Divagações: Blinded by the Light

O tema da imigração e da vida da primeira geração nascida em outro país tem sido uma constante nos cinemas. Blinded by the Light é um fil...

O tema da imigração e da vida da primeira geração nascida em outro país tem sido uma constante nos cinemas. Blinded by the Light é um filme que entra nesse gênero de uma forma leve e divertida, sendo também uma clássica história de amadurecimento, protagonizada por um dos adolescentes-dramáticos mais realistas que vi nos últimos tempos.

Passado na Inglaterra de 1987, o longa-metragem encontra uma família de imigrantes paquistaneses que lida constantemente com a falta de receptividade da comunidade local. Além dois pais e de duas filhas, o clã é completado por Javed (Viveik Kalra), um menino que sonha em ser poeta e está inconformado com a realidade de o cerca: das constantes ameaças por conta de sua origem à falta de dinheiro em casa, passando pela pressão da chegada à vida adulta, o que possivelmente irá envolver um casamento arranjado e um emprego que o desagrada.

Tendo nascido e sido criado na Inglaterra, Javed sofre por não se enquadrar totalmente na cultura local. Ao mesmo tempo em que ama sua família, ele gostaria de frequentar as festas na casa de seu melhor amigo de infância, Matt (Dean-Charles Chapman), e de ter uma namorada, como a militante política Eliza (Nell Williams). Como um típico adolescente, ele não se sente compreendido por ninguém e acaba se isolando em seus poemas.

As coisas mudam um pouco quando um novo amigo, o também filho de imigrantes Roops (Aaron Phagura), o apresenta à música de Bruce Springsteen. Mesmo sendo de New Jersey, nos Estados Unidos, e levando uma vida bastante diferente da de Javed, as letras das canções têm um grande impacto sobre ele, que em pouco tempo se torna um grande fã – daqueles que falam citando as canções e têm um quarto repleto de pôsteres. Por mais que a obsessão parece exagerada e leve a uma série de problemas em casa, ela faz bem para o rapaz, que encontra um raio de esperança, começa a se expressar melhor e passa a mostrar seu talento para escrever.

No geral, Blinded by the Light é bastante romantizado e sabe disso, utilizando as fantasias adolescentes para compor seu lado cômico. Ainda assim, há um fundo de verdade, já que a história se baseia nas memórias do jornalista Sarfraz Manzoor, um grande fã de Springsteen e um dos roteiristas do filme. Para completar, entra na conta o talento da diretora Gurinder Chadha (que também assina entre os roteiristas) para contar histórias esperançosas, daquelas que aquecem o coração.

O resultado é um longa-metragem que fala sobre a identificação entre pessoas, capaz de ultrapassar até mesmo barreiras culturais complexas. E haja elementos! O filme não economiza em colocar obstáculos no caminho do protagonista, indo desde a crise econômica que deixa seu pai desempregado ao polêmico casamento da irmã mais velha, passando pelo namoro proibido da irmã mais nova e pela relação de todos os seus amigos com seus próprios pais (vale dizer, nenhuma delas é fácil).

Tudo isso, claro, é amplamente regado por músicas de Bruce Springsteen que, mesmo ao falar de seus problemas pessoais, leva esperança para pessoas que ele desconhece. Embora o ritmo contagiante e as letras sejam considerados “fora de moda” para o período em que a trama se passa, as músicas tocam o coração do protagonista que, sem medo de passar ridículo, descobre que há quem esteja interessado no que ele mesmo tem a dizer.

Charmoso e cativante, Blinded by the Light faz com que todos os dramas de Javed – até mesmo os exagerados pela perspectiva adolescente – cheguem até o espectador. E eu não duvido que esse filme já tenha conquistado seus próprios fãs.

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