Com os cinemas fechados em boa parte do mundo e diversas produções lidando com hiatos e atrasos, cerimônias como o Oscar enfrentam um momento, no mínimo, curioso. Em outros tempos, The Trial of the Chicago 7 receberia alguma atenção por conta dos grandes nomes em seu elenco e produção, mas acredito que toda a animação acabaria antes mesmo da virada do ano. No contexto atual, entretanto, talvez o longa-metragem tenha chances de conquistar um número razoável de indicações.

Não me entendam mal: o filme é bom e prende a atenção. Escrito e dirigido por Aaron Sorkin a partir de acontecimentos reais, ele mantém o padrão de qualidade esperado, assim como o ritmo acelerado de palavras por minuto. Além disso, o elenco repleto de grandes atores consegue segurar muito bem uma história que acontece, em grande parte, em um único cenário: um tribunal (há flashbacks, não se preocupe).

The Trial of the Chicago 7 conta a história do julgamento de sete líderes de diferentes organizações, acusados de conspirar para criar tumultos violentos durante a convenção do Partido Democrata de 1968, realizada em Chicago. A princípio uma manifestação contra a Guerra do Vietnã (ou seja, não confundir com as manifestações do movimento negro, realizadas na mesma cidade e no mesmo ano), o evento saiu de controle e acabou em confrontos violentos com a polícia.

Os acusados são: Tom Hayden (Eddie Redmayne) e Rennie Davis (Alex Sharp), membros da Sociedade Democrata Estudantil; Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong), cofundadores do Partido Internacional da Juventude, os Yippies; David Dellinger (John Carroll Lynch), um ativista do movimento pacifista; e os ativistas antiguerra Lee Weiner (Noah Robbins) e John Froines (Danny Flaherty). Por fim, o cofundador do Partido dos Panteras Negras, Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II) também se senta no banco dos réus, perfazendo oito acusados no total. Mas, bom, ele é negro...

Além disso, o julgamento ainda envolve advogados experientes (Mark Rylance e Ben Shenkman), um promotor jovem e ambicioso (Joseph Gordon-Levitt) e um juiz bastante tendencioso (Frank Langella). Isso sem contar o júri e as inúmeras testemunhas, já que o julgamento durou mais de seis meses. Pois é!

Ao longo do filme, a situação de cada um dos acusados, seu papel nos protestos e as relações entre eles vão sendo explorados, com destaque para os personagens de Eddie Redmayne e Sacha Baron Cohen. Embora estejam tecnicamente “do mesmo lado”, eles têm filosofias bastante diferentes, com o primeiro querendo crescer dentro do sistema já estabelecido e o segundo usando táticas “alternativas” de se fazer ouvir politicamente.

Com tanta coisa concentrada ao longo de duas horas de filme, The Trial of the Chicago 7 é repleto de detalhes interessantes e consegue manter constantemente a sensação de que tudo pode mudar a qualquer momento. Cada nova revelação trazida por uma testemunha tem a possibilidade de enrolar ainda mais algum dos acusados e é encarada como se realmente fosse uma novidade (embora, obviamente, eles saibam o que fizeram e o que disseram durante os protestos).

Inclusive, considerando o momento político atual e o contexto eleitoral dos Estados Unidos, muitos dos temas levantados pelo filme se tornam ainda mais relevantes. Sorkin, aliás, nem sequer nega a relação. Ao mesmo tempo, de acordo com ele, o roteiro não foi mudado para facilitar essa comparação, mas as circunstâncias que parecem refletir o roteiro.

Assim, ainda que a “fórmula” (ou o “estilo”, você que sabe) do cineasta contar suas histórias tenha cansado um pouco, estas escolhas funcionam muito bem em The Trial of the Chicago 7 e seguem sendo capazes de prender e fascinar o público. Talvez a falta de algo realmente inovador faça com que a produção não se destaque na temporada de premiações, mas este não deixa de ser um dos filmes essenciais de 2020.

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