Divagações: John Wick: Chapter 4

Em menos de uma década, John Wick conseguiu o que eu achava quase impossível: entregou uma série de quatro filmes aclamados pelo público e...

John Wick: Chapter 4
Em menos de uma década, John Wick conseguiu o que eu achava quase impossível: entregou uma série de quatro filmes aclamados pelo público e até bem quistos pela crítica. Com isso, finalmente chegamos ao suposto capítulo final da saga, com intimidadoras quase três horas, e a promessa era que finalmente o destino do personagem e daquele mundo seria desvelado.

Tendo evadido a perseguição da misteriosa organização de assassinos que opera no submundo, John Wick (Keanu Reeves) novamente se vê ameaçado quando um novo e ambicioso membro da Cúpula, o marquês de Garmont (Bill Skarsgård), toma como missão pessoal resolver as pontas soltas. Para isso, ele contrata os serviços de um dos antigos colegas de Wick, Caine (Donnie Yen), e o encarrega de acabar de vez com a ameaça que o protagonista representa à entidade. Com seus aliados sendo atacados um a um, Wick decide confrontar diretamente o Marquês e os representantes da Cúpula, em uma última e arriscada tentativa de reaver sua liberdade.

A despeito da sua duração extensiva e da sua posição como capítulo final da história, John Wick: Chapter 4 continua comprometido a entregar exatamente o que os seus espectadores esperam dele. Ou seja, é uma obra comprometida com a estética da violência e que leva sua coreografia de ação mais a sério do que qualquer outra coisa no ocidente hoje em dia. Assim, quem esperava por um pouco mais de gravitas emocional e desenvolvimento de personagem vai descobrir que essa não é uma prioridade.

O objetivo segue sendo proporcionar uma série de sequências de ação imaginativas e que não se limitam a imitar o que foi feito anteriormente. Aliás, é realmente admirável o esforço para que todas as cenas tenham um visual e uma dinâmica própria, com focos em elementos diferentes para que os combates sejam sempre frescos, intensos e interessantes.

Considerando a duração e o gênero do filme, manter o senso de novidade é fundamental. Mas John Wick: Chapter 4 talvez tenha a maior variedade de toda a série: há lutas no meio de ruas movimentadas, planos-sequência impressionantemente filmados em uma perspectiva que nunca havia visto em filmes de ação, e confrontos que tentam tirar o máximo das habilidades individuais de cada um dos personagens. Admito que o filme começa um pouco fraco e estive preocupado de que o diretor Chad Stahelski poderia ter perdido a mão, porém ele rapidamente me provou o contrário.

Por sua vez, Reeves continua com sua atuação (propositalmente) taciturna e quase engessada, o que dá muito espaço para seus coadjuvantes brilharem – desde os já conhecidos da franquia, como Ian McShane e o recentemente falecido Lance Reddick, até os novatos Shamier Anderson e Donnie Yen. Inclusive, John Wick: Chapter 4 não tem medo de deixar seu protagonista de lado para explorar estes outros indivíduos e seu lugar no mundo, talvez até mesmo abrindo espaço para que esse universo persista depois da conclusão da série. Afinal, ficaram pontas soltas envolvendo alguns dos personagens.

De qualquer modo, é justamente em sua simplicidade que está sua beleza. John Wick: Chapter 4 é exatamente o que promete ser, mas sem parecer mais do mesmo. Obviamente, se você não gosta da franquia e do que ela representa, nada aqui vai mudar a sua opinião. Quem espera por mais substância e menos estética, ou talvez por um mergulho mais fundo na instigante ambientação da franquia, também pode sair desapontado. Mesmo assim, não vejo muita razão para não gostar do filme, pois ele mantém suas qualidades até o final e conclui o arco narrativo dos seus personagens.

Assim, um quinto longa-metragem focado neste personagem me parece não só improvável, mas um desserviço. Já é hora de deixar o assassino ter a paz que ele tanto busca.

Outras divagações:
John Wick
John Wick: Chapter 2
John Wick: Chapter 3 - Parabellum

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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