Divagações: Ocean’s 8

O clima na pré-estreia curitibana de Ocean’s 8 estava animado, mas não muito acalorado – o tradicional frio de junho, obviamente, não aju...

O clima na pré-estreia curitibana de Ocean’s 8 estava animado, mas não muito acalorado – o tradicional frio de junho, obviamente, não ajudou. O discurso (literalmente) tratava de empoderamento feminino, mas todo mundo sabia que o principal objetivo da produção era divertir e agradar aos olhos, exatamente como Ocean’s Eleven e suas continuações fizeram no começo dos anos 2000. Será que a mágica iria se repetir mesmo sem George Clooney, Brad Pitt, Matt Damon e companhia?

Bom, Sandra Bullock e Cate Blanchett definitivamente conseguiram manter o tom, referenciar o estilo e deixar sua própria marca em Ocean’s 8. A primeira é Debbie Ocean, a cabeça da operação, enquanto a segunda é Lou, sua fiel – ainda que por vezes relutante – companheira de trapaças. Juntas, elas organizam um roubo de joias que acontece durante o tradicional Baile de Gala do Metropolitan Museum of Art (MET), em Nova York (o que abre espaço para um monte de participações especiais).

Para o time, elas chamam a hacker Nine Ball (Rihanna), a interceptadora Tammy (Sarah Paulson), a joalheira Amita (Mindy Kaling), a mão-leve Constance (Awkwafina) e a estilista Rose Weil (Helena Bonham Carter). Por fim, ainda que involuntariamente, a atriz Daphne Kluger (Anne Hathaway) também entra na jogada. O objetivo é convencer a joalheria Cartier a retirar um de seus itens mais preciosos do cofre e, depois, roubá-lo em pleno baile.

O plano cheio de detalhes meticulosamente calculados é desvendado aos poucos em um roteiro que bebe fortemente da fonte dos originais. Toda a estrutura da história já é de conhecimento do público – o que é legal e, ao mesmo tempo, monótono. O fato de que agora o time é composto só de mulheres é trazido à tona em um único momento, quando Debbie Ocean deixa claro que quer na equipe pessoas que possam passar despercebidas.

Não que isso seja uma característica de qualquer uma das escolhidas.

Ocean’s 8 até pode ser amplamente usado pelo “empoderamento feminino” que representa, sendo estrelado apenas por grandes atrizes e sem a menor necessidade de um interesse romântico. Mas o problema é que todos os esforços podem sair pela culatra se a produção não entrega o que promete: uma diversão descomprometida e com um visual cool. E, ao mesmo tempo, isso torna tudo muito contraditório e cheio de pequenas complexidades.

Ou seja, não duvido que a internet já esteja cheia de gente “problematizando” o filme, seja para o bem ou para o mal. Particularmente, eu me incomodo com o visível esforço em deixar atrizes com mais de 40 anos (bem vividos, diga-se de passagem) sem uma única marca do tempo no rosto. Mas o que mais me preocupa é que, apesar de ser legal, o longa-metragem parece ser uma versão pálida de Ocean’s Eleven. Em parte, pode ser a nostalgia falando, mas as reações do público na sala de cinema também não me pareceram das mais empolgadas.

Talvez um dos problemas seja a ausência do diretor Steven Soderbergh, que praticamente se especializou no gênero. Pessoalmente, eu gostaria que essa saída viesse acompanhada da indicação de um nome feminino, porém, Gary Ross é uma escolha que me agrada. Em Hunger Games, por exemplo, ele conseguiu trazer excelentes soluções visuais e transformou uma protagonista turrona em uma verdadeira heroína. Sua experiência com personagens femininas fortes não pode ser ignorada.

Mas nada muda o fato de que Ocean’s 8 é meramente um produto derivativo. Diverte, encanta, tem charme e uma dose de inteligência. Mas não é nada que não tenhamos visto antes – com a mera diferença de que, agora, o time é menor e composto apenas por mulheres.

Outras divagações:
Hunger Games

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