Divagações: The Woman in Black

“Harry!”, logo que o filme começa, uma voz feminina grita no fundo da sala de cinema. Nos próximos dez minutos, ela vai chorar copiosamen...

“Harry!”, logo que o filme começa, uma voz feminina grita no fundo da sala de cinema. Nos próximos dez minutos, ela vai chorar copiosamente e muito alto. Eu já esperaria por algo assim em uma sessão à meia-noite de algum filme da série Harry Potter. No entanto, o filme em questão é The Woman in Black e ele já havia estreado há mais de uma semana. Não importa o que aconteça, Daniel Radcliffe não vai conseguir se desvincilhar tão facilmente do personagem que interpretou durante dez anos – sem contar que The Woman in Black também não faz muito esforço nesse sentido.

Aliás, o filme parece estar contatando com os fãs de longa data de Daniel Radcliffe. Os ângulos de câmera e alguns cenários se parecem muito ao que já vimos em seus filmes anteriores e seu papel como protagonista absoluto, contracenando sozinho em boa parte das cenas, também não nos deixa esquecer de Harry Potter. A estratégia, obviamente, tem seu sentido e The Woman in Black está prestes a alcançar uma bilheteria de 90 milhões de dólares ao redor do mundo. Parece pouco? Comparado a Harry Potter, sim. Mas pense que Don’t Be Afraid of the Dark alcançou apenas 37 milhões.

O filme conta a história do jovem viúvo Arthur Kipps (Radcliffe), pai de um menino de quatro anos. Seu emprego em uma firma de advocacia está ameaçado e ele aceita viajar para reunir a papelada de uma senhora que faleceu. No vilarejo, no entanto, ele descobre a pouca receptividade da população local, que não vê a hora de se livrar dele. Aos poucos, então, ele percebe que grande parte das famílias perdeu seus filhos ainda crianças e, por alguma razão, isso parece estar relacionado com a mansão onde ele precisa ir trabalhar. O único na cidade que parece não acreditar nisso é Daily (Ciarán Hinds), mas ele também perdeu seu filho e sua mulher (Janet McTeer) acredita que pode entrar em contato com espíritos.

Baseado no livro de Susan Hill, que já havia sido filmado em 1989, The Woman in Black brinca com a ideia de uma velha mansão abandonada e escura – onde sempre é possível esconder algo nas sombras. De qualquer forma, eu tenho a tendência a achar que um filme assim é mais interessante que um monte de adolescentes sendo torturados e/ou mortos violentamente. Para quem gosta de ficar levando sustos, é uma boa pedida. Além disso, por ser passado no início do século XX, também há meninas assustadoras com peles brancas e vestidos de babadinhos, outra figura fácil (e quase sempre eficiente) do gênero.

A história, no entanto, não é complexa e não chega a existir muita tensão. Outro aspecto que deixa a desejar é a trilha sonora, que poderia ter garantido um impacto maior a algumas cenas. Com músicas fracas e efeitos idem, as cenas escuras e apenas com os barulhos de uma casa velha acabam sendo as melhores, de maneira que o filme caminha para um final sem graça. O espectador ainda poderá se surpreender com o que acontece, mas vai parar de se assustar tão facilmente.

No cinema, The Woman in Black ainda propicia uma boa experiência coletiva. Depois que a menina histérica parou de chorar, pude acompanhar pulos, gritos abafados, risadinhas adolescentes nervosas e namorados se fazendo de machões. Depois que sair em DVD, vai ser uma ótima opção para reunir amiguinhas medrosas à meia-noite e, depois, ir sonhar com um ator de olhos azuis.

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