Divagações: Turbo

Desde o primeiro trailer, Turbo já me parecia um imenso retrocesso, pois, depois de uma época um pouco mais ‘experimental’, a Dreamworks...

Desde o primeiro trailer, Turbo já me parecia um imenso retrocesso, pois, depois de uma época um pouco mais ‘experimental’, a Dreamworks Animation novamente se voltava para aquele tipo de filme insosso com animais falantes e engraçadinhos que muitos de nós aprendemos a esquecer. Ou vai dizer que Shark Tale, Over the Hedge e Bee Movie são as animações favoritas de alguém?

A premissa é simples, Turbo (Ryan Reynolds) é um caracol que não se conforma com o estilo de vida lento e seguro de sua comunidade, para desespero do seu irmão Chet (Paul Giamatti). Porém, tudo muda quando Turbo sofre um estranho acidente, o levando a adquirir uma super velocidade e o tirando de sua vida pacata no canteiro para as pistas da Indy 500, com ajuda do atrapalhado cozinheiro Tito (Michael Peña) e dos lojistas de seu decrépito conjunto comercial.

Se existe algo que eu possa falar sobre Turbo é que esse não é um filme pretensioso. Por sinal, acho que ele se contenta em ser meio bobinho e nem de longe tão legal ou caprichado quanto poderia. Inclusive, a direção de David Soren deixa transparecer que este é filme que veio de uma ‘equipe B’ da Dreamworks, o que também é enfatizado pela qualidade de animação e das texturas, inferiores a filmes anteriores do estúdio. O 3D, que poderia ser um dos grandes chamarizes do filme, não chega a impressionar, sendo subutilizado em um filme que tinha tudo para ser um parque de diversões para os efeitos visuais, com uma ou outra cena que empolgam um pouco mais.

Inclusive, no que toca ao roteiro, fica clara a influência de outras obras neste filme, com todo o arco dramático sendo extremamente parecido com o de Ratatouille – a mensagem de que não importa quem você é, mas quem você quer ser. O final também empresta vários componentes de Cars, além do óbvio elemento da corrida. Porém, isso não desqualifica completamente a obra, que tem alguns pontos bacanas, como o próprio Tito, que é um dos poucos coadjuvantes bem aproveitados, sendo inserido de forma adequada na história.

Apesar de não ser muito interessante, Turbo tem alguns momentos divertidos e empolgantes, sobretudo quando não está tentando fazer graça, já que boa parte do senso de humor do filme vem de situações pastelão que dificilmente agradarão os mais crescidinhos. Os próprios personagens de suporte são deixados um pouco de lado e não conseguem se desenvolver bem, deixando aquela impressão de que o elenco inchado do filme é completamente desnecessário.

A dublagem nacional também incomoda ao perpetuar a irritante mania das distribuidoras de colocar atores e atrizes 'globais' em papeis de destaque, sendo que aqui, diferentemente dos trailers Chet é dublado por Bruno Garcia, que até consegue lidar bem com o trabalho, ao contrário de Isis Valverde, que dubla a personagem Burn em uma atuação constrangedora.

Como resultado, Turbo acaba sendo um filme muito mais próximo à pior fase da Dreamworks e se parece muito mais com uma animação para a televisão do que uma grande produção para os cinemas.  Com uns poucos momentos mais interessantes, este é um filme dispensável para os que gostam de uma boa animação, apesar de ser uma opção considerável para aqueles que se veem obrigados a ir ao cinema durante as férias de inverno, acompanhando a garotada. No final das contas, Turbo é um filme inofensivo, mas sem sair do mediano.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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