Divagações: Kari-gurashi no Arietti

É difícil desassociar a imagem do Studio Ghibli de seu maior diretor, Hayao Miyazaki . No entanto, ele está se afastando aos poucos do t...

É difícil desassociar a imagem do Studio Ghibli de seu maior diretor, Hayao Miyazaki. No entanto, ele está se afastando aos poucos do trabalho e em Kari-gurashi no Arietti atuou apenas como roteirista e produtor, sendo que a cadeira de direção foi ocupada pelo estreante Hiromasa Yonebayashi. Aos 71 anos, Miyazaki ainda irá dirigir Kaze tachinu, uma animação baseada em fatos reais prevista para 2013.

Kari-gurashi no Arietti é baseado em um livro da inglesa Mary Norton e conta a história de uma família composta por três pessoas muito pequenas (para você ter uma noção de escala, pense que grampos de escritório formam uma escada de tamanho razoável). Os pais, Pod (Tomokazu Miura) e Homily (Shinobu Ohtake), criam a filha da melhor maneira que podem. Prestes a completar 14 anos, Arrietty (Mirai Shida) está ganhando novas responsabilidades ao mesmo tempo em que um novo morador – um menino humano – se muda para a casa de onde eles ‘emprestam’ coisas como alfinetes perdidos e cubos de açúcar. O encontro de Arrietty com Shou (Ryûnosuke Kamiki) acaba mudando para sempre a vida dos dois.

Sem criaturas fantásticas, senhoras muito velhas, bebês gigantes ou situações mágicas, Kari-gurashi no Arietti consegue ser um filme mais realista, apesar de tratar de um assunto tão fantasioso. Visualmente, isso é bastante perceptível na forma como as folhagens são representadas. Cenários repletos de detalhes são uma característica do Studio Ghibli, mas eles sempre conseguem se superar – chega a ser fantástico dada a necessidade de retratar tudo da perspectiva de pessoas do tamanho de ratos.

Com uma trilha sonora delicada composta pela cantora e harpista francesa Cécile Corbel, o filme mistura suas características japonesas com elementos ocidentais, ganhando um caráter de universalidade. Por mais que se diga que a história se passa em Koganei, a mesma localidade do Studio Ghibli, ela poderia ser em qualquer lugar mais retirado. É a casa da avó no interior para onde uma mãe ocupada manda seu filho doente.

Bastante sensível, Kari-gurashi no Arietti consegue trazer uma adolescente contente com suas descobertas do mundo e um menino desacreditado e infeliz; uma realidade difícil, mas enfrentada com coragem por uma família e uma vida fácil que parece ter prazo de validade. Esse choque entre dois mundos traz consequências interessantes e muda as coisas nos dois lados, trazendo vantagens e desvantagens para todos. Essa é uma prova de que a inteligência das crianças não é menosprezada por esse filme. A trama é interessante e complexa o suficiente para permitir que os adultos se sintam igualmente envolvidos.

Com pequenas imperfeições (eu sou chata e fiquei procurando por problemas de escala, mas não encontrei muita coisa), Kari-gurashi no Arietti não é uma grande aventura de ação nem procura ser um filme muito empolgante. Dificilmente vai fazer alguém sentar na ponta do sofá enquanto olha fixamente para a tela. Ainda assim, é uma obra tão delicada e tão repleta de carinho que é impossível não se deixar encantar. Já aviso: caso pessoas pequenas morem embaixo da minha casa, elas serão muito bem recebidas para um chá.


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