Divagações: Emma (1996)

Primeira iniciativa de Douglas McGrath como diretor, Emma também tem roteiro assinado exclusivamente por ele, o que não deixa de ser um...

Primeira iniciativa de Douglas McGrath como diretor, Emma também tem roteiro assinado exclusivamente por ele, o que não deixa de ser um pouco estranho para uma adaptação de Jane Austen, uma vez que essas produções costumam ter ‘toques’ femininos. Não que isso seja um pré-requisito, obviamente. A verdade é que há diversos pequenos detalhes que me fazem não apreciar muito esse longa-metragem.

Para começar, essa história tem uma protagonista difícil, que não é exatamente uma moça correta e delicada. Emma Woodhouse (Gwyneth Paltrow) é uma jovem manipuladora e interesseira, cheia de ideias ‘modernas’ sobre como as coisas devem ser. Ela parece se encaixar normalmente na sociedade que a cerca, mas isso não é exatamente verdade. Assim, é fácil torná-la uma personagem antipática e distante, algo que não é exatamente a intenção do romance original, que traz uma jovem imatura e mimada prestes a aprender algumas importantes lições de vida.

Na trama, passada em uma comunidade rural inglesa, Emma começa a viver sozinha com seu pai (Denys Hawthorne), um homem doente e mal-humorado, depois do casamento de sua tutora (Greta Scacchi). Com poucas distrações, ela resolve usar seus talentos de casamenteira para unir uma moça que acabou de conhecer, Harriet Smith (Toni Collette), com o pároco local, Mr. Elton (Alan Cumming), mesmo após sérias advertências de seu melhor amigo e vizinho, Mr. Knightley (Jeremy Northam). Contudo, as coisas não saem exatamente como o planejado e tudo caminha para a infelicidade geral, inclusive da própria Emma.

Uma das coisas interessantes dessa produção é o elenco, que ainda conta com Ewan McGregor como Frank Churchill, um possível interesse romântico da protagonista. Tudo é muito caprichado e está no lugar certo, mas parece faltar certo charme. O figurino, por exemplo, é impecável (tanto que recebeu uma indicação ao Oscar), mas a trilha sonora de Rachel Portman é bonitinha, mas esquecível. Aliás, a compositora levou a estatueta para casa em uma categoria que não existe mais, Melhor Música - Trilha Original para Musical ou Comédia.

Então, o que exatamente está faltando em Emma? Em primeiro lugar, simpatia pela protagonista. Em 1996, Gwyneth Paltrow estava vivenciando uma ascensão em sua carreira. Ao mesmo tempo, ela era uma atriz com pouca experiência, atuando em um roteiro que não a favorecia e com um diretor iniciante – ela faz o que pode e até consegue brilhar. Para completar, o único personagem masculino da trama que tem personalidade é interpretado por um ator de pouco carisma, restando a Ewan McGregor um papel caricato e bufão. Resumindo, nenhum dos casais apresentados na tela funciona, o que deveria ser essencial na adaptação de um romance.

Preciso acrescentar que o filme também não está envelhecendo bem. A direção de arte optou por utilizar ilustrações similares as que seriam feitas pela protagonista na abertura e no encerramento do filme, um recurso que ficou datado. Talvez Emma fosse mais interessante na época de seu lançamento – com uma atriz em alta e um aspecto de romance descompromissado. Talvez... Ainda assim, estou em busca de uma versão mais interessante dessa história (além de Clueless).

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