Divagações: Puss in Boots

Há dez anos (mas já?), em uma terra muito distante estreava o primeiro filme da novata DreamWorks Animation , Shrek . Era uma história di...

Há dez anos (mas já?), em uma terra muito distante estreava o primeiro filme da novata DreamWorks Animation, Shrek. Era uma história divertida que ao mesmo tempo homenageava e gozava de muitos ícones e clichês da toda poderosa Disney. Com um humor muitas vezes politicamente incorreto – e um herói incomum – Shrek arrebatou o público e levou o Oscar de melhor animação para casa naquele ano, contra Monsters, Inc. da Pixar, sempre a grande favorita da premiação.

Passaram-se os anos e, conforme as continuações iam saindo, o espírito anárquico do primeiro filme foi sendo esquecido, assim como muito do potencial da franquia foi se perdendo. Tomando tudo isso em conta, minhas expectativas para ver Puss in Boots, produto derivado de uma série que já deu o que tinha que dar, era mínima.

Felizmente, eu acabei tendo uma grata surpresa, pois Puss in Boots guarda pouco do clima que permeava os últimos capítulos da série Shrek. Funcionando como um antecessor para os filmes do ogro esverdeado, temos na animação as origens do 'adorável' Puss in Boots (Antonio Banderas), o gato espadachim que vaga por um universo de conto de fadas (dessa vez muito mais ‘mexicanizado’). Na trama, ele procura uma maneira de limpar seu nome de um crime que não cometeu e, para isso, conta com a ajuda da gata ladra Kitty Softpaws (Salma Hayek) e de um antigo amigo de infância, Humpty Dumpty (Zach Galifianakis).

Essa narrativa centrada no personagem foi, sem dúvida alguma, um sopro de frescor na franquia. Com um clima hispânico – composto por ambientação, música e diálogos –, é até difícil lembrar do europeu manjado de Shrek. Com um personagem principal mais voltado à ação e não ao humor (apesar dos momentos cômicos involuntários, produzidos pelos comportamentos tipicamente felinos do nosso herói), o roteiro pode se desenvolver em volta de boas cenas de ação e perseguição, um produto escasso nas animações atuais.

Falando nisso, o 3D deste filme não decepciona, tendo a liberdade que só mesmo as animações parecem ter. As tomadas de perseguição e correria usam e abusam do efeito e, ao contrário da maioria dos lançamentos em três dimensões, fazem valer o ingresso.

Aqui cabe uma ressalva! Tive a oportunidade de ver o filme legendado em um cinema IMAX e, certamente, isso contou com alguns pontos a favor. Não sei até onde a dublagem consegue se manter fiel ao produto original ou até que ponto a qualidade visual é preservada fora dos circuitos 3D, mas se você tem a disponibilidade de ver o filme assim, bem próximo de sua concepção original, pode ter certeza de que não vai se arrepender.

Obviamente, Puss in Boots não se isenta de falhas e talvez a sua maior fraqueza se encontre na falta de um bom desenvolvimento da história e dos personagens. Apesar de começar de modo muito promissor, lá pela metade do filme já podemos perceber alguns sinais de cansaço, fazendo com que a história não progrida de forma tão interessante quanto poderíamos imaginar. O fato de os coadjuvantes não serem nem de longe tão interessantes quanto o próprio gato foi em sua obra originária, só colabora para essa situação.

No fim das contas, devo admitir que essa é uma alternativa bem mais recomendável para um fim de semana em família do que as obras mais recentes da DreamWorks, que já começavam a apostar somente no público mais jovem ao invés de oferecer entretenimento para vários estratos etários. Mesmo que não tenha resgatado todo o cinismo do primeiro Shrek, Puss in Boots agrada tanto crianças como adultos, sem subestimar a inteligência de ninguém e conseguido ser um filme muito divertido, apesar de algumas pequenas falhas de execução.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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