Divagações: The Power of the Dog

Uma coisa que eu realmente admiro em contadores de histórias é quando a pessoa consegue aproveitar tudo o que está a seu alcance para enriqu...

The Power of the Dog
Uma coisa que eu realmente admiro em contadores de histórias é quando a pessoa consegue aproveitar tudo o que está a seu alcance para enriquecer a narrativa. Não se trata exatamente de colocar aquele mínimo detalhe como uma parte integrante da trama, mas de criar um universo em que aquilo é absolutamente real e se complementa. A diretora e roteirista Jane Campion é uma dessas contadoras de histórias.

Em The Power of the Dog, por exemplo, os personagens são formados por muito mais do que aquilo que os atores entregam. O cenário que eles habitam, a roupa que eles vestem, a iluminação que eles recebem, o ângulo em que são filmados. Tudo isso tem algo muito potente a dizer sobre essas pessoas, complementando atuações de qualidade e interações retratadas com cuidado. Você “entende” quem eles são tão rápida e facilmente que uma pequena informação contraditória, por exemplo, passa a fazer toda a diferença.

Phil (Benedict Cumberbatch) e George Burbank (Jesse Plemons) são dois irmãos muito diferentes. Juntos, eles administram um rancho, onde levam uma vida bem confortável, com um bom número de empregados. Mas, enquanto o primeiro está bem-disposto – até demais, diga-se de passagem – a colocar a mão na massa, fazer todo o tipo de trabalho pesado e se enturmar com os “peões”, o segundo parece almejar algo diferente e se ressente do irmão.

Eventualmente, George se casa com uma viúva, Rose Gordon (Kirsten Dunst), e a leva para morar no rancho, alterando drasticamente a dinâmica existente até então. Ela tem um filho que está começando a estudar medicina, Peter (Kodi Smit-McPhee), e não demora para que o rapaz vire motivo de chacota entre Phil e seus funcionários por conta de seus modos afeminados. Porém, a dinâmica entre Peter e Phil começa a mudar quando um segredo é revelado.

Eu poderia detalhar mais a trama, mas acredito que é melhor ver The Power of the Dog sabendo o mínimo possível sobre a trama (embora reassistir possa trazer novas percepções). Sob muitos aspectos, o filme é sobre Phil: uma tentativa de desvendar aquela pessoa que parece um pouco perdida no tempo, atrasada e relutante. Ao mesmo tempo, trata-se de uma construção de tensão muito bem engendrada, com cada peça se somando e encontrando seu lugar.

Se há um defeito no filme, eu diria que é sua necessidade de se explicar. Algumas cenas conclusivas chegam a ser redundantes, repetindo informações como que para garantir que elas sejam compreendidas. Embora uma simples busca no Google já me indique que muitas pessoas não entenderam exatamente o que aconteceu, eu prefiro acreditar que elas simplesmente não estavam prestando atenção (o que acontece, não vou julgar ninguém) ou que há uma moda desnecessária de explicar finais (sempre uma possibilidade).

De qualquer modo, The Power of the Dog é um daqueles filmes que eu gostaria de ter tido a oportunidade de ver no cinema (o que é curioso, já que se trata de uma produção da Netflix). Além das atuações cheias de nuances e do suspense bem construído – daqueles que fazem você segurar a respiração –, a produção ainda conta com uma trilha sonora belíssima e uma paisagem de tirar o fôlego, com a Nova Zelândia se “disfarçando” de uma Montana (estado montanhoso do noroeste dos Estados Unidos) em plenos anos 1920. É um filme que enche os olhos e a mente.

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