Divagações: Searching for Bobby Fischer

Antes de escrever uma resenha, eu sempre vejo o filme (obviamente) e faço pesquisas adicionais, tentando captar um pouco do contexto em que ...

Searching for Bobby Fischer
Antes de escrever uma resenha, eu sempre vejo o filme (obviamente) e faço pesquisas adicionais, tentando captar um pouco do contexto em que a produção foi feita, em informações que acabam se misturando às minhas próprias lembranças. Por exemplo, eu lembro de ter visto Searching for Bobby Fischer quando era criança, mas sem prestar muita atenção – não era um filme para mim, afinal de contas. Ainda assim, eu guardei que era “um bom filme” e, quando encontrei a produção na Netflix, resolvi dar uma chance.

Efetivamente, o longa-metragem tem realmente um elenco bem interessante e competente, mas o que me chamou atenção em um primeiro momento foi o fato de que não apenas se tratava de uma história real, mas que os acontecimentos eram relativamente recentes e os principais nomes foram mantidos. Baseado em um livro do pai do “protagonista”, Fred Waitzkin, o filme trazia a história de uma criança que, na época das filmagens, ainda nem era exatamente um adulto.

Hoje, sabemos que a promessa do menino-gênio do xadrez acabou não se concretizando. Também ficou claro o quanto a construção de seu “rival” dos tabuleiros era fraca e irreal. Mas, no fundo, nada disso representa o principal argumento de Searching for Bobby Fischer, que procura explorar a complicada relação entre pais e filhos quando expectativas de brilhantismo e sucesso entram no jogo. O que exatamente significa desejar o que há de melhor para seu filho? E quando a perspectiva de um futuro assegurado e brilhante, com todo um potencial alcançado, pode atrapalhar uma infância feliz?

A história envolve Josh Waitzkin (Max Pomeranc), um menino de sete anos que se interessa por xadrez, aprende o jogo observando homens na praça – com destaque para o exigente Vinnie (Laurence Fishburne) – e, quando decide se arriscar em algumas partidas, acaba impressionando os adultos. Enquanto ele intercala os tabuleiros com diversos outros jogos e brincadeiras, outros o comparam ao jogador profissional Bobby Fischer, que havia se afastado das competições e das câmeras, tornando-se uma espécie de lenda.

Com este potencial latente em mãos, seu pai (Joe Mantegna) contrata o melhor professor possível (Ben Kingsley) e começa a inscrevê-lo em torneios, nem sempre com o apoio da mãe do menino (Joan Allen). A cada novo troféu, Josh sente crescer o peso de uma responsabilidade que nunca desejou ter e, ao mesmo tempo, ele também acompanha com receio a escalada de outro garoto, aparentemente melhor que ele e verdadeiramente obcecado por xadrez, Jonathan Poe (Michael Nirenberg).

O diferencial de Searching for Bobby Fischer, assim, é focar na forma como o garoto reage à pressão, inclusive cedendo a ela, e em como um “talento” pode se colocar no caminho de uma vida mais completa – o xadrez poderia ser facilmente substituído por música, matemática ou algum esporte. Inclusive, uma das melhores sequências envolve a tentativa da professora do menino (Laura Linney) em fazer um alerta aos pais, observando que ele falava muito sobre os hotéis que estava conhecendo pelo país, mas não sobre os pontos turísticos das cidades que visitava.

Com isso, o longa-metragem mantém seus méritos por trazer questões importantes e raramente abordadas, com uma mensagem saudável. Talvez o protagonista pudesse ter se tornado grande (não me entendam mal, ele ainda é um jogador bem ranqueado e tem vários títulos, mas não é um “gênio”), mas a dedicação exigida e o custo disso poderiam ser altos demais para ele. Não é todo dia que cruzamos com um filme como Searching for Bobby Fischer.

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