Divagações: Skyfall

A entrada de Daniel Craig na franquia 007 representa, pelo menos para mim, uma esperada modernizada. A série parecia estar um passo atrá...

A entrada de Daniel Craig na franquia 007 representa, pelo menos para mim, uma esperada modernizada. A série parecia estar um passo atrás quando o assunto era ação e sofreu um pouco para alcançar os concorrentes, mas chegou lá com Casino Royale e ficou na mesma em Quantum of Solace. Assim, em Skyfall havia duas possibilidades: estacionar nesse ponto e esperar por uma nova chacoalhada ou aprender com o que passou e seguir em frente.

Felizmente, Sam Mendes resolveu colocar na tela aquilo que o público queria ver. Depois de um hiato de seis anos, o novo filme mostra que aprendeu com seus anteriores: James Bond é um personagem humanizado, que sofre e erra. Ao mesmo tempo, ele não perde a pose de um legítimo agente do serviço secreto britânico (nem quando pula dentro de um vagão de trem destruído).

A história de Skyfall começa com uma missão problemática em Istambul – a cidade preferida do criador do personagem, Ian Fleming –, onde James Bond (Daniel Craig) enfrenta o mercenário Patrice (Ola Rapace). Por um erro de sua companheira Eve (Naomie Harris) ele leva um tiro e cai de uma ponte. Enquanto se recupera ao lado de uma linda moça, M (Judi Dench) precisa lidar com um novo membro do governo, Gareth Mallory (Ralph Fiennes), ao mesmo tempo em que aparecem gigantescas falhas em seu próprio esquema de segurança. Quando Bond volta à ação, parte sem rumo certo em direção a Silva (Javier Bardem), aproveitando para conhecer a bela Sévérine (Bérénice Marlohe) no caminho.

Nessa trama bem montada estão presentes todos os elementos que não podem faltar em um filme da série, dando ao expectador o que ele espera ver – mulheres bonitas, frases clássicas, armas, bebidas e um vilão impactante – ao lado de novos elementos, capazes de manter a atenção e fazer valer o preço do ingresso (caso contrário, bastaria ir até a locadora). Como acontece com frequência no gênero, no entanto, acontecem algumas mancadas e o herói parece sempre ter certa vantagem estratégica sobre o vilão.

Essa possível falha é minimizada pelo carisma das novidades. Sem canetas explosivas, Skyfall diverte trazendo Q (Ben Whishaw) como um jovem hacker e tenta ganhar seriedade com o burocrata interpretado por Ralph Fiennes. Além disso, Javier Bardem – com o pior cabelo que ele já usou na vida – é um vilão poderoso e assustador. A falta de compromisso com os filmes anteriores também permite que a história construa seus próprios caminhos e se consolide como uma missão cumprida.

No final das contas, trata-se de um estranho equilíbrio. A ‘reimaginação’ da série em Casino Royale foi bem recebida a princípio, mas o resultado insatisfatório do segundo filme levou essa sequência para um segundo (e difícil) caminho. Voltando ao começo desse texto, “aprender com o que passou e seguir em frente”, nesse caso, significa também retomar o que deu certo no passado e fazer uma boa mistura. É assim que Skyfall consegue ser um bom filme de ação, sem perder ser charme inglês e ainda capaz de surpreender as plateias.


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