Divagações: Speed Racer

É estranho como um filme rodeado de tantas expectativas e com a presença de grandes nomes pode acabar praticamente esquecido. Lançado em 2...

Speed Racer
É estranho como um filme rodeado de tantas expectativas e com a presença de grandes nomes pode acabar praticamente esquecido. Lançado em 2008, Speed Racer foi um fracasso de público e de crítica, o que era compreensível dado o aspecto esquisito da produção, repleta de cores e efeitos visuais exagerados (que não envelheceram lá muito bem).

Mas era de se esperar que alguns admiradores surgissem, nem que apenas pela assinatura das diretoras e roteiristas Lana e Lilly Wachowski. Porém, com um aspecto consideravelmente diferente do material original, o longa-metragem afastou fãs do anime. Com corridas cheias de acrobacias malucas e ênfase em batidas, também não atraiu entusiastas do automobilismo. E, com um fiapo de história, encontrou dificuldades em atrair novos públicos.

Ainda assim, não consigo deixar de achar que há alguma injustiça – mas admito que sou “suspeita” para falar da produção, já que criei vínculos emocionais com ela. Speed Racer possui corridas malucas e sem um pingo de realismo, cativantes justamente pelo absurdo. O visual colorido e as transições de cena constrangedoras também têm seu charme, lembrando mais um desenho animado que um filme com atores reais. É realmente algo que não vemos por aí.

Por sua vez, a trama é fácil de acompanhar. Desde criança, Speed Racer (Emile Hirsch) é apaixonado por corridas de carro, o que faz todo sentido, já que seu pai (John Goodman) monta este tipo de veículo e seu irmão mais velho, Rex (Scott Porter), é um piloto. A família, contudo, é marcada quando Rex opta por outra escuderia e, posteriormente, sofre um acidente fatal.

Já adulto, Speed começa a se destacar como piloto, para deleite também de sua namorada Trixie (Christina Ricci); de sua mãe (Susan Sarandon); de seu irmão caçula Spritle (Paulie Litt), que sempre está acompanhado de um macaco; e até do mecânico Sparky (Kick Gurry). Todos estão sempre juntos e vivem em uma divertida harmonia; uma família amorosa digna de comerciais de margarina.

O sucesso, entretanto, atrai a atenção do empresário Royalton (Roger Allam), que enxerga as corridas como uma mistura de grande evento de marketing e uma ferramenta de especulação financeira – e a presença de um bom piloto independente pode atrapalhar seus planos. Para enfrentar esta ameaça, Speed une-se ao misterioso piloto X (Matthew Fox) e resolve participar da perigosa prova que custou a vida de seu irmão.

Com isso, Speed Racer tem como vilão o próprio capitalismo e, por mais que os personagens lutem contra um esquema mafioso que determina os resultados das corridas, a verdade é que suas ações não resolvem a causa do problema. É uma aventura válida, mas o protagonista funciona como um coadjuvante dentro de algo que ele mesmo não compreende muito bem (e nem parece ter interesse).

Para completar, é bem difícil embarcar em uma visão inocente e “artística” de uma competição desse nível, já que estamos acostumados com eventos esportivos sendo realmente um apanhado de jogadas de marketing. Fora que a falta de consequências para os desastres das pistas é difícil de engolir, além de tornarem a coisa toda menos arriscada, diminuindo a “recompensa emocional”.

Desta forma, Speed Racer reúne uma enorme quantidade de boas ideias para um filme infantil, mas falha em comunicar que este era seu real público-alvo. Ao direcionar tudo isso, sem muito critério, para uma faixa etária um pouco maior do que deveria, o resultado simplesmente não convence e gera uma sensação de constrangimento para todos os envolvidos. É um longa-metragem legal e divertido, mas estranhamente deslocado.

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