Divagações: Handsome Devil

Ao lidar com uma série de clichês na hora de construir sua narrativa, Handsome Devil não surpreende de forma alguma. Mas há algo de charm...

Ao lidar com uma série de clichês na hora de construir sua narrativa, Handsome Devil não surpreende de forma alguma. Mas há algo de charmoso sobre essa história passada em colégio interno irlandês exclusivo para meninos (além do sotaque, claro). É, basicamente, um drama descompromissado daqueles que fazem você se sentir bem no final das contas.

Ned Roche (Fionn O'Shea) é o aluno deslocado. Ele não gosta de rúgbi – o esporte que parece movimentar o dia a dia geral da instituição –, sofre bullying por ser gay e não está nem aí para as aulas, entregando letras de músicas como se fossem suas redações e fazendo planos absurdos para ser expulso. Mas as coisas começam a mudar quando surgem um novo professor de inglês, Dan Sherry (Andrew Scott), e um novo colega de quarto, Conor Masters (Nicholas Galitzine), que também é a grande promessa do time de rúgbi.

O primeiro está bastante disposto a tirar toda a turma do estupor de sua vida acadêmica, dando uma atenção especial para Ned. Já o segundo parece interessado em uma amizade mesmo com todo o estigma que rodeia o rapaz. Aliás, Conor chega com seu próprio passado misterioso a ser desvendado, já que tem ataques violentos sem muitas explicações e foi expulso de sua escola anterior por causa disso.

A inesperada amizade entre os dois meninos e o envolvimento do professor nisso tudo ecoa a diversos filmes adolescentes envolvendo colégios internos e/ou esportes e/ou mestres querendo mudar a vida de seus pupilos. Mas, no fundo, o que interessa em Handsome Devil é unicamente a jornada do protagonista. Ned navega por tudo isso com uma inocência inesperada e um coração aberto, o que o torna ainda mais frágil diante dos segredos alheios e de seus próprios erros. No processo, tanto Conor quanto Dan Sherry também acabam crescendo.

Só não vale esperar por uma grande profundidade nos assuntos abordados. A produção levanta alguns temas importantes e o diretor e roteirista John Butler consegue flutuar sobre os pontos mais problemáticos quase sem encostar os pés no chão. Ou seja, vale mais como uma espécie de introdução ao drama adolescente e às dificuldades que uma pessoa mais sensível pode enfrentar em um ambiente altamente ‘masculinizado’. E, nesse ponto, não me refiro exclusivamente ao personagem principal – aliás, embora seja fortemente implicado que Ned seja gay, nada é efetivamente confirmado.

Com isso, Handsome Devil poderia passar absolutamente em branco se não fosse pelo elenco, em particular Fionn O'Shea e Andrew Scott. Enquanto O'Shea dá credibilidade da trama com seu olhar de carência e uma postura que alterna momentos de confiança com um total desespero, Scott garante que as coisas não saiam dos trilhos, com seu personagem equilibrando o tom mais exagerado de outros atores por meio de uma atitude de quem está testando as águas em um novo emprego. Nicholas Galitzine, por sua vez, até tenta, mas não consegue exatamente mostrar a que veio.

Handsome Devil, em último caso, é um filme sobre o que forma um time. Isso vale tanto para a unidade já bastante fragmentada entre os professores, para a equipe de rúgbi e para os dois amigos. Entra na conta a (in)existência de um objetivo em comum, o entrosamento, o respeito mútuo e a capacidade de respeitar a individualidade do outro.

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