Divagações: A Quiet Place

Um bom filme de terror, segundo minha humilde opinião, é aquele que aposta mais no suspense que nos sustos e, de preferência, é construído...

Um bom filme de terror, segundo minha humilde opinião, é aquele que aposta mais no suspense que nos sustos e, de preferência, é construído sobre um conceito simples e engenhoso. Quando isso é feito de uma forma em que as pessoas podem criar uma empatia com os personagens, melhor ainda.

A Quiet Place consegue cumprir todos esses requisitos. Mesmo que não seja o filme mais assustador que você verá na vida, ele é um terror que funciona e que, em resumo, é um bom filme. Dá para indicar até mesmo para quem não é exatamente fã do gênero.

Na história, somos apresentados a uma família que conseguiu sobreviver a algum tipo de desastre apocalíptico. A filha mais velha, Regan (Millicent Simmonds), é surda, mas isso não explica porque todos se comunicam por linguagem de sinais ou o motivo de evitarem fazer barulho a todo custo, inclusive andando descalços por aí – se bem que não é difícil imaginar a razão de todo esse cuidado.

Com o passar do tempo, somos apresentados à rotina dessas pessoas. Regan explora o mundo a seu modo, tentando lidar com uma adolescência em circunstâncias bem difíceis. O pai, Lee (John Krasinski), tenta ensinar seu outro filho (Noah Jupe) a caçar. A mãe, Evelyn (Emily Blunt), prepara tudo para a chegada de mais um bebê. Mas eles não estão exatamente vivendo em harmonia e esse acontecimento feliz é também acompanhado de uma série de imprevistos, o que coloca a vida de toda a família em risco.

Escrito e dirigido por John Krasinski, a partir de um material de Bryan Woods e Scott Beck, A Quiet Place é, antes de tudo, um filme sobre uma família. Há monstros, ameaças inexplicadas e uma premissa que, se você para pensar, poderia ter sido resolvida muito tempo antes. Mesmo assim, a produção funciona e segura o público na cadeira por meio de um forte gancho emocional. Você passa a se importar com essas pessoas, com a relação entre elas e com seus destinos.

Os personagens se comunicam exclusivamente em linguagem de sinais e suas conversas são legendadas (não tem como fazer versão dublada desse filme). Entretanto, isso não quer dizer que a comunicação tenha problemas. Aquilo que não é dito também não seria falado em voz alta em outro contexto, mas é facilmente percebido por meio de ações.

Mas não se engane. A Quiet Place não perde tempo com sentimentalismos exagerados ou grandes dramas. Os personagens sobreviveram porque são práticos, sabem tomar decisões levando em conta seus inimigos e estão relativamente bem preparados. A tensão está sempre presente porque eles estão sempre tensos. Dessa maneira, quando tudo sai de controle, você também segura a respiração e evita fazer qualquer som.

Além disso, o próprio conceito também é envolvente. Na realidade cheia de barulhos em que vivemos, é extremamente limitante não poder falar, ouvir música livremente, assistir televisão ou sequer soltar uma interjeição de surpresa ou dor. Só isso já é agoniante para muitos de nós.

Para completar, o filme aposta em uma narrativa simples, sem reviravoltas mirabolantes. Todas as pistas são postas diante dos seus olhos e, quando as peças finalmente são colocadas juntas, é como se você já estivesse ciente do desfecho o tempo todo. Ao mesmo tempo, essa falta de um mistério maior faz com que o longa-metragem não seja tão memorável quanto outros que o antecederam – mas também não acredito que esse fosse o objetivo. Enquanto muitos buscavam por algo inovador – “um novo Get Out” –, A Quiet Place só queria ser um bom filme, do tipo que não subestima seu público. E cumpriu muito bem esse objetivo.

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