Divagações: Nomadland
21.4.21
No próximo domingo (25), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas deve divulgar quem são os ganhadores do Oscar 2021. A cerimônia deve acontecer apesar de uma série de dificuldades enfrentadas pela indústria do cinema no último ano, por conta da pandemia de covid-19. Com isso, a entrega das estatuetas acontece em um período diferente do habitual e algumas regras foram alteradas, fazendo com que a sensação geral seja de uma cerimônia estranha.
Ao mesmo tempo, um dos favoritos da noite é um filme que mereceria destaque de qualquer modo. Com direção de Chloé Zhao – que assina o texto ao lado de Jessica Bruder –, Nomadland é um filme que toca em temas atuais de uma forma bastante sensível. No domingo, ele concorre a seis prêmios, todos entre os principais da noite: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Atriz, Melhor Edição e Melhor Fotografia.
A história acompanha Fern (Frances McDormand), uma mulher viúva e sem filhos que precisou sair de sua casa após sua cidade ser evacuada devido ao fechamento da empresa que sustentava a economia local, na sequência da crise de 2008. Sendo ainda nova para se aposentar, mas já com uma certa idade, ela tem bastante dificuldade de encontrar um espaço no mercado de trabalho e acaba se mudando para uma van, que a ajuda a viajar pelo país, pulando de emprego temporário em emprego temporário.
Ao longo de sua jornada, Fern faz uma série de amigos, que a ensinam sobre rotas, a indicam para vagas, auxiliam na manutenção do carro e que são companheiros em uma série de apertos. Embora ela esteja sempre disposta a ajudar e ser ajudada por seus colegas de estrada, com quem desenvolve um forte senso de comunidade, o mesmo não pode ser dito em relação às pessoas que seguem com um teto firme sob suas cabeças.
Com uma natureza bastante contemplativa e um ar de road movie, Nomadland é um filme sobre solidão e reconstrução. A protagonista, apesar de estar em uma situação que faria muitos de nós sentir pena, mantém seu orgulho. Ela quer trabalhar, quer seguir em frente, quer se virar sem a caridade de ninguém. Querendo ou não, ela é um resultado do próprio meio que a abalou e a deixou neste estilo de vida precarizado – e ela sabe disso.
Uma questão interessante é que o filme não se concentra nas dificuldades ou no peso emocional desta situação. O foco é na estrada, no caminho a ser seguido, no próximo passo, nos amigos e nas conquistas. À medida que as sequências se desdobram, fica claro que a vida “sem casa, mas não sem lar” de Fern não é uma situação temporária, mas um novo estilo de vida, algo que funciona para ela e diversos de seus companheiros.
Inclusive, muitas das situações retratadas e dos personagens apresentados são pessoas reais. Em uma das cenas mais marcantes do filme, o escritor Bob Wells abre seu coração para falar sobre o luto que vive após a morte do filho, sem sequer saber que McDormand é uma atriz (ele havia aceitado participar do filme e sabia que Chloé Zhao queria criar uma história ficcional ao redor de pessoas reais).
Desta forma, Nomadland presta uma homenagem às pessoas que são corajosas o suficiente para encarar este estilo de vida nômade, sem minimizar as dificuldades ou enaltecer esta escolha. É um retrato de uma situação e de uma época, ambas ainda muito presentes.
Ao mesmo tempo, um dos favoritos da noite é um filme que mereceria destaque de qualquer modo. Com direção de Chloé Zhao – que assina o texto ao lado de Jessica Bruder –, Nomadland é um filme que toca em temas atuais de uma forma bastante sensível. No domingo, ele concorre a seis prêmios, todos entre os principais da noite: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Atriz, Melhor Edição e Melhor Fotografia.
A história acompanha Fern (Frances McDormand), uma mulher viúva e sem filhos que precisou sair de sua casa após sua cidade ser evacuada devido ao fechamento da empresa que sustentava a economia local, na sequência da crise de 2008. Sendo ainda nova para se aposentar, mas já com uma certa idade, ela tem bastante dificuldade de encontrar um espaço no mercado de trabalho e acaba se mudando para uma van, que a ajuda a viajar pelo país, pulando de emprego temporário em emprego temporário.
Ao longo de sua jornada, Fern faz uma série de amigos, que a ensinam sobre rotas, a indicam para vagas, auxiliam na manutenção do carro e que são companheiros em uma série de apertos. Embora ela esteja sempre disposta a ajudar e ser ajudada por seus colegas de estrada, com quem desenvolve um forte senso de comunidade, o mesmo não pode ser dito em relação às pessoas que seguem com um teto firme sob suas cabeças.
Com uma natureza bastante contemplativa e um ar de road movie, Nomadland é um filme sobre solidão e reconstrução. A protagonista, apesar de estar em uma situação que faria muitos de nós sentir pena, mantém seu orgulho. Ela quer trabalhar, quer seguir em frente, quer se virar sem a caridade de ninguém. Querendo ou não, ela é um resultado do próprio meio que a abalou e a deixou neste estilo de vida precarizado – e ela sabe disso.
Uma questão interessante é que o filme não se concentra nas dificuldades ou no peso emocional desta situação. O foco é na estrada, no caminho a ser seguido, no próximo passo, nos amigos e nas conquistas. À medida que as sequências se desdobram, fica claro que a vida “sem casa, mas não sem lar” de Fern não é uma situação temporária, mas um novo estilo de vida, algo que funciona para ela e diversos de seus companheiros.
Inclusive, muitas das situações retratadas e dos personagens apresentados são pessoas reais. Em uma das cenas mais marcantes do filme, o escritor Bob Wells abre seu coração para falar sobre o luto que vive após a morte do filho, sem sequer saber que McDormand é uma atriz (ele havia aceitado participar do filme e sabia que Chloé Zhao queria criar uma história ficcional ao redor de pessoas reais).
Desta forma, Nomadland presta uma homenagem às pessoas que são corajosas o suficiente para encarar este estilo de vida nômade, sem minimizar as dificuldades ou enaltecer esta escolha. É um retrato de uma situação e de uma época, ambas ainda muito presentes.
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