Divagações: Gonzaga - De Pai para Filho
30.10.12
Breno Silveira fez o que eu não imaginava que ele conseguiria e me surpreendeu. O diretor, conhecido majoritariamente por 2 Filhos de Francisco - A História de Zezé Di Camargo & Luciano e o fraco À Beira do Caminho, ensaiava mais uma repetição de sua formula de filmes biográficos de grandes ídolos de nossa musica, porém, o resultado final de Gonzaga - De Pai para Filho é bastante animador.
Em uma via de mão dupla, vemos as idas e vindas de Luiz Gonzaga (Land Vieira, Chambinho do Acordeon e Adelio Lima) e de seu filho Gonzaguinha (Alison Santos, Giancarlo Di Tomazzio e Júlio Andrade). Da infância à vida adulta, vemos como as escolhas do pai influenciaram e moldaram de modo severo a vida do filho. Dessa forma, junto com o público, Gonzaguinha finalmente se aproxima e conhece a história de seu pai, da sua infância no sertão à coroação como o Rei do Baião.
Quando digo que me surpreendi é porque não esperava nada muito além de um trabalho formulaico, que apelaria para um sentimentalismo sem sal. Não posso negar que Gonzaga - De Pai para Filho é um pouco melodramático e folhetinesco, uma armadilha fácil no cinema nacional, porém evita muito bem em descambar para os lugares comuns. Boa parte graças à variedade da trama e ao trabalho muito elogiável do seu elenco, que consegue explorar bem o ponto central do filme, o conflito familiar e a ausência de comunicação.
Aliás, o elenco talvez seja o grande ponto forte do filme. As atuações são bastante intensas e diversas, conseguindo lidar bem com a variedade de tons narrativos encontrados durante a trama. Entre os principais destaques estão Sílvia Buarque, como Dina, a mulher que cria Gonzaguinha; Nanda Costa, que interpretou Odaleia, a primeira mulher de Gonzaga; e Claudio Jaborandy, como Januario, o pai de Gonzaga.
Porém, sinto que faltou um pouco de experiência em alguns dos atores que, mesmo sendo competentes, não conseguiram exprimir bem todos os sentimentos, angustias e dúvidas dos personagens. Essas emoções, no final das contas, ficaram bem claras devido a um excesso lamentável de texto expositivo, uma vez que não conseguiam realmente transparecer em cena.
A fotografia também merece destaque, retratando muito bem tanto o sertão nordestino como a ‘aridez’ cinzenta dos ambientes urbanos. Dessa forma foi exposta ao público um pouco da visão do próprio Luiz Gonzaga, que tinha a estrada e o interior como uma forma de vida, enquanto a cidade representava um local opressivo. Na verdade, toda a parte técnica é competentíssima, como uma edição muito boa e capaz de mesclar a linguagem documental e a ficção. Como já era esperado, tudo é acompanhado de uma boa trilha sonora.
Gonzaga - De Pai para Filho é um filme polido e interessante. Apesar de não apresentar nenhum brilhantismo, vemos claramente que foi um produto pensado e trabalhado com esforço – e só por isso já merece respeito. Mesmo sofrendo com os problemas comuns da linguagem cinematográfica nacional, não consigo deixar de indicar este filme para aqueles que se interessam por nossa cultura e música ou para quem não se importa com um roteiro mais palatável.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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