Divagações: The Imaginarium of Doctor Parnassus

Terry Gilliam é aquele cara que faz um pouco de tudo: atua, dirige, escreve, produz, anima, compõe. O detalhe é que, assim, ele pode pas...

Terry Gilliam é aquele cara que faz um pouco de tudo: atua, dirige, escreve, produz, anima, compõe. O detalhe é que, assim, ele pode passar longos períodos sumido, enquanto se envolve com projetos que acabam não dando certo ou devido a própria lentidão envolvida em levar um filme da ideia às telas. The Imaginarium of Doctor Parnassus, por exemplo, veio depois de um recesso de quatro anos. Isso é ruim porque ele sempre está envolvido com bons filmes, mas, ao mesmo tempo, não se pode exigir produção industrial de um artista. A propósito, nesse filme ele "apenas" escreveu o roteiro, dirigiu e produziu.

O filme conta a história de um grupo de pessoas. Doctor Parnassus (Christopher Plummer) é um contador de histórias imortal que conseguiu essa façanha/maldição depois de ganhar uma aposta contra Mr. Nick (Tom Waits), também conhecido como Diabo. Ele vive fazendo espetáculos com seus poderes mágicos ao lado de sua filha Valentina (Lily Cole), de um rapaz apaixonado por ela, chamado Anton (Andrew Garfield), e do anão Percy (Verne Troyer). Para completar, a apresentação inclui um espelho mágico, capaz de transformar a imaginação das pessoas em realidade. O problema é que, ao entrar no espelho, a pessoa acaba se defrontando com uma escolha – que pode custar a sua alma. Assim, há mais de mil anos, Parnassus e Nick vêm competindo, em uma mistura de brincadeira e vício.

Ao mesmo tempo, Tony (Heath Ledger) é um jovem filantropo encontrado pela trupe em uma situação bastante estranha: enforcado debaixo de uma ponte. Ele sobrevive devido a uma flauta presa em sua garganta e, de alguma forma, sua presença ajuda o grupo. Afinal, a mais recente aposta pode custar a própria Valentina, que está prestes a completar 16 anos.

Como Heath Ledger faleceu antes da conclusão do filme foi utilizado um artifício para seu personagem. Nas cenas dentro do espelho, outros atores assumem o papel. Johnny Depp faz o sedutor, Jude Law vive o sucesso e a queda profissional e Colin Farrell (provavelmente o mais fraco dos três) traz as maravilhas e as desgraças da fama. Essas constantes mudanças, no entanto, não atrapalham o filme de maneira alguma. Devido a própria personalidade do personagem, as mudanças são até bem justificadas.

Uma das mais agradáveis surpresas do ano passado, The Imaginarium of Doctor Parnassus reúne um elenco incrível com destaque para Andrew Garfield, no papel que alavancou sua carreira antes mesmo de The Social Network. Aliás, um dos destaques do filme é como ele lida de forma equilibrada com as diferentes idades, mostrando as preocupações e a maneira de cada um lidar com seus problemas, respeitando atores e personagens igualmente.

Por se tratar de uma grande fantasia, no entanto, não são todos que vão embarcar no clima do filme. O visual é exagerado (mas lindo), os personagens secundários são caricatos e os próprios rumos da história não seguem o caminho óbvio que se poderia esperar. O destino de cada personagem, ainda assim, é uma consequência direta das escolhas que ele faz. Dessa forma, não se pode definir exatamente uma “moral” para a história, exatamente como não é possível definir qual foi a grande lição que você aprendeu na sua vida. Afinal, é possível extrair muita coisa (ou nada, depende de você).

The Imaginarium of Doctor Parnassus é uma pérola rara no cinema ligeiro e sem imaginação que costumamos encontrar – ainda bem que existem aqueles que sabem cultivar essas belezas para que nós, os apreciadores, possamos nos deliciar. 

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1 recados

  1. Gostei bastante do filme e principalmente como colocaram os atores no lugar de Ledger. Enfim, já estou precisando rever o filme =)

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