Divagações: The Rescuers

Em 1977, quando The Rescuers foi lançado, a Disney não vivia sua melhor fase. Walt Disney havia morrido onze anos antes e o setor de a...

Em 1977, quando The Rescuers foi lançado, a Disney não vivia sua melhor fase. Walt Disney havia morrido onze anos antes e o setor de animação estava em crise dentro da companhia – desde The Jungle Book, em 1967, não se lançava nada na área. Após um período tão grande, o resultado também destoou daquilo que o público já conhecia.

Com um clima mais dramático e créditos de abertura acompanhados por pinturas de Melvin Shaw, The Rescuers era diferente em sua narrativa e em seu estilo de animação. Os cenários realmente parecem pinturas e o traço dos personagens tem um aspecto levemente inacabado. Talvez o orçamento estivesse comprometido, mas a verdade é que esse visual ‘consciente’ da técnica apresenta um charme próprio e garante uma identidade única ao filme dentro do universo Disney. A falta de retoques posteriores também era uma exigência de animadores como Milt Kahl, que sentia que isso desvalorizava seu trabalho (além disso, os artistas estavam testando algumas técnicas novas e melhorando as antigas, como a xerografia).

Passado na cidade de Nova York e na ilha fictícia Devil's Bayou, o filme conta a história do resgate da menina Penny (Michelle Stacy). Ela foi sequestrada por Madame Medusa (Geraldine Page) e seu sócio Mr. Snoops (Joe Flynn) que, nas noites de maré baixa, a fazem descer por um buraco até uma caverna onde um pirata escondeu um diamante. Assim, em resposta a carta que a menina jogou no mar em uma garrafa, dois ratos da Rescue Aid Society – localizada na sede das Nações Unidas –, são voluntários para salvá-la: a representante da Hungria, Miss Bianca (Eva Gabor) e o supersticioso zelador Bernard (Bob Newhart, que teve seu medo de voar passado para a tela).

Além do visual diferenciado, o filme também tem seu aspecto dramático acentuado pelas músicas. Ao contrário das animadas (ou românticas) canções entoadas pelos próprios personagens, em The Rescuers as músicas – cantadas por Shelby Flint – são tristes como a situação da menina sequestrada, mantendo sempre um leve tom esperançoso. A indicação ao Oscar de Someone's Waiting For You, a propósito, foi a última que uma animação da Disney recebeu até o lançamento de The Little Mermaid, doze anos depois.

Esse, no entanto, ainda é um filme infantil (mesmo que pequenos incidentes do passado apontem o contrário). O humor fica por conta das superstições de Bernard e de personagens secundários, como o albatroz Orville (Jim Jordan), atuante nas duas cenas do filme onde foi utilizado o famoso som Goofy Holler. Isso sem contar que os próprios vilões não são muito sérios. O estilo exagerado e cheio de cores fortes de Madame Medusa (acompanhado de um leve sotaque britânico) contradiz com todo o estilo do filme, mas deixa clara a sua personalidade canastra e nem um pouco leal. De certo modo, é como se ela fosse uma prima pobre de Cruella DeVil que, no início do desenvolvimento do filme, seria a vilã.

Baseado em dois livros de Margery Sharp, The Rescuers levantou a venda de toda a série de nove livros da escritora com os personagens Miss Bianca e Bernard. O filme também foi a primeira obra da Disney a inspirar uma continuação e bateu recordes de bilheteria em seu final de semana de estreia. Em alguns países europeus, como a França e a Alemanha, disputou – e ganhou – a preferência do público contra o grande sucesso daquele ano, Star Wars: Episode IV - A New Hope.

Sinceramente, tenho muito orgulho de dizer que esse era meu filme favorito quando criança. Provavelmente, The Rescuers é o filme que mais revi na vida. E eu nunca canso dele.

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