Divagações: Jane Eyre (2011)

Quando li o livro de Charlotte Brontë que deu origem a Jane Eyre , demorei um pouco para gostar da protagonista. A principal razão é que...

Quando li o livro de Charlotte Brontë que deu origem a Jane Eyre, demorei um pouco para gostar da protagonista. A principal razão é que se tratava de uma moça com uma personalidade que não correspondia exatamente a seu apreço pelas regras da sociedade. Para completar, o romance também não me parecia muito crível... Mesmo assim, em determinado ponto, eu não conseguia mais parar de ler.

Jane Eyre (Mia Wasikowska) é uma jovem que possui familiares ricos, mas nenhum tostão no bolso. Ela é rejeitada pelos parentes e acaba em uma escola muito rígida, onde sofre para adequar seu jeito explosivo às normas. Depois de formada, ela decide trabalhar como tutora de uma menina na mansão de Rochester (Michael Fassbender), um homem taciturno e atormentado que guarda um terrível segredo.

Como já é de se esperar, Michael Fassbender está fantástico no papel. Ele consegue assustar e apaixonar ao mesmo tempo e eu tenho dificuldades em pensar que outro ator poderia provocar esse mesmo efeito. Já Mia Wasikowska, que não é a mais carismática das atrizes, parece ser uma boa escolha para interpretar a Jane Eyre do livro, que não é muito bonita ou inteligente, resistindo apenas com base em uma forte determinação. Infelizmente, isso não funciona tão bem no cinema.

Os dois contam, ainda, com um excelente elenco de apoio. Judi Dench interpreta a governanta da casa dando para sua atuação ares que contradizem com as percepções da protagonista, mas que funcionam bem com o decorrer da história. Por sua vez, Jamie Bell é a figura que surge na vida de Jane em seu momento de maior necessidade, fazendo um contraponto interessante a Fassbender.

Extremamente cinzento, o filme é fiel ao livro em muitos pontos, podendo ser considerado uma adaptação de qualidade, capaz de funcionar bem em uma nova mídia sem quebrar vínculos com o material original. A direção de Cary Fukunaga tenta assegurar essa similaridade focando mais nas situações que no desenvolvimento de personagens e deixando os atores um pouco engessados.

O gênero, claro, contribui como um fator limitador. O romance gótico – em que, resumidamente, uma moça virtuosa e virginal se apaixona por um homem perigoso – é delicado e tem um apelo muito restrito. Ainda assim, a história de Jane Eyre se sobressai dos clichês e consegue resistir como literatura até os dias de hoje.

Como filme, a obra tem seus méritos, principalmente por conseguir apresentar essa trama de uma forma que ainda atraia novos corações angustiados. Sendo fiel, a produção manteve o contexto das entrelinhas e todas as mensagens que podem ser obtidas por olhares mais atentos. Vale acrescentar que isso foi feito com o apoio de alguns elementos essenciais, como as paisagens, os figurinos, a luz de velas, o vento e a névoa.

Jane Eyre equilibra o perigo e o desejo, o dever e o amar, o querer e o poder. Quem foi obrigado a ler o livro pode arriscar uma nova tentativa, enquanto quem leu por prazer pode se deliciar novamente. Não se trata de um filme perfeito, mas ele cumpre sua missão com um bom aproveitamento (e tem o Michael Fassbender).

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