Divagações: Before Sunset
7.4.21
Enquanto muitas continuações tentam se segurar na fama das produções originais, aproveitar uma animação coletiva, fazer rios de dinheiro para o estúdio, entre outras questões relacionadas ao mundo capitalista em que vivemos, Before Sunset parece ter surgido unicamente da vontade de seus envolvidos em saber o que aconteceu com os personagens de Before Sunrise.
É óbvio que isto não é exatamente verdade, mas a questão é que há um apelo limitado na continuação de um filme romântico lançado nove anos antes e que teve um desempenho medíocre nas bilheterias. De maneira mais realista, suponho que o sinal verde para a produção seja derivado da capacidade de Ethan Hawke em atrair público, das obras posteriores de Richard Linklater e da base de pessoas que se afeiçoou ao original ao longo dos anos. Eu, é claro, é que não vou reclamar.
Before Sunset tem um objetivo complicado. Enquanto o primeiro filme trazia dois jovens esperançosos, este longa-metragem precisa reapresentar ao mundo dois adultos com a vida (ao menos) minimamente encaminhada – e mantê-los interessantes. Além disso, a produção precisa ecoar elementos narrativos da anterior, de modo a criar uma sensação de unidade e emprestar para si um pouco do carinho do público já conquistado. Para quem assiste, o filme é um reencontro; para quem está do outro lado da tela, também.
Nove anos após passarem a madrugada caminhando por Viena, Jesse (Ethan Hawke) e Céline (Julie Delpy) se reencontram em Paris. Ela mora na cidade e tem domínio sob as ruas, mas ele está apenas de passagem, lançando um livro, e precisa voltar naquele mesmo dia. Então, eles decidem passar o máximo de tempo possível colocando a conversa em dia, explicando como viveram os últimos anos, o que mudou e o que segue igual.
Sob certos aspectos, os protagonistas parecem continuar do mesmo ponto em que pararam no filme anterior. A abertura criada entre eles faz com que a conversa flua de maneira fácil, com intimidades e confidências sendo trocadas sem reservas. Ao mesmo tempo, o peso do tempo, do distanciamento e do que eles não viveram começa a se tornar um fardo difícil de carregar, gerando uma nova tensão entre eles. Ambos seguiram com suas vidas e estão em relacionamentos, mas o “e se” surge com força durante o reencontro.
Com estes novos elementos na mesa, Before Sunset cria um recomeço para este relacionamento. Quem viu o filme anterior sabe que os protagonistas não são exatamente feitos um para o outro, mas a dinâmica entre eles permite acreditar que eles seriam um casal interessante, do tipo que brigaria um bocado, mas que permaneceria junto para o que der e vier. Ou não. Talvez esta conversa pelas ruas de Paris simplesmente leve a um novo fim, já que a imaginação do que poderia ter sido sempre é mais promissora do que a realidade.
Com isso, já entrego que a dinâmica entre os dois personagens principais segue no mesmo tom, ainda que o aparente sucesso dele como escritor e o posicionamento mais ativo dela na sociedade os afastem um pouco daquele sentimento de que aquilo tudo poderia acontecer comigo ou com você. De qualquer modo, eles compartilham angústias e dão um pedaço de si ao outro, pois sabem que aquele é um espaço seguro – não mais por conta do desconhecido, mas porque já fizeram isso antes e foi uma boa experiência para ambos.
A seu modo, Before Sunset se torna interessante justamente por explorar pessoas que mudaram, mas seguem as mesmas em essência. Com roteiro do diretor e dos próprios atores (que não foram oficialmente creditados no anterior), este é um filme mais maduro e menos aventureiro, mas coloca muito mais em jogo. Exatamente como deveria ser.
Outras divagações:
Dazed and Confused
Before Sunrise
Boyhood
É óbvio que isto não é exatamente verdade, mas a questão é que há um apelo limitado na continuação de um filme romântico lançado nove anos antes e que teve um desempenho medíocre nas bilheterias. De maneira mais realista, suponho que o sinal verde para a produção seja derivado da capacidade de Ethan Hawke em atrair público, das obras posteriores de Richard Linklater e da base de pessoas que se afeiçoou ao original ao longo dos anos. Eu, é claro, é que não vou reclamar.
Before Sunset tem um objetivo complicado. Enquanto o primeiro filme trazia dois jovens esperançosos, este longa-metragem precisa reapresentar ao mundo dois adultos com a vida (ao menos) minimamente encaminhada – e mantê-los interessantes. Além disso, a produção precisa ecoar elementos narrativos da anterior, de modo a criar uma sensação de unidade e emprestar para si um pouco do carinho do público já conquistado. Para quem assiste, o filme é um reencontro; para quem está do outro lado da tela, também.
Nove anos após passarem a madrugada caminhando por Viena, Jesse (Ethan Hawke) e Céline (Julie Delpy) se reencontram em Paris. Ela mora na cidade e tem domínio sob as ruas, mas ele está apenas de passagem, lançando um livro, e precisa voltar naquele mesmo dia. Então, eles decidem passar o máximo de tempo possível colocando a conversa em dia, explicando como viveram os últimos anos, o que mudou e o que segue igual.
Sob certos aspectos, os protagonistas parecem continuar do mesmo ponto em que pararam no filme anterior. A abertura criada entre eles faz com que a conversa flua de maneira fácil, com intimidades e confidências sendo trocadas sem reservas. Ao mesmo tempo, o peso do tempo, do distanciamento e do que eles não viveram começa a se tornar um fardo difícil de carregar, gerando uma nova tensão entre eles. Ambos seguiram com suas vidas e estão em relacionamentos, mas o “e se” surge com força durante o reencontro.
Com estes novos elementos na mesa, Before Sunset cria um recomeço para este relacionamento. Quem viu o filme anterior sabe que os protagonistas não são exatamente feitos um para o outro, mas a dinâmica entre eles permite acreditar que eles seriam um casal interessante, do tipo que brigaria um bocado, mas que permaneceria junto para o que der e vier. Ou não. Talvez esta conversa pelas ruas de Paris simplesmente leve a um novo fim, já que a imaginação do que poderia ter sido sempre é mais promissora do que a realidade.
Com isso, já entrego que a dinâmica entre os dois personagens principais segue no mesmo tom, ainda que o aparente sucesso dele como escritor e o posicionamento mais ativo dela na sociedade os afastem um pouco daquele sentimento de que aquilo tudo poderia acontecer comigo ou com você. De qualquer modo, eles compartilham angústias e dão um pedaço de si ao outro, pois sabem que aquele é um espaço seguro – não mais por conta do desconhecido, mas porque já fizeram isso antes e foi uma boa experiência para ambos.
A seu modo, Before Sunset se torna interessante justamente por explorar pessoas que mudaram, mas seguem as mesmas em essência. Com roteiro do diretor e dos próprios atores (que não foram oficialmente creditados no anterior), este é um filme mais maduro e menos aventureiro, mas coloca muito mais em jogo. Exatamente como deveria ser.
Outras divagações:
Dazed and Confused
Before Sunrise
Boyhood
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