Divagações: The Devil All the Time
21.10.20
Em tempos de pandemia, ir ao cinema se transformou em algo difícil, cheio de restrições e permitido apenas em alguns lugares. Ao longo dos últimos meses, eu comecei a sentir falta não somente da experiência de ir a uma sala de cinema como também de ver um filme novo, um lançamento. Inclusive, The Devil All the Time nem chamaria muito a minha atenção em tempos normais (o elenco é interessante, preciso admitir), mas eu acabei me rendendo à perspectiva de ver algo fresquinho, que acabou de ser disponibilizado ao público. E, antes que alguém questione, eu já vi o filme faz algum tempo, mas demorei para conseguir um tempo para efetivamente me sentar e escrever sobre ele.
Para começar, The Devil All the Time não é um filme de terror. Alguns materiais de divulgação que vi – e a ideia que o próprio título dá – geraram uma série de expectativas frustradas. Inclusive, acredito que uma parte significa da recepção negativa da produção deriva disso. Esta, na verdade, é uma história sobre a opressão das crenças e da sociedade sobre indivíduos que apenas precisam seguir em frente. Mas, infelizmente, esta é uma mensagem que dificilmente será absorvida por quem mais precisa dela.
A trama é construída por pequenas histórias que se cruzam. Willard (Bill Skarsgård) é um jovem que volta traumatizado da guerra. Arvin (Michael Banks Repeta, Tom Holland) é seu filho, que acaba conhecendo grandes sofrimentos cedo demais. Por sua vez, Helen Hatton (Mia Wasikowska) é uma jovem que perdeu tudo e reencontra seu caminho na religião e no extremismo apresentado por Roy (Harry Melling). A filha deles é Lenora (Eliza Scanlen), uma menina ingênua, que busca por conforto junto a um novo padre local, Preston Teagardin (Robert Pattinson). Já Sandy (Riley Keough) e Carl (Jason Clarke) possuem uma estranha obsessão, mas ela está começando a ficar cansada. Ao mesmo tempo, o irmão dela, Lee Bodecker (Sebastian Stan), é um homem da lei que suja as mãos ao se envolver com política.
Nesse entremeio, nada do que acontece em The Devil All the Time é exatamente bom ou reconfortante. Baseado em um livro de Donald Ray Pollock (que também é o narrador), o filme traz uma tragédia atrás da outra. A vida destas pessoas está tão envolta em acontecimentos ruins, que as coisas apenas se somam, em uma sequência de acontecimentos quase intragável. Digo “quase” porque, ao mesmo tempo, é impossível tirar os olhos da tela e parar de acompanhar. A força e a garra destes personagens, independente da motivação de cada um, é fascinante e mostra o quanto o ser humano sempre pode ir mais longe, seja em sua luta para sobreviver, seja na necessidade de executar seus prazeres.
Para completar, o filme possui uma localização bem própria no tempo e no espaço. Passado nos anos 1950 e 1960, o longa-metragem acontece na zona rural, entre o sul de Ohio e a Virgínia Ocidental. Com isso, os personagens possuem sotaques muito próprios e criam certa distância do público, justamente por serem “diferentes” e “peculiares”. Ao mesmo tempo, eles chamam o público para aquele lugar e aquele tempo e você passa a se questionar quem você seria naquela realidade, como que você se comportaria naquele mundo que, ao mesmo tempo, é tão distante e tão próximos.
E, como eu mencionei os sotaques, preciso falar do trabalho de voz de Robert Pattinson, que, segundo o diretor do filme, Antonio Campos, é “um gênio louco, que pode fazer qualquer coisa”. Para quem já viu alguns filmes do ator, as primeiras cenas de The Devil All the Time trazem um estranhamento. Ele não só tem um sotaque ainda mais acentuado que o resto do elenco – ressaltando seu papel como um “forasteiro” –, mas sua voz está diferente do habitual, o que ajuda na construção e na percepção do personagem.
De modo geral, The Devil All the Time não é uma obra fácil de digerir. Ainda que ele traga mais ideias do que é capaz de aprofundar, o filme consegue se aproveitar muito bem de um elenco competente e bastante talentoso. Em vez de perder qualidade por conta do excesso de coisas acontecendo e do caráter absurdo de alguns dos eventos narrados, ele assume um caráter imersivo. Para quem está conseguindo manter a sanidade nestes tempos difíceis, esta produção é uma prova de força e fé.
Para começar, The Devil All the Time não é um filme de terror. Alguns materiais de divulgação que vi – e a ideia que o próprio título dá – geraram uma série de expectativas frustradas. Inclusive, acredito que uma parte significa da recepção negativa da produção deriva disso. Esta, na verdade, é uma história sobre a opressão das crenças e da sociedade sobre indivíduos que apenas precisam seguir em frente. Mas, infelizmente, esta é uma mensagem que dificilmente será absorvida por quem mais precisa dela.
A trama é construída por pequenas histórias que se cruzam. Willard (Bill Skarsgård) é um jovem que volta traumatizado da guerra. Arvin (Michael Banks Repeta, Tom Holland) é seu filho, que acaba conhecendo grandes sofrimentos cedo demais. Por sua vez, Helen Hatton (Mia Wasikowska) é uma jovem que perdeu tudo e reencontra seu caminho na religião e no extremismo apresentado por Roy (Harry Melling). A filha deles é Lenora (Eliza Scanlen), uma menina ingênua, que busca por conforto junto a um novo padre local, Preston Teagardin (Robert Pattinson). Já Sandy (Riley Keough) e Carl (Jason Clarke) possuem uma estranha obsessão, mas ela está começando a ficar cansada. Ao mesmo tempo, o irmão dela, Lee Bodecker (Sebastian Stan), é um homem da lei que suja as mãos ao se envolver com política.
Nesse entremeio, nada do que acontece em The Devil All the Time é exatamente bom ou reconfortante. Baseado em um livro de Donald Ray Pollock (que também é o narrador), o filme traz uma tragédia atrás da outra. A vida destas pessoas está tão envolta em acontecimentos ruins, que as coisas apenas se somam, em uma sequência de acontecimentos quase intragável. Digo “quase” porque, ao mesmo tempo, é impossível tirar os olhos da tela e parar de acompanhar. A força e a garra destes personagens, independente da motivação de cada um, é fascinante e mostra o quanto o ser humano sempre pode ir mais longe, seja em sua luta para sobreviver, seja na necessidade de executar seus prazeres.
Para completar, o filme possui uma localização bem própria no tempo e no espaço. Passado nos anos 1950 e 1960, o longa-metragem acontece na zona rural, entre o sul de Ohio e a Virgínia Ocidental. Com isso, os personagens possuem sotaques muito próprios e criam certa distância do público, justamente por serem “diferentes” e “peculiares”. Ao mesmo tempo, eles chamam o público para aquele lugar e aquele tempo e você passa a se questionar quem você seria naquela realidade, como que você se comportaria naquele mundo que, ao mesmo tempo, é tão distante e tão próximos.
E, como eu mencionei os sotaques, preciso falar do trabalho de voz de Robert Pattinson, que, segundo o diretor do filme, Antonio Campos, é “um gênio louco, que pode fazer qualquer coisa”. Para quem já viu alguns filmes do ator, as primeiras cenas de The Devil All the Time trazem um estranhamento. Ele não só tem um sotaque ainda mais acentuado que o resto do elenco – ressaltando seu papel como um “forasteiro” –, mas sua voz está diferente do habitual, o que ajuda na construção e na percepção do personagem.
De modo geral, The Devil All the Time não é uma obra fácil de digerir. Ainda que ele traga mais ideias do que é capaz de aprofundar, o filme consegue se aproveitar muito bem de um elenco competente e bastante talentoso. Em vez de perder qualidade por conta do excesso de coisas acontecendo e do caráter absurdo de alguns dos eventos narrados, ele assume um caráter imersivo. Para quem está conseguindo manter a sanidade nestes tempos difíceis, esta produção é uma prova de força e fé.
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