Divagações: Oblivion

Quando falamos de cinema, acho que não existe um tema mais repleto de potencial para causar reflexão do que uma boa ficção cientifica.  N...

Quando falamos de cinema, acho que não existe um tema mais repleto de potencial para causar reflexão do que uma boa ficção cientifica.  Não digo isso por gostar do gênero, mas para mim é bem claro que o sci-fi talvez seja o terreno mais fértil para se questionar os limites da humanidade, discutir deuses e crenças, ideologias políticas e a própria natureza do ser. Porém, por mais que esse seja um cenário de potencial ilimitado, também é um dos mais complicados de se lidar, afinal, quantos filmes simplesmente caem no esquecimento por não entregarem aquele ‘algo a mais’ que se espera deles?

No caso de Oblivion, a direção de Joseph Kosinski seria um motivo tanto para temor quanto animação, já que o único trabalho anterior do diretor foi Tron: Legacy. Com esse novo filme, a promessa era de uma liberdade criativa para a realização de um cinema autoral. Tanto é que se trata da adaptação de uma graphic novel escrita pelo próprio Kosisnski, que provavelmente nunca será publicada, mas que demonstrava um grande esmero por parte do diretor em criar a ambientação para o filme.

Assim, fui ver Oblivion na esperança de ser surpreendido, mas reconhecendo tanto as dificuldades do gênero quanto o significado da escolha de Tom Cruise para o papel de destaque. Para mim, isso já demonstrava que esse seria um filme com menos foco na filosofia e mais correria, coisa que Cruise sabe fazer muito bem e deu tom a outros de seus filmes, como a série Mission: Impossible e Minority Report, que guarda certas semelhanças com Oblivion.

A história ocorre em 2077, quando a raça humana já não habita mais nosso planeta. Depois de uma grande guerra contra uma raça alienígena, a Lua se encontra em pedaços e as cidades estão inabitáveis devido à radiação dos bombardeios nucleares ou às catástrofes naturais que decorreram da destruição do satélite terrestre.

Jack (Tom Cruise) e Victoria (Andrea Riseborough) são uns dos poucos que ainda permanecem na Terra, realizando a manutenção dos robôs e dos equipamentos necessários para a extração dos poucos recursos que ainda restaram. Poucos dias antes do fim da missão e do retorno para a colônia humana em Titã, Jack se confronta com a queda de uma espaçonave, que traz uma sobrevivente inesperada, Julia (Olga Kurylenko), uma mulher que reside nas memórias e nos sonhos de Jack, podendo mudar o rumo de sua missão na Terra.

Acho que, se há algum elogio para se fazer, ele é o capricho e a qualidade visual do filme, sobretudo quando visto em IMAX – tudo isso sem apelar para os truques dos efeitos 3D. A Terra pós-apocalíptica consegue ser crível e interessante, sem deixar de lado a sutileza que é um erro comum ao revisitar ambientes conhecidos neste tipo de abordagem. A direção de arte é muito boa, sobretudo na arquitetura, nos equipamentos e nos robôs, tendo uma pegada similar a de Ridley Scott e me lembrando muito o design empregado na série de videogames Portal, que certamente faz parte das referências visuais de Kosinski.

São inegáveis também as influências de Moon sobre esse filme, já que boa parte dele se passa na ausência de um grande elenco, explorando justamente a relação de isolamento dos protagonistas. Certamente, quem viu ambos os filmes deve perceber mais alguns pontos de similaridade. Porém, em termos de roteiro, Oblivion não consegue ‘chegar lá’,  já que não apresenta nenhuma novidade ou questionamento que nos faça sair do cinema com vontade de discutir. Os picos de tensão são seguidos de grandes sequências sem muito a acrescentar, que parecem estender as já longas duas horas de filme.

Se esse tempo fosse utilizado para o desenvolvimento de personagens, talvez tivéssemos uma obra bem mais consistente, já que o filme acaba deixando a impressão de ter um elenco de personagens subaproveitados, com os quais pouco nos importantes. A própria grande reviravolta – o que seria de um sci-fi sem ela? – é bastante previsível para quem tem uma bagagem razoável de filmes do gênero. Ainda assim, ela é interessante o suficiente para não nos fazer menosprezar o enredo e não deixa tantas inconsistências como, por exemplo, em Prometheus.

Dessa maneira, não podemos dizer que Oblivion é ruim ou sem graça, mas também não é o tipo de história que vai ser lembrada para sempre na história do cinema, ficando apenas há alguns passos além do mediano. De todo modo, não posso menosprezar o incrível trabalho técnico e visual feito para este filme, que certamente vai agradar aqueles que, como eu, adoram uma ambientação futurista. Se você verá este filme apenas pelos efeitos visuais, certifique-se de ir à sala com a melhor imagem e o melhor som possível, pois neste aspecto, Oblivion certamente merece ser assistido.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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