Divagações: Whitney Houston: I Wanna Dance with Somebody
11.1.23
Whitney Houston é, sem dúvidas, uma das artistas mais celebradas de sua geração. Dona de uma série de recordes no mercado fonográfico e de uma voz inconfundível, a cantora também teve uma vida pessoal conturbada que acabou de modo trágico e prematuro.
Dito isso, Whitney Houston: I Wanna Dance with Somebody não consegue exatamente se fundar como uma celebração da vida de Huston por ir diretamente contra o espírito da obra da cantora: enquanto ela era conhecida por tomar riscos e assumir grandes desafios vocais em suas apresentações, este filme sintetiza perfeitamente a expressão “jogar seguro”. Seguindo ao pé da letra a cartilha das cinebiografias, a produção não é ruim, mas ela não se diferencia no mar das obras similares que inundaram o mercado nos últimos anos.
Com a típica estrutura de “história de vida”, o longa-metragem acompanha Whitney Houston (Naomi Ackie) da juventude modesta ao estrelato, passando pela relação conturbada com o pai, John (Clarke Peters), pela amizade (e romance não-realizado) com Robyn Crawford (Nafessa Williams) e pelo casamento complicado com Bobby Brown (Ashton Sanders), incluindo os problemas com a fama e com as drogas. Para isso, o roteiro de Anthony McCarten segue as mesmas batidas narrativas que ele utilizou em Bohemian Rhapsody (que já não eram exatamente originais), dando a impressão de que esse é um filme que você já viu dezenas de vezes ao sintetizar a vida da cantora em um pastiche de momentos dramáticos obrigatórios.
O trabalho de Naomi Ackie é competente, mas não muito transformativo. A voz original de Huston é usada no filme, deixando a atriz apenas com dublagens, o que não colabora para uma performance apoteótica – ainda que Ackie tenha feito um esforço em termos de postura e maneirismos. Aliás, por mais que algumas liberdades sejam tomadas para tentar relacionar as canções com a vida pessoal de Houston, o peso dramático não chega ao que um musical teria. Mas todo o resto do elenco de apoio também se segura bem, com destaque para Stanley Tucci como o simpático produtor de Houston, Clive Davis (que também é produtor do filme).
Além disso, o filme simplifica ou altera a participação de algumas pessoas para enxugar a trama – por exemplo, a relação próxima de Whitney Houston com Eddie Murphy sequer é citada e o pai da cantora é retratado de modo bidimensional. E, como esperado, a relação da cantora com as drogas é retratada de uma maneira bastante “sutil”, uma vez que a família está envolvida na produção e certas coisas acabam sendo minimizadas. Do mesmo modo, existe um esforço de recriação de época, sobretudo com momentos icônicos da carreira da cantora, de modo que esses elementos ao menos são bastante fiéis e nenhum erro crasso fica aparente.
Assim, Whitney Houston: I Wanna Dance with Somebody faz o que pode para entregar aos fãs da cantora uma experiência agradável – as reações que vi de gente que acompanhou mais de perto a carreira foi bastante positiva. Ainda assim, este é um filme que é melhor sem um contexto, já que sua falta de ambições cinematográficas o coloca muito próximo do que veríamos em uma minissérie televisiva.
Se você não se preocupa muito com o fato da narrativa ser "feijão com arroz" e tem uma história pregressa com a cantora, sinceramente, é uma opção divertida e com um ótimo portfólio de canções e clipes. Mas, em meio a um cenário onde outros artistas igualmente influentes receberam um tratamento mais caprichado, Whitney Houston: I Wanna Dance with Somebody acaba devendo um pouco.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
Dito isso, Whitney Houston: I Wanna Dance with Somebody não consegue exatamente se fundar como uma celebração da vida de Huston por ir diretamente contra o espírito da obra da cantora: enquanto ela era conhecida por tomar riscos e assumir grandes desafios vocais em suas apresentações, este filme sintetiza perfeitamente a expressão “jogar seguro”. Seguindo ao pé da letra a cartilha das cinebiografias, a produção não é ruim, mas ela não se diferencia no mar das obras similares que inundaram o mercado nos últimos anos.
Com a típica estrutura de “história de vida”, o longa-metragem acompanha Whitney Houston (Naomi Ackie) da juventude modesta ao estrelato, passando pela relação conturbada com o pai, John (Clarke Peters), pela amizade (e romance não-realizado) com Robyn Crawford (Nafessa Williams) e pelo casamento complicado com Bobby Brown (Ashton Sanders), incluindo os problemas com a fama e com as drogas. Para isso, o roteiro de Anthony McCarten segue as mesmas batidas narrativas que ele utilizou em Bohemian Rhapsody (que já não eram exatamente originais), dando a impressão de que esse é um filme que você já viu dezenas de vezes ao sintetizar a vida da cantora em um pastiche de momentos dramáticos obrigatórios.
O trabalho de Naomi Ackie é competente, mas não muito transformativo. A voz original de Huston é usada no filme, deixando a atriz apenas com dublagens, o que não colabora para uma performance apoteótica – ainda que Ackie tenha feito um esforço em termos de postura e maneirismos. Aliás, por mais que algumas liberdades sejam tomadas para tentar relacionar as canções com a vida pessoal de Houston, o peso dramático não chega ao que um musical teria. Mas todo o resto do elenco de apoio também se segura bem, com destaque para Stanley Tucci como o simpático produtor de Houston, Clive Davis (que também é produtor do filme).
Além disso, o filme simplifica ou altera a participação de algumas pessoas para enxugar a trama – por exemplo, a relação próxima de Whitney Houston com Eddie Murphy sequer é citada e o pai da cantora é retratado de modo bidimensional. E, como esperado, a relação da cantora com as drogas é retratada de uma maneira bastante “sutil”, uma vez que a família está envolvida na produção e certas coisas acabam sendo minimizadas. Do mesmo modo, existe um esforço de recriação de época, sobretudo com momentos icônicos da carreira da cantora, de modo que esses elementos ao menos são bastante fiéis e nenhum erro crasso fica aparente.
Assim, Whitney Houston: I Wanna Dance with Somebody faz o que pode para entregar aos fãs da cantora uma experiência agradável – as reações que vi de gente que acompanhou mais de perto a carreira foi bastante positiva. Ainda assim, este é um filme que é melhor sem um contexto, já que sua falta de ambições cinematográficas o coloca muito próximo do que veríamos em uma minissérie televisiva.
Se você não se preocupa muito com o fato da narrativa ser "feijão com arroz" e tem uma história pregressa com a cantora, sinceramente, é uma opção divertida e com um ótimo portfólio de canções e clipes. Mas, em meio a um cenário onde outros artistas igualmente influentes receberam um tratamento mais caprichado, Whitney Houston: I Wanna Dance with Somebody acaba devendo um pouco.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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