Divagações: Midnight in Paris

Tem gente que ama e tem gente que odeia Woody Allen . Ainda assim, não podemos negar que cada novo filme do diretor traz uma surpresa e...

Tem gente que ama e tem gente que odeia Woody Allen. Ainda assim, não podemos negar que cada novo filme do diretor traz uma surpresa e se revelia algo absolutamente único, mesmo com essa quantidade absurda de projetos – já são quase 70 roteiros e 50 direções. Eu, pessoalmente, não gosto de tudo o que ele já fez, mas confesso apreciar a maior parte e admirar muito o conjunto da obra. Afinal, não é fácil ser, ao mesmo tempo, autoral e reconhecido.

Midnight in Paris, dessa forma, entra na minha lista de “filmes de Woody Allen que eu amo”, bem ao lado de The Purple Rose of Cairo, embora eu acredite que pouca gente goste desse título. O fato é que, para mim, os dois filmes estão relacionados por trazerem um ar fantástico ao cotidiano, dando aos personagens justamente o escapismo pelo qual eles estavam buscando. Quem não gostaria de viver algo assim?

Em Midnight in Paris, Gil (Owen Wilson) é um escritor estadunidense que está passeando por Paris com a noiva, Inez (Rachel McAdams), e os sogros. Lá, eles encontram um casal de amigos e Inez passa a sair com eles, enquanto Gil volta a trabalhar sem parar. A razão dessa inspiração súbita são os passeios que ele faz à meia-noite, quando um carro o busca e o leva diretamente para a Paris da década de 1920. Não é difícil entender o apelo que pode ter para ele uma sociedade com F. Scott Fitzgerald (Tom Hiddleston), Ernest Hemingway (Corey Stoll) e Gertrude Stein (Kathy Bates)! Essas idas e vindas no tempo, no entanto, acabam esclarecendo algumas coisas na mente de Gil, principalmente quando ele conhece Adriana (Marion Cotillard), a amante de Pablo Picasso (Marcial Di Fonzo Bo).

Aliás, é impossível falar desse filme sem comentar o elenco. Apesar da escolha questionável de Owen Wilson para o papel principal, ele está bem interpretando um adulto e não chega a incomodar. A presença de Carla Bruni, que foi tão falada na época em que seu nome se juntou ao elenco, é elegante como ela própria e serve apenas como um brinde para os mais atentos. Também estão no elenco Michael Sheen, como Paul, e Adrien Brody, que está hilário como Salvador Dalí.

Outro elemento importante, obviamente, é a cidade de Paris. Durante o dia, os turistas conhecem lugares reais, as figurinhas carimbadas dos cartões postais. No entanto, a cidade que vemos nos passeios noturnos parece completamente diferente. Os cenários com iluminação indireta e fraca garantem um ar charmoso, condizente com a época e, também, com a probabilidade de tudo não passar de um sonho. A Paris que Gil imagina – bucólica, poética, musical, mágica – acaba tomando o filme e se tornando muito mais interessante que a cidade real, sempre apresentada pelo ponto de vista do chato Paul. Dessa forma, a fantasia vai tomando conta e é difícil não se apaixonar por Paris, mesmo quando está chovendo.

O filme é, de uma maneira geral, bastante leve e exige do espectador apenas que ele se deixe levar (conhecer as figuras históricas é importante, mas não absolutamente necessário). Midnight in Paris conta a história de um escritor desorientado que encontra seu caminho ao entrar em sintonia com o passado. Ele aprende com seus ídolos e consegue tirar suas próprias conclusões, que resultam em uma excelente moral para a história. Válido para todos que estão procurando uma resposta criativa para seus problemas.

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2 recados

  1. Excelente descrição do filme. Estou com ele aqui em casa e penso ser uma boa pedida para este fim de semana.

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