Divagações: Billy Elliot
6.6.17
Quando Billy Elliot foi lançado – em 2000 –, o filme chamou muita atenção. Ele quebrava estereótipos de gênero e falava de preconceito com uma história passada em um momento histórico bastante delicado: a greve dos mineiros no Reino Unido durante o governo de Margaret Thatcher. Ao contar a trajetória de um menino, a produção tem entrelinhas riquíssimas. Lá estão elementos políticos e culturais que caracterizam especialmente o condado de Durham, na Inglaterra, mas que encontra similaridades com muitas comunidades oprimidas pelo mundo. É uma história com fortes raízes locais e que, justamente por isso, ressoa com mais força que muitas tramas que pretendem ser ‘universais’.
Billy (Jamie Bell) é um menino que vive com seu pai (Gary Lewis), seu irmão (Jamie Draven) e sua avó (Jean Heywood). Ele ainda é muito jovem para se envolver no mundo dos adultos e, sinceramente, ele não parece se importar muito com política. Ainda assim, o contexto familiar é tenso. O irmão é ativo nas manifestações dos mineiros e entra em conflito com a polícia. O pai sofre para manter a família mesmo sem receber salário por causa da greve. A avó não se prende mais à realidade do presente e demanda atenção constante, uma responsabilidade que frequentemente recai para Billy.
Ainda assim, ele é uma criança comum. Frequenta a aula de boxe com os demais meninos da região e gosta de aprontar com seu melhor amigo, Michael (Stuart Wells). Um dia, quase que por acidente, ele cruza com a aula de balé de Mrs Wilkinson (Julie Walters). Antes que perceba, ele se envolve com a dança e acaba gostando. Billy volta todas as semanas, trocando facilmente o boxe pelo balé – e Mrs Wilkinson acha que ele leva jeito, a ponto de inscrevê-lo para uma importante audição. O problema é quando o pai do menino descobre e coloca todo o esforço a perder.
Com essa trama bastante simples, Billy Elliot levanta muitas questões importantes. A felicidade de um menino encontra obstáculos que vão muito além de sua própria compreensão. Ele sabe que seu pai não gosta de balé porque ‘é coisa de menina’, mas não chega a exatamente questionar esse conceito. A sexualidade de Billy também é frequentemente questionada, mas ele é muito novo e claramente não demonstra interesse nem por meninos e nem por meninas. Inclusive, quando descobre um segredo de Michael, Billy também tem seus preconceitos. Entretanto, ele tem uma mente aberta o suficiente para não julgar o comportamento dos outros (afinal, ele também é um pouco esquisito, não?). Isso sem contar todo o contexto político. Uma família de mineiros pobres e balé clássico? Enquanto um irmão luta contra a opressão da burguesia, o outro estuda para entreter essas mesmas pessoas? O que é mais importante: política ou arte? Embora pareça lidar com água e azeite, Billy Elliot mistura esses elementos e mostra que eles não deveriam ser considerados separadamente.
Ao mesmo tempo, o diretor Stephen Daldry consegue colocar as relações interpessoais acima de todo o contexto. Essa é a história de um menino e sua professora. Mrs Wilkinson é a única figura feminina com autoridade na história, mas ela se recusa a ser a mãe de Billy, assumindo o papel de mentora e bastante ciente do caráter passageiro em sua relação com ele. E essa também é a história de uma família. Os conflitos entre os Elliot não são muito diferentes dos que surgem dentro de outras casas, sendo acentuadas pelas diferentes idades entre seus quatro moradores. Obviamente, essa é uma história de crescimento pessoal e amadurecimento emocional. A expressividade de Jamie Bell é explorada em cada cena. Os sentimentos adolescentes à flor da pele e a confusão de quem está ampliando as fronteiras de seu mundo estão presentes no rosto do menino e em cada passo de dança. Afinal, o personagem não se atém aos movimentos coreografados do balé, utilizando de seu corpo para demonstrar uma raiva contida que ele não ousa deixar escapar na frente dos adultos.
Com isso, Billy Elliot é um filme essencial em muitos aspectos e merece ser visto por seu retrato histórico, por seu enfoque a respeito da juventude, por sua delicadeza ao tratar de temos culturais, por sua capacidade de desafiar conceitos e por todos os seus méritos como uma história bem contada, com um bom roteiro e atuações competentes. Quem viu esse filme há 17 anos pode até se lembrar da história, mas garanto que o redescobrir trará surpresas.
Em tempo: a produção também ganhou uma versão em musical para os palcos, também dirigida por Stephen Daldry e com composições de Elton John. Com mais tempo para contar a história e um foco mais amplo no desenvolvimento de personagens, a versão teatral acaba também ampliando a percepção política da história e é absolutamente maravilhosa. Ainda que uma filmagem da montagem não tenha o mesmo impacto que a apresentação ao vivo, ela está disponível na Netflix e é ótima mesmo assim. Recomendo para quem gosta de musicais e para quem quer explorar a história de Billy Elliot a partir de um novo ângulo.
Outras divagações:
Extremely Loud & Incredibly Close
Billy (Jamie Bell) é um menino que vive com seu pai (Gary Lewis), seu irmão (Jamie Draven) e sua avó (Jean Heywood). Ele ainda é muito jovem para se envolver no mundo dos adultos e, sinceramente, ele não parece se importar muito com política. Ainda assim, o contexto familiar é tenso. O irmão é ativo nas manifestações dos mineiros e entra em conflito com a polícia. O pai sofre para manter a família mesmo sem receber salário por causa da greve. A avó não se prende mais à realidade do presente e demanda atenção constante, uma responsabilidade que frequentemente recai para Billy.
Ainda assim, ele é uma criança comum. Frequenta a aula de boxe com os demais meninos da região e gosta de aprontar com seu melhor amigo, Michael (Stuart Wells). Um dia, quase que por acidente, ele cruza com a aula de balé de Mrs Wilkinson (Julie Walters). Antes que perceba, ele se envolve com a dança e acaba gostando. Billy volta todas as semanas, trocando facilmente o boxe pelo balé – e Mrs Wilkinson acha que ele leva jeito, a ponto de inscrevê-lo para uma importante audição. O problema é quando o pai do menino descobre e coloca todo o esforço a perder.
Com essa trama bastante simples, Billy Elliot levanta muitas questões importantes. A felicidade de um menino encontra obstáculos que vão muito além de sua própria compreensão. Ele sabe que seu pai não gosta de balé porque ‘é coisa de menina’, mas não chega a exatamente questionar esse conceito. A sexualidade de Billy também é frequentemente questionada, mas ele é muito novo e claramente não demonstra interesse nem por meninos e nem por meninas. Inclusive, quando descobre um segredo de Michael, Billy também tem seus preconceitos. Entretanto, ele tem uma mente aberta o suficiente para não julgar o comportamento dos outros (afinal, ele também é um pouco esquisito, não?). Isso sem contar todo o contexto político. Uma família de mineiros pobres e balé clássico? Enquanto um irmão luta contra a opressão da burguesia, o outro estuda para entreter essas mesmas pessoas? O que é mais importante: política ou arte? Embora pareça lidar com água e azeite, Billy Elliot mistura esses elementos e mostra que eles não deveriam ser considerados separadamente.
Ao mesmo tempo, o diretor Stephen Daldry consegue colocar as relações interpessoais acima de todo o contexto. Essa é a história de um menino e sua professora. Mrs Wilkinson é a única figura feminina com autoridade na história, mas ela se recusa a ser a mãe de Billy, assumindo o papel de mentora e bastante ciente do caráter passageiro em sua relação com ele. E essa também é a história de uma família. Os conflitos entre os Elliot não são muito diferentes dos que surgem dentro de outras casas, sendo acentuadas pelas diferentes idades entre seus quatro moradores. Obviamente, essa é uma história de crescimento pessoal e amadurecimento emocional. A expressividade de Jamie Bell é explorada em cada cena. Os sentimentos adolescentes à flor da pele e a confusão de quem está ampliando as fronteiras de seu mundo estão presentes no rosto do menino e em cada passo de dança. Afinal, o personagem não se atém aos movimentos coreografados do balé, utilizando de seu corpo para demonstrar uma raiva contida que ele não ousa deixar escapar na frente dos adultos.
Com isso, Billy Elliot é um filme essencial em muitos aspectos e merece ser visto por seu retrato histórico, por seu enfoque a respeito da juventude, por sua delicadeza ao tratar de temos culturais, por sua capacidade de desafiar conceitos e por todos os seus méritos como uma história bem contada, com um bom roteiro e atuações competentes. Quem viu esse filme há 17 anos pode até se lembrar da história, mas garanto que o redescobrir trará surpresas.
Em tempo: a produção também ganhou uma versão em musical para os palcos, também dirigida por Stephen Daldry e com composições de Elton John. Com mais tempo para contar a história e um foco mais amplo no desenvolvimento de personagens, a versão teatral acaba também ampliando a percepção política da história e é absolutamente maravilhosa. Ainda que uma filmagem da montagem não tenha o mesmo impacto que a apresentação ao vivo, ela está disponível na Netflix e é ótima mesmo assim. Recomendo para quem gosta de musicais e para quem quer explorar a história de Billy Elliot a partir de um novo ângulo.
Outras divagações:
Extremely Loud & Incredibly Close
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