Eu tinha grandes expectativas sobre Superman, não vou mentir. Claro que eu não esperava por um filme revolucionário, mas realmente queria ver James Gunn agindo como o novo capitão da DC nos cinemas. Afinal, esse é momento para ele estabelecer uma voz própria e diferente do “universo estendido” de outrora.
Assim, pelo menos nesse campo, Superman é um sucesso retumbante. Ele não é um filme da Marvel, ainda que seja moldado pelas inclinações de Gunn e à sombra do que ele fez no estúdio rival. Mas, enquanto The Suicide Squad se parece tonalmente com Guardians of the Galaxy, esta produção desenvolve uma linguagem própria, deixando-me um pouco mais seguro a respeito da visão de futuro que os executivos têm para o herói.
Nesse sentido, a intenção é já começar correndo, sem tempo a perder com a apresentação de uma mitologia e supondo que o espectador tem uma noção prévia do que se trata. Ou seja, nada de história de origem.
Superman começa três anos após o início das atividades do herói em Metropolis. Clark Kent (David Corenswet) é um jornalista situado na cidade e que está saindo com Lois Lane (Rachel Brosnahan) há alguns meses. Além disso, Lex Luthor (Nicholas Hoult) definitivamente tem o azulão na mira; a produção inclusive começa com a primeira vitória do vilão.
A partir desse ponto, o longa-metragem desenvolve uma leitura mais moderna do herói, comentando (ainda que de modo meio canhestro) a existência desse tipo de figura em um mundo terminantemente online e cheio de fake news.
Ainda que a atuação do protagonista como jornalista seja marcada por uma nostalgia da era dourada da profissão, o filme tenta justificar os motivos de Clark ter escolhido esse ofício. Assim, o núcleo do Daily Planet tem bastante espaço, incluindo a primeira participação relevante de Jimmy Olsen (Skyler Gisondo) em décadas.
O universo criado nesse entorno também adquire uma textura própria, com uma população civil que já está calejada de heróis, monstros e vilões no seu dia a dia. Ao invés de tratar isso com a solenidade de Zack Snyder, as pessoas que vivem no mundo de Superman não ficam muito impressionadas com o universo sendo rasgado ou com criaturas gigantes no céu.
Para completar, outros heróis parecem frequentar talk shows e ter patrocínios corporativos, ainda que não se trate de uma versão cínica dessa proposta, como em The Boys. Dessa vez, os heróis só são mais um aspecto da realidade, o que realmente me deixa interessado para ver como esse conceito será trabalhado no futuro.
Além disso, preciso dizer que David Corenswet é um bom Superman. Ele tem a energia certa de garoto ingênuo do interior que só quer fazer o seu melhor, ecoando um pouco a época de Grant Morrison nos quadrinhos.
Ao mesmo tempo, ele não é (nem de longe) uma figura messiânica, como algumas produções recentes pintaram. Mas confesso que gostaria de ter visto um pouco mais de Clark Kent – ainda que o filme propositalmente misture essas identidades, sinto que acompanhar sua vida “civil” teria sido benéfico para o personagem e para o ritmo filme, que parece ter pouco tempo para respirar.
Nessa mesma toada, Nicholas Hoult é um Luthor bem menos polarizante do que a versão de Jesse Eisenberg. O personagem possui uma energia de vilão megalomaníaco de quadrinhos que não chega a ser puro pastiche, mas que certamente está mais próxima do que se espera do arquétipo.
Narrativamente, Superman é um filme competente, embora se atropele um pouco para colocar tudo o que quer contar em pouco mais de duas horas. Algumas das resoluções são um tanto quanto repentinas, porém, em contrapartida, o longa-metragem não deve entediar em nenhum momento. Já computação gráfica, embora seja boa, sofre com um uso abusivo na metade final do filme, ainda que nada seja gritante ou esquisito demais.
Vale acrescentar que o humor está presente, mas houve uma clara intenção de diferenciar da “fórmula Marvel”, evitando comentários engraçadinhos o tempo todo. A presença de Krypto, o super-cão que foi proeminente nos materiais de divulgação, quase chega a cansar, embora não se torne efetivamente um incômodo.
Para quem tinha se animado com a direção de Gunn no passado, Superman não decepciona e entrega exatamente o que promete. Ainda que esse talvez não seja um dos melhores trabalhos do diretor, ele é bom o suficiente para divertir nessa temporada de férias. Não se trata de algo que vá mudar radicalmente o cenário de filmes de heróis no cinema, mas é uma boa produção e já fico satisfeito se o nível for mantido daqui em diante.
Outras divagações:
Guardians of the Galaxy
Guardians of the Galaxy Vol. 2
Guardians of the Galaxy Vol. 3
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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