Divagações: Flight

Depois de passar algum tempo vagando por produções que não agradaram muito nem à crítica nem ao público, parece que Denzel Washington es...

Depois de passar algum tempo vagando por produções que não agradaram muito nem à crítica nem ao público, parece que Denzel Washington está voltando a sua antiga forma. Flight garantiu a ele diversas indicações – incluindo Screen Actors Guild, Globo de Ouro e Oscar –, embora isso não tenha resultado em nenhum prêmio até o momento. Só espero que essa volta não acabe decepcionando.

O filme, de qualquer modo, é dele. Mesmo atuando ao lado de grandes nomes como Don Cheadle, Bruce Greenwood e John Goodman, Washington é o centro das atenções. O público acompanha todos os movimentos de seu personagem, tentando conhecer aquela pessoa cativante e instigante, mas com algumas camadas desagradáveis.

A história acompanha o piloto de avião Whip Whitaker (Denzel Washington), que consegue salvar uma aeronave com problemas mecânicos de um grande desastre. No entanto, seis falecimentos e a questão de quem deve ser responsabilizado levam a uma investigação mais aprofundada sobre o acidente, quando se descobre que Whitaker estava alcoolizado e sob o efeito de drogas.

Ao lado do autodestrutivo protagonista estão o ex-piloto e amigo de longa data Charlie Anderson (Bruce Greenwood), o advogado Hugh Lang (Don Cheadle), sua nova namorada Nicole (Kelly Reilly), que está tentando se livrar das drogas, e o fornecedor Harling Mays (John Goodman). Pouco é mostrado do lado das famílias afetadas ou da própria investigação, exceto uma missa em homenagem à aeromoça Katerina Marquez (Nadine Velazquez), com quem Whitaker teve um envolvimento, e uma audiência.

Todo o dilema é bem explicado e a personalidade de Whitaker é mostrada aos poucos, garantindo a atenção do público a cada novo detalhe. Assim, por mais que o filme não tenha uma tensão crescente, certos momentos deixam o espectador sentado na ponta da poltrona. As sequências iniciais são excelentes, com óbvio destaque para o acidente em si.

Em alguns momentos, Flight desvia sua atenção para a personagem de Kelly Reilly, o que funciona narrativamente, ainda que ela seja de modo algum tão interessante quanto o protagonista. De qualquer forma, o diretor Robert Zemeckis consegue segurar bem as pontas e mostra que é perfeitamente capaz de lidar com uma temática tão séria quanto essa. Desde Cast Away ele estava dedicado às novas tecnologias de animação, mas esse retorno veio em um bom momento e com o filme certo.

Infelizmente, o filme acaba deixando muitos pontos em aberto e o final parece um pouco mal resolvido. Claro que seria complicado colocar ainda mais informações em um filme que já tem mais de duas horas, mas elas passam tão rápido que alguns minutos extras seriam bem vindos. Como o conjunto é bom, o roteirista John Gatins recebeu uma indicação ao Oscar por seu trabalho, mas as chances de vitória são baixas.

Para quem tem medo de voar, o começo de Flight pode ser um pouco assustador, mas o restante se passa livre de qualquer ação. Além disso, a produção do filme teve o cuidado de inventar um modelo de aeronave e uma companhia aérea, além de não focar em nenhum tipo de bebida ou droga específico. Assim, não há nenhum ‘culpado’ que pode ser encontrado no mundo real.

Embora não possa ser classificado exatamente como empolgante, um bom adjetivo seria envolvente. Flight é mais sobre o homem que sobre o acidente, a indústria, as companhias de seguro ou qualquer contexto político. Recomendo fortemente para quem gosta de histórias mais humanas e é capaz de acreditar no lado bom das pessoas.

RELACIONADOS

0 recados