Divagações: Atonement

É complicado falar de um filme quando você tem uma ligação emocional prévia com a história. Li a obra original de Ian McEwan alguns mese...

É complicado falar de um filme quando você tem uma ligação emocional prévia com a história. Li a obra original de Ian McEwan alguns meses antes de finalmente assistir a Atonement e minhas expectativas eram altas. Estava curiosa para ver como o roteiro iria lidar com a questão dos diferentes pontos de vista apresentados, um elemento essencial para a compreensão das atitudes dos personagens.

No começo da década de 1940, Briony Tallis (Saoirse Ronan) é uma menina rica que vive em um mundo próprio, rodeada por suas fantasias. Ela está ansiosa pela chegada de seu irmão mais velho, Leon (Patrick Kennedy), que deve trazer um amigo importante (Benedict Cumberbatch) para o jantar. Assim, ela escreve uma peça para recepcioná-los, mas não consegue muito apoio de seus primos, o que inclui uma menina de sua idade, Lola Quincey (Juno Temple), a qual já começou a viver problemas de gente grande.

Esse mundo é repleto de belas paisagens naturais, uma casa grande com decoração de madeira escura e uma iluminação focada. Não é uma realidade muito ampla, mas há muito espaço para ser preenchido por uma imaginação fértil. Também é fácil para os espectadores se identificarem com o comportamento dessa menina, que não tem pessoas sinceras com quem conversar. Ela está começando a olhar para além do seu quarto, mas faltam referências.

Mais velha que Briony, Cecilia Tallis (Keira Knightley) também aguarda seu irmão com ansiedade. Ela está de férias da universidade e se sente presa na propriedade da família. Um motivo maior para sua angústia está na presença do filho de uma das empregadas da família, Robbie Turner (James McAvoy), que cursa a mesma universidade que ela, custeado por seu pai. Os dois evitam se falar, mas seus breves contatos deixam claro que há algo entre eles.

A princípio, é difícil entender o que Cecilia realmente quer. Ela está apenas provocando? Mas a personagem finalmente se abre. O problema é que a falta de comunicação entre as duas irmãs as afasta e um acontecimento durante o tão aguardado jantar faz com que os dois mundos se tornem ainda mais distantes. Apenas alguns anos depois, com o início da guerra, Briony (agora interpretada por Romola Garai) entende o que realmente aconteceu e sente-se culpada por ter mudado para sempre o destino da irmã e de Robbie Turner.

Sem o apoio de pessoas mais maduras, a história de Atonement é levada por motivos passionais. O fluxo dos acontecimentos foge do controle até que algo maior cai sobre a cabeça de todos. No livro, essa falta de um pulso mais firme por parte dos protagonistas é compensada por um grande desenvolvimento dos personagens, algo que fica um pouco de lado no filme.

Briony é a única que consegue mais espaço e Saoirse Ronan realmente brilha no papel, enquanto Romola Garai apenas segura as pontas. Por sua vez, tanto Keira Knightley quanto James McAvoy parecem um tanto deslocados. Ela ganha pontos ao caprichar nas maneiras de sua personagem, com um gestual e um estilo de falar próprios. Já McAvoy entrega uma atuação natural, com a real personalidade de seu personagem aparecendo aos poucos.

As pequenas limitações dos atores, no entanto, acabam interferindo menos do que deveriam no resultado final. O diretor Joe Wright se esmerou para tornar o visual do filme impactante e a música serve apenas para ajudar. O figurino também funciona bem com o conjunto e metade do trabalho de Keira é feito por aquele vestido verde. Todas as ambientações funcionam perfeitamente e não é difícil embarcar no drama vivido por cada um dos três personagens principais.

Não dá para deixar de lado, obviamente, o fato de que Atonement conta uma história belíssima e que essa adaptação para o cinema procura honrar isso. É difícil deixar de suspirar com o romance ou de segurar a respiração com a reviravolta. Obrigatório para corações apaixonados.

Outras divagações:
Anna Karenina
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