uma heroína do estúdio. Ao mesmo tempo em que a produção levanta bandeiras feministas e sabe brincar com a percepção social de uma mulher poderosa (ainda mais nos anos 1990), a protagonista não é uma pessoa “identificável” como Peter Parker, carismática como Tony Stark, charmosamente correta como Steve Rogers ou misteriosamente leal e incrivelmente acrobática como Natasha Romanoff. Mas ela é rebelde, atrevida e está sempre teimosamente disposta a fazer o que acredita ser o correto. É quase como se aquela menina bonita e cheia de atitude do colégio tivesse virado uma super-heroína. Talvez você não acha que ela mereça (e, provavelmente, ela não mereça mesmo), porém, é o que aconteceu.

Eu sinceramente entendo quem tenha se decepcionado por conta das cenas de ação, afinal, muitas delas realmente deixaram a desejar (e, convenhamos, esse não é mesmo "o melhor filme da Marvel de todos os tempos"). Mas Captain Marvel é um filme de origem interessante, que não se rende às várias saídas fáceis para esse tipo de história e que abre caminho para todo um universo a ser explorado. É um blockbuster que sabe de suas responsabilidades, mas também quer fazer valer a pipoca.

Outras divagações:

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Ant-Man and the Wasp
Black Panther
Captain America: The First Avenger
Captain America: The Winter Soldier
Captain America: Civil War
Doctor Strange
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Guardians of the Galaxy Vol. 2
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