Divagações: The Lone Ranger

Classificar filmes em gêneros é algo delicado, mas eu me arrisco a dizer que sinto falta de aventuras. Nesses filmes há um pouco de ação,...

Classificar filmes em gêneros é algo delicado, mas eu me arrisco a dizer que sinto falta de aventuras. Nesses filmes há um pouco de ação, no entanto, a jornada e as descobertas que vem com ela são mais importantes. Digo isso porque acredito que esse seria um caminho interessante para The Lone Ranger, até porque o filme já começa com um dos clichês do gênero: um senhor de idade contando uma história para uma criança.

O filme, a propósito, sabe se usar muito bem desse recurso. Ele aproveita a ingenuidade infantil e a memória pouco confiável do ancião para disfarçar certos buracos na história e fugir de uma narrativa totalmente linear, embora isso não fosse ser exatamente o problema. 

The Lone Ranger, basicamente, conta a história da amizade improvável surgida entre um índio comanche chamado Tonto (Johnny Depp), que está em busca de vingança, e o jovem advogado John Reid (Armie Hammer), que acaba se tornando o personagem que dá título ao filme. Eventualmente, os dois acabam com um objetivo em comum: encontrar o criminoso Butch Cavendish (William Fichtner).

Ao lado dos dois estão a cunhada (e interesse romântico!) de Reid, Rebecca Reid (Ruth Wilson); o filho dela, Danny (Bryant Prince); e a cortesã Red Harrington (Helena Bonham Carter). Para completar, a trajetória é mesclada com um pano de fundo em que está sendo construída uma ferrovia transcontinental nos Estados Unidos, o que inclui disputas com os indígenas, exploração de trabalho chinês (!) e outras questões gananciosas.

Tudo isso é muito divertido, especialmente quando envolve trens, tiros e planos infalíveis vindos de Tonto. É impossível segurar a risada nas situações mais absurdas ou deixar de se empolgar com os trens desgovernados e a trilha sonora clássica. Embora The Lone Ranger tenha um pouco de sangue e violência – o que rendeu ao filme uma classificação etária indicativa de 14 anos –, suponho que as crianças se divertiriam bastante.

No entanto, é preciso acrescentar que a longa duração do filme – que soma 149 minutos – é absolutamente desnecessária. Várias sequências poderiam ser cortadas em nome da agilidade e também da clareza do roteiro, que se perde tentando explicar questões que vão além da trama principal. Inclusive, suponho que isso teria deixado o filme mais barato e mais curto, minimizando os prejuízos que a Disney está tendo devido à baixa arrecadação nas bilheterias.

Mesmo assim, fico ao lado do diretor Gore Verbinski em seu gosto pelas cenas externas, que atrasaram a produção e estouraram o orçamento. Elas garantem a beleza do filme, que explora muito bem as paisagens e homenageia o gênero de faroeste. Aliás, todo o visual de The Lone Ranger é muito caprichado, fazendo com que a imersão no filme permaneça apesar de todos os seus absurdos (e até suas incoerências).

De qualquer forma, suponho que ninguém esperava por uma obra-prima. O filme é muito bom tecnicamente, mas peca por confiar demais em uma trama que não merece tanto investimento. O resultado é bonito e divertido, mas poucos parecem ligar para o primeiro elemento e o segundo acaba diluído em uma duração exagerada. Garanto que quem tiver uma boa televisão e um aparelho de Blu-Ray em casa pode esperar sem grandes prejuízos para ver The Lone Ranger no sofá.

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