Divagações: Meari to majo no hana
18.9.19
Quando eu tinha uns seis ou sete anos, lembro de ter passado uns dias de tédio absoluto na casa dos meus avós. Eu estava longe dos meus pais e do meu irmão, em uma cidade que não era a minha e onde não tinha ninguém com quem brincar. Confesso que não lembro muito bem de que forma eu acabei lidando com todo aquele tempo que parecia não passar nunca, mas suponho que minha cabecinha tenha viajado para mil e um lugares.
Em Meari to majo no hana, a protagonista é um pouco mais velha do que eu era, mas ela parece tão deslocada quanto eu me senti. Assim, não é de se estranhar que ela mergulhe tão facilmente em uma aventura que parece ser bem perigosa desde o começo.
Basicamente, Mary (Hana Sugisaki) está aprendendo a viver em uma cidade pequena e bucólica, onde mora sua tia-avó Charlotte (Shinobu Ôtake). Com o passar dos dias, ela desenvolve uma implicância com um menino da vizinhança, Peter (Ryûnosuke Kamiki), ao mesmo tempo em que se torna amiga dos gatos dele.
Um dia, passeando por uma floresta próxima, ela se embrenha na mata atrás dos gatos e acaba encontrando uma misteriosa planta – que floresce apenas uma vez a cada sete anos –, além de uma vassoura voadora. Esses dois elementos juntos a levam em um passeio para além das nuvens, até uma escola de magia comandada por Madam Mumblechook (Yûki Amami) e Doctor Dee (Fumiyo Kohinata).
Lá, Mary é tratada com muita reverência graças a seus cabelos vermelhos e a todo o poder que aparenta ter. Embora a menina saiba que seu poder é passageiro, sendo derivado da misteriosa flor, ela acaba se deixando deslumbrar por aquele mundo nove que se abre diante de seus olhos. Porém, quando seu segredo é descoberto, ela percebe que colocou outras pessoas em um grave perigo e precisa utilizar todos os recursos possíveis para tentar resolver a situação.
Assim, Meari to majo no hana é uma aventura simples, mas com um leve toque rocambolesco. Grande parte de seu mérito está na beleza da animação e na incrível imaginação dos desenhistas, que fizeram uma escola de magia absolutamente fantástica e cheia de elementos misteriosos. Ao mesmo tempo em que encanta, o mundo mágico e seus personagens também trazem algo de oculto que ganha uma nova dimensão após as reviravoltas da história.
Ainda que tudo isso se encaixe bem na gama de narrativas fantasiosas e repletas de loucuras visuais que o Studio Ghibli costuma fazer, por exemplo, histórias sobre bruxinhas ruivas voando em vassouras não são exatamente algo que faz parte da cultura japonesa – mas não é como se os produtores estivessem tentando disfarçar as origens britânicas dessa história.
Meari to majo no hana é baseado em um livro de Mary Stewart e é uma junção muito interessante desses dois “mundos”. A trama original tem suas próprias influências, várias delas referenciadas ao longo do filme, enquanto a animação não nega toda a bagagem de seus criadores, que entregam algo que eles sabem fazer muito bem. Afinal, o Studio Ponoc, responsável pela produção, foi fundado justamente por dois veteranos do Studio Ghibli: Hiromasa Yonebayashi (que assina a direção) e Yoshiaki Nishimura (um dos produtores).
Com esse DNA bastante interessante, o filme acaba trazendo uma complexidade própria. Isso surge em seu ritmo irregular, porém cativante, onde momentos de ação se alternam com imagens praticamente contemplativas. Mas a grande questão está nos temas abordados, que são bastante inusitados para uma obra infantil. Além da evolução da personagem, que é forçada a amadurecer ao longo da narrativa, há dilemas éticos importantes sendo abordados.
Ao mesmo tempo, tudo isso envolve uma menina normal que – em meio à confusão – não tem como parar para questionar com profundidade o que está acontecendo. Dessa forma, o filme opta por deixar muitos elementos nas entrelinhas, jogando a responsabilidade para os espectadores. Isso sem contar que o recurso ajuda a agradar a uma variedade grande de idades, pois elementos capazes de prender a atenção de diferentes públicos.
No final das contas, Meari to majo no hana não tem a camada de delicadeza e sensibilidade de outros filmes com propostas semelhantes, mas ele ganha pontos pela aventura e pela profusão de elementos. É uma opção divertida e diferente, que merece ser descoberta por um número maior de pessoas.
Outras divagações:
Kari-gurashi no Arietti
Em Meari to majo no hana, a protagonista é um pouco mais velha do que eu era, mas ela parece tão deslocada quanto eu me senti. Assim, não é de se estranhar que ela mergulhe tão facilmente em uma aventura que parece ser bem perigosa desde o começo.
Basicamente, Mary (Hana Sugisaki) está aprendendo a viver em uma cidade pequena e bucólica, onde mora sua tia-avó Charlotte (Shinobu Ôtake). Com o passar dos dias, ela desenvolve uma implicância com um menino da vizinhança, Peter (Ryûnosuke Kamiki), ao mesmo tempo em que se torna amiga dos gatos dele.
Um dia, passeando por uma floresta próxima, ela se embrenha na mata atrás dos gatos e acaba encontrando uma misteriosa planta – que floresce apenas uma vez a cada sete anos –, além de uma vassoura voadora. Esses dois elementos juntos a levam em um passeio para além das nuvens, até uma escola de magia comandada por Madam Mumblechook (Yûki Amami) e Doctor Dee (Fumiyo Kohinata).
Lá, Mary é tratada com muita reverência graças a seus cabelos vermelhos e a todo o poder que aparenta ter. Embora a menina saiba que seu poder é passageiro, sendo derivado da misteriosa flor, ela acaba se deixando deslumbrar por aquele mundo nove que se abre diante de seus olhos. Porém, quando seu segredo é descoberto, ela percebe que colocou outras pessoas em um grave perigo e precisa utilizar todos os recursos possíveis para tentar resolver a situação.
Assim, Meari to majo no hana é uma aventura simples, mas com um leve toque rocambolesco. Grande parte de seu mérito está na beleza da animação e na incrível imaginação dos desenhistas, que fizeram uma escola de magia absolutamente fantástica e cheia de elementos misteriosos. Ao mesmo tempo em que encanta, o mundo mágico e seus personagens também trazem algo de oculto que ganha uma nova dimensão após as reviravoltas da história.
Ainda que tudo isso se encaixe bem na gama de narrativas fantasiosas e repletas de loucuras visuais que o Studio Ghibli costuma fazer, por exemplo, histórias sobre bruxinhas ruivas voando em vassouras não são exatamente algo que faz parte da cultura japonesa – mas não é como se os produtores estivessem tentando disfarçar as origens britânicas dessa história.
Meari to majo no hana é baseado em um livro de Mary Stewart e é uma junção muito interessante desses dois “mundos”. A trama original tem suas próprias influências, várias delas referenciadas ao longo do filme, enquanto a animação não nega toda a bagagem de seus criadores, que entregam algo que eles sabem fazer muito bem. Afinal, o Studio Ponoc, responsável pela produção, foi fundado justamente por dois veteranos do Studio Ghibli: Hiromasa Yonebayashi (que assina a direção) e Yoshiaki Nishimura (um dos produtores).
Com esse DNA bastante interessante, o filme acaba trazendo uma complexidade própria. Isso surge em seu ritmo irregular, porém cativante, onde momentos de ação se alternam com imagens praticamente contemplativas. Mas a grande questão está nos temas abordados, que são bastante inusitados para uma obra infantil. Além da evolução da personagem, que é forçada a amadurecer ao longo da narrativa, há dilemas éticos importantes sendo abordados.
Ao mesmo tempo, tudo isso envolve uma menina normal que – em meio à confusão – não tem como parar para questionar com profundidade o que está acontecendo. Dessa forma, o filme opta por deixar muitos elementos nas entrelinhas, jogando a responsabilidade para os espectadores. Isso sem contar que o recurso ajuda a agradar a uma variedade grande de idades, pois elementos capazes de prender a atenção de diferentes públicos.
No final das contas, Meari to majo no hana não tem a camada de delicadeza e sensibilidade de outros filmes com propostas semelhantes, mas ele ganha pontos pela aventura e pela profusão de elementos. É uma opção divertida e diferente, que merece ser descoberta por um número maior de pessoas.
Outras divagações:
Kari-gurashi no Arietti
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