Divagações: Argentina, 1985
25.1.23
Se existe um filme da mais recente temporada de premiações que eu tenho recomendado amplamente, este filme é Argentina, 1985. Além dos méritos da produção, há algo particularmente interessante para os brasileiros, afinal, nós não tivemos um episódio como esse em nossa história: um julgamento amplamente divulgado em que os réus eram os comandantes das forças armadas durante o período de ditadura militar. E, sinceramente, acredito que isso fez toda a diferença, inclusive afetando acontecimentos recentes vividos por aqui.
Com direção de Santiago Mitre, esta produção aborda a história do promotor Julio César Strassera (Ricardo Darín) que, por conta de seu cargo público, precisou reunir as provas necessárias e representar a população argentina no julgamento em questão. Por ser uma pessoa que ascendeu em sua carreira durante o período militar e que optou por baixar a cabeça em muitos momentos, pode-se dizer que ele não tem a personalidade mais recomendada para esta função. Ainda assim, o trabalho recai nele.
Uma das principais questões é que Strassera precisa reunir um time pouco ortodoxo para garantir que o trabalho seja feito sem a presença de defensores da ditadura. Para isso, ele recebe a ajuda de um professor universitário com família de militares, Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani), e de uma série de jovens recrutados entre os funcionários do tribunal. A esperança é que a boa vontade seja capaz de compensar a falta de experiência e o curto período que eles terão para organizar tudo. Para completar, todos precisam lidar com ameaças constantes e com o próprio julgamento que se segue.
Assim, Argentina, 1985 é um filme de tribunal como muitos que você já viu por aí. Mas ele também é muito mais próximo. Os dilemas vividos pelos personagens e os relatos das diversas testemunhas reunidas por eles afetam diretamente. São histórias que encontramos na nossa literatura recente, nos nossos jornais e, obviamente, na Comissão da Verdade. Mesmo para alguém como eu, que nasceu logo após o fim da ditadura, tudo parece estar perto – e é como um pesadelo, já que há multidões que ainda clamam pela volta dos militares ao poder. Também vale observar que a Argentina viveu esse horror por sete anos; no Brasil, foram 21.
Enquanto filme, Argentina, 1985 também tem muito que o recomende. A história, em si, é naturalmente tensa e prende a atenção do público sem esforço. Com um protagonista relutante e coadjuvantes que parecem não ter noção do perigo em que estão se metendo, parte da questão é justamente ver como eles reagem ao que o “destino” coloca à frente e como isso pode interferir com um julgamento de importância histórica.
Além disso, há uma reconstrução de época bastante atenta aos detalhes. Ainda que, para alguém de fora, os pontos turísticos de Buenos Aires pareçam parados na História, há detalhes que tornam seu entorno bastante característicos de uma época (como um orelhão, por exemplo). A própria decoração dos ambientes de trabalho ou mesmo da casa do protagonista também são capazes de nos levar em uma “viagem no tempo”.
É verdade que Argentina, 1985 não traz nada de particularmente inovador para o gênero, mas ele representa algo especial para o cinema argentino e sul-americano. A própria percepção da necessidade (e da urgência) de contar essa história tem um mérito. Ao fazer isso com capricho técnico e qualidade, a produção cumpre o que promete de uma maneira cativante e deixando sua posição bem clara.
Com direção de Santiago Mitre, esta produção aborda a história do promotor Julio César Strassera (Ricardo Darín) que, por conta de seu cargo público, precisou reunir as provas necessárias e representar a população argentina no julgamento em questão. Por ser uma pessoa que ascendeu em sua carreira durante o período militar e que optou por baixar a cabeça em muitos momentos, pode-se dizer que ele não tem a personalidade mais recomendada para esta função. Ainda assim, o trabalho recai nele.
Uma das principais questões é que Strassera precisa reunir um time pouco ortodoxo para garantir que o trabalho seja feito sem a presença de defensores da ditadura. Para isso, ele recebe a ajuda de um professor universitário com família de militares, Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani), e de uma série de jovens recrutados entre os funcionários do tribunal. A esperança é que a boa vontade seja capaz de compensar a falta de experiência e o curto período que eles terão para organizar tudo. Para completar, todos precisam lidar com ameaças constantes e com o próprio julgamento que se segue.
Assim, Argentina, 1985 é um filme de tribunal como muitos que você já viu por aí. Mas ele também é muito mais próximo. Os dilemas vividos pelos personagens e os relatos das diversas testemunhas reunidas por eles afetam diretamente. São histórias que encontramos na nossa literatura recente, nos nossos jornais e, obviamente, na Comissão da Verdade. Mesmo para alguém como eu, que nasceu logo após o fim da ditadura, tudo parece estar perto – e é como um pesadelo, já que há multidões que ainda clamam pela volta dos militares ao poder. Também vale observar que a Argentina viveu esse horror por sete anos; no Brasil, foram 21.
Enquanto filme, Argentina, 1985 também tem muito que o recomende. A história, em si, é naturalmente tensa e prende a atenção do público sem esforço. Com um protagonista relutante e coadjuvantes que parecem não ter noção do perigo em que estão se metendo, parte da questão é justamente ver como eles reagem ao que o “destino” coloca à frente e como isso pode interferir com um julgamento de importância histórica.
Além disso, há uma reconstrução de época bastante atenta aos detalhes. Ainda que, para alguém de fora, os pontos turísticos de Buenos Aires pareçam parados na História, há detalhes que tornam seu entorno bastante característicos de uma época (como um orelhão, por exemplo). A própria decoração dos ambientes de trabalho ou mesmo da casa do protagonista também são capazes de nos levar em uma “viagem no tempo”.
É verdade que Argentina, 1985 não traz nada de particularmente inovador para o gênero, mas ele representa algo especial para o cinema argentino e sul-americano. A própria percepção da necessidade (e da urgência) de contar essa história tem um mérito. Ao fazer isso com capricho técnico e qualidade, a produção cumpre o que promete de uma maneira cativante e deixando sua posição bem clara.
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