Divagações: The Royal Tenenbaums
9.8.16
Embora Wes Anderson já tivesse dois filmes no currículo, a primeira vez que ouvi falar em seu nome foi devido a The Royal Tenenbaums. Lembro até hoje da reportagem que evidenciava as roupas dos personagens, a trilha sonora, a narrativa em capítulos e o estilo único do diretor. Tudo aquilo me impressionou e percebi que esse era um filme diferente de tudo o que eu já havia visto antes. Tantos anos depois, isso continua sendo verdade.
A história acompanha uma família de pessoas que demonstraram brilhantismo já na infância, mas que enfrentam problemas na vida adulta. Chas (Ben Stiller) é o empreendedor que recentemente ficou viúvo e paranoico com segurança. Richie (Luke Wilson) é o jogador de tênis famoso que sofre por um coração partido. Margot (Gwyneth Paltrow) é uma dramaturga que não escreve há três anos. Por motivos diversos, eles se reúnem na casa onde viveram a infância e foram criados pela matriarca, Etheline (Anjelica Huston).
Além de lidarem com seus problemas internos, os três irmãos relembram o passado, voltam a conviver com o vizinho e amigo de infância, Eli Cash (Owen Wilson), evitam o marido de Margot, Raleigh St. Clair (Bill Murray), e cruzam frequentemente com o novo namorado da mãe, Henry Sherman (Danny Glover). Não demora para que o pai ausente, Royal Tenenbaum (Gene Hackman), queira participar desse encontro e complicar ainda mais as coisas.
Embora as dificuldades vividas pelos personagens de The Royal Tenenbaums sejam bem palpáveis, eles vivem em uma espécie de mundo dos sonhos. Há um inegável ar setentista – evidenciado pelas roupas e pela trilha sonora – embora a história se passe no começo dos anos 2000. É Nova York, mas o ambiente cosmopolita e os principais pontos turísticos da cidade são negados veementemente. É real, contudo, é tão íntimo que nem parece. Simplesmente não é compartilhado (exceto pelo fato de ser um filme).
O interessante não é apenas crianças brilhantes terem se tornado adultos problemáticos, mas o fato deles nunca terem lidado muito bem com a infância que mal viveram. Isolados dos demais e comportando-se como adultos desde cedo, os irmãos simplesmente precisam de uma pausa para encontrarem seus caminhos como pessoas maduras e como membros de uma família. A casa da infância mantém seus quartos exatamente da forma como eles os deixaram, além de ter um armário repleto de jogos e a presença confortante da mãe. Não é um tema que se vê retratado com frequência ultimamente, em uma época onde a adolescência é prolongada a extremos.
Escrito em parceria por Wes Anderson e Owen Wilson, o roteiro traz diversas referências às infâncias de ambos e tem momentos nostálgicos e ressentidos. Assim, ao mesmo tempo em que é excêntrico, The Royal Tenenbaums é também muito sentimental. A sua própria maneira, o filme é tanto você quanto aquela pessoa da sua família que você nunca conseguiu compreender muito bem.
E o filme é totalmente Wes Anderson. A estética que se tornou facilmente reconhecível ao longo dos anos já está presente aqui, assim como a forma única de contar histórias e de utilizar a trilha sonora. Talvez a paleta de cores ainda não seja exatamente aquela que os fãs se acostumaram, mas The Royal Tenenbaums é completamente adorável mesmo assim.
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