Divagações: O Palhaço
18.11.11
Essa
semana, o Cinema de Novo está cheio de filmes nacionais. Depois de divagar
sobre Os 3, chegou a vez de O Palhaço. Enquanto o outro traz uma boa dose de
experimentação e novos rostos, esse filme está cheio de atores conhecidos – e se
aproveita disso para garantir certas reações do público. Além disso, um pouco
de experiência a mais não faz mal a ninguém.
O Palhaço conta a história de Benjamim (Selton Mello), também
conhecido como Palhaço Pangaré. Ele atua ao lado de seu pai, Valdemar (Paulo José), o Palhaço Puro Sangue, que é o dono do circo. No entanto,
devido à idade de Valdemar – e seu encanto pela bela Lola (Giselle Motta)
– grande parte das responsabilidades administrativas caem no colo de Benjamim,
que, aos poucos, se torna um palhaço triste. As confusões em que a trupe se
mete e as necessidades do dia a dia acabam colaborando para o quadro, até que
ele fica doente e decide mudar de vida.
Dessa
forma, o filme aponta vantagens e desvantagens da vida na estrada, de se ter
seu próprio negócio e de ser empregado. Cada aspecto tem seu charme e as obsessões
do protagonista por coisas como ventiladores e sutiãs, por exemplo, podem
encontrar correspondentes em muitos de nossos pequenos dramas cotidianos. As
dúvidas de Benjamim também fazem parte da vida, afinal, abandonar uma carreira que
estava caminhando razoavelmente bem até então não é fácil – ainda mais quando
seu pai é seu mestre e colega de palco. Os amigos, obviamente, estão sempre por
perto, seja para fazer rir ou para oferecer um ombro. No circo, cada um acaba
fazendo isso do seu jeito, com destaque para Dona Zaira (Teuda Bara) e para a
expressiva Guilhermina
(Larissa Manoela), que enxerga a tudo como só os olhos de criança
podem fazer.
Pessoalmente,
a figura do palhaço triste não me atrai. Ela é muito mais óbvia e fácil
dramaticamente do que a do palhaço que permanece feliz fora do picadeiro. Ainda
assim, Selton Mello,
que também dirige o filme e faz parte da equipe de roteiro e montagem, consegue
lidar bem com isso e monta seu personagem camada por camada. A trajetória é um
sonho, um projeto de vida disfarçado de objetivos reais, como a chegada em
Passos, Minas Gerais – não por acaso, a terra natal de Selton Mello (e onde ele
encontra Aldo, interpretado por Danton Mello).
Aliás, prepare-se para uma
verdadeira caça às figurinhas carimbadas. Além de Danton, também fazem ‘pontas
de luxo’ atores como Jackson Antunes, Moacyr Franco, Tonico Pereira, Ferrugem e Fabiana Karla. Sempre em momentos engraçados, eles são as ‘pessoas normais’ que
trazem situações absurdas para o pessoal do circo. Inclusive, esse é um recurso
bastante interessante. Afinal, embora a trupe ganhe dinheiro para fazer os
outros rirem, as incoerências da ‘vida real’ conseguem ganhar das trapalhadas
no palco.
Além disso, a iluminação e a ambientação
também ajudam a contar a história. Embora tente ser atemporal, o filme é passado
em uma época onde as placas dos carros eram amarelas e a moeda corrente ainda não
era o real. Em O Palhaço, a ideia do circo está intimamente ligada com a
nostalgia. As paisagens do interior, filmadas em pequenas cidades de Minas
Gerais e São Paulo, somadas aos tons levemente amarelados, ajudam nessa impressão,
que não escondem que o circo faz parte de uma cultura em extinção.
Será?
Outro dia eu fui a um circo de verdade. Lá, havia mais adultos que crianças,
mas ainda tinha espaço para muita diversão (seguindo as normas do Corpo de Bombeiros, inclusive). Prestigie o cinema nacional e vá
assistir O Palhaço, que é bonito, poético e vale a pena. Mas, assim que puder,
vá até um circo e se divirta com um equilibrista em um monociclo e coisas
assim. Pode parecer estranho se você tem mais de oito anos, mas é legal também.
2 recados
Deixei pro DVD.
ResponderExcluirNão deixe! Acho que o filme vai perder muito impacto no sofá de casa... É aquele tipo de obra feita para o cinema.
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