Divagações: O Palhaço

Essa semana, o Cinema de Novo está cheio de filmes nacionais. Depois de divagar sobre Os 3 , chegou a vez de O Palhaço . Enquanto o outro...

Essa semana, o Cinema de Novo está cheio de filmes nacionais. Depois de divagar sobre Os 3, chegou a vez de O Palhaço. Enquanto o outro traz uma boa dose de experimentação e novos rostos, esse filme está cheio de atores conhecidos – e se aproveita disso para garantir certas reações do público. Além disso, um pouco de experiência a mais não faz mal a ninguém.

O Palhaço conta a história de Benjamim (Selton Mello), também conhecido como Palhaço Pangaré. Ele atua ao lado de seu pai, Valdemar (Paulo José), o Palhaço Puro Sangue, que é o dono do circo. No entanto, devido à idade de Valdemar – e seu encanto pela bela Lola (Giselle Motta) – grande parte das responsabilidades administrativas caem no colo de Benjamim, que, aos poucos, se torna um palhaço triste. As confusões em que a trupe se mete e as necessidades do dia a dia acabam colaborando para o quadro, até que ele fica doente e decide mudar de vida.

Dessa forma, o filme aponta vantagens e desvantagens da vida na estrada, de se ter seu próprio negócio e de ser empregado. Cada aspecto tem seu charme e as obsessões do protagonista por coisas como ventiladores e sutiãs, por exemplo, podem encontrar correspondentes em muitos de nossos pequenos dramas cotidianos. As dúvidas de Benjamim também fazem parte da vida, afinal, abandonar uma carreira que estava caminhando razoavelmente bem até então não é fácil – ainda mais quando seu pai é seu mestre e colega de palco. Os amigos, obviamente, estão sempre por perto, seja para fazer rir ou para oferecer um ombro. No circo, cada um acaba fazendo isso do seu jeito, com destaque para Dona Zaira (Teuda Bara) e para a expressiva Guilhermina (Larissa Manoela), que enxerga a tudo como só os olhos de criança podem fazer.

Pessoalmente, a figura do palhaço triste não me atrai. Ela é muito mais óbvia e fácil dramaticamente do que a do palhaço que permanece feliz fora do picadeiro. Ainda assim, Selton Mello, que também dirige o filme e faz parte da equipe de roteiro e montagem, consegue lidar bem com isso e monta seu personagem camada por camada. A trajetória é um sonho, um projeto de vida disfarçado de objetivos reais, como a chegada em Passos, Minas Gerais – não por acaso, a terra natal de Selton Mello (e onde ele encontra Aldo, interpretado por Danton Mello).

Aliás, prepare-se para uma verdadeira caça às figurinhas carimbadas. Além de Danton, também fazem ‘pontas de luxo’ atores como Jackson Antunes, Moacyr Franco, Tonico Pereira, Ferrugem e Fabiana Karla. Sempre em momentos engraçados, eles são as ‘pessoas normais’ que trazem situações absurdas para o pessoal do circo. Inclusive, esse é um recurso bastante interessante. Afinal, embora a trupe ganhe dinheiro para fazer os outros rirem, as incoerências da ‘vida real’ conseguem ganhar das trapalhadas no palco.

Além disso, a iluminação e a ambientação também ajudam a contar a história. Embora tente ser atemporal, o filme é passado em uma época onde as placas dos carros eram amarelas e a moeda corrente ainda não era o real. Em O Palhaço, a ideia do circo está intimamente ligada com a nostalgia. As paisagens do interior, filmadas em pequenas cidades de Minas Gerais e São Paulo, somadas aos tons levemente amarelados, ajudam nessa impressão, que não escondem que o circo faz parte de uma cultura em extinção.

Será? Outro dia eu fui a um circo de verdade. Lá, havia mais adultos que crianças, mas ainda tinha espaço para muita diversão (seguindo as normas do Corpo de Bombeiros, inclusive). Prestigie o cinema nacional e vá assistir O Palhaço, que é bonito, poético e vale a pena. Mas, assim que puder, vá até um circo e se divirta com um equilibrista em um monociclo e coisas assim. Pode parecer estranho se você tem mais de oito anos, mas é legal também.

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2 recados

  1. Não deixe! Acho que o filme vai perder muito impacto no sofá de casa... É aquele tipo de obra feita para o cinema.

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