Divagações: The Diary of a Teenage Girl

Histórias sobre amadurecimento, a descoberta do sexo e o conflito de gerações parecem ter um apelo eterno – e um universo de possibilidade...

Histórias sobre amadurecimento, a descoberta do sexo e o conflito de gerações parecem ter um apelo eterno – e um universo de possibilidades a serem exploradas. The Diary of a Teenage Girl pode ser tido como mais um desses filmes, mas é preciso acrescentar que ele é levemente baseado na história da quadrinista Phoebe Gloeckner, que escreveu o material original. Logo, ele é melhor do que qualquer drama barato e repleto de clichês que podem ser encontrados por aí.

Minnie (Bel Powley) é uma adolescente bastante normal para os anos 1970 e para as circunstâncias. Sua mãe, Charlotte (Kristen Wiig), viveu um relacionamento opressor durante anos e, agora, está curtindo as drogas e a felicidade de ter um namorado bem mais liberal, Monroe (Alexander Skarsgård). Quando Monroe começa a demonstrar interesse por Minnie, ela decide aproveitar a oportunidade – afinal, nunca se sabe quando outra poderá surgir. O que deveria ser algo passageiro acaba se transformando em um relacionamento que é confuso demais para ela. Ao mesmo tempo, seu despertar para o sexo também abre seus olhos para o mundo e para todas as oportunidades que ele pode oferecer; um caminho para uma jornada de novas experiências e autoconhecimento.

A princípio, a ideia de uma menina de 15 anos tendo um relacionamento como esse com o namorado da mãe parece algo um tanto quanto perturbador. E é! Mas mesmo se você acredita em “eu nunca faria uma coisa dessas” ou “isso é absolutamente nojento”, dê uma chance para a protagonista. Minnie é só uma menina e, sinceramente, tem uma perspectiva bastante limitada sobre as implicações de suas ações. É difícil não se identificar com as neuras que ela traz para seu dia a dia. São preocupações com o corpo, com o futuro, com a mãe, com o coração e com a dificuldade em ser feliz. Ela carrega medos maiores que si mesma, mas às vezes simplesmente se esquece de tudo e começa a dançar aleatoriamente no quarto ou sai para se divertir com sua melhor amiga (Madeleine Waters).

Fiel ao espírito dos anos 1970, The Diary of a Teenage Girl não traz apenas o despertar de sua protagonista, mas o de toda uma sociedade. A liberdade das mulheres ainda está sendo descoberta e temos uma personagem egocêntrica que não tem muito apego a regras ou limites. Há quem pense em seu futuro, mas ela não acredita que exista um problema em faltar repetidamente à escola. Ao mesmo tempo, o filme não a explora. Ela é livre em sua história e na forma como a percebemos. Minnie não é sexualizada e, embora Bel Powley já tivesse mais de 20 anos na época das filmagens, a personagem é retratada de uma maneira praticamente ingênua. Com seus grandes olhos surpresos olhando para o mundo, ela parece mais com uma criança em uma loja de brinquedos que com a terrível moça interessada em estragar o relacionamento da mãe (como alguns poderiam supor).

Sem ser vítima nem vilã, a menina de 15 anos é vista em seu mundo simultaneamente preso à realidade e repleto de fantasias. The Diary of a Teenage Girl, assim, é um filme sobre sexo porque esse é um assunto que ocupa boa parte do tempo de Minnie. Mas também é um longa-metragem sobre família, escola, desenhos, festas, drogas, bebidas e muitas outras coisas. O roteiro e a direção de Marielle Heller não estão julgando ninguém – pelo contrário, eles estão mergulhados tão profundamente na nostalgia que até parece que ela está contando sua própria trajetória. Aliás, suponho que qualquer mulher vai se identificar de alguma forma com essa história, por mais distante que ela pareça da sua realidade. Afinal, todas nós já tivemos 15 anos.

RELACIONADOS

0 recados