Divagações: Spider-Man: Across the Spider-Verse

Existem poucos filmes que são capazes de elevar todo um gênero e, quando eles aparecem, é difícil não perceber que você está olhando para al...

Spider-Man: Across the Spider-Verse
Existem poucos filmes que são capazes de elevar todo um gênero e, quando eles aparecem, é difícil não perceber que você está olhando para algo especial. Esse foi o caso de Spider-Man: Into the Spider-Verse que, mesmo vindo da Sony Pictures Animation – um estúdio que até então não havia conseguido emplacar nenhum título capaz de chegar perto de seus maiores concorrentes –, conseguiu fazer bonito em relação às contrapartes em live-action e, para muitos, tornou-se o filme definitivo do cabeça-de-teia.

A influência da produção, inclusive, já vem aparecendo em todo o cenário de animação ocidental (o também ótimo Puss in Boots: The Last Wish talvez seja a sua maior cria). Mas o sucesso trouxe também a possibilidade de fazer algo ainda maior e melhor. Assim, Spider-Man: Across the Spider-Verse chega justamente para expandir o universo de Miles Morales (Shameik Moore).

Meses após sua última aventura, Miles já havia se conformado que nunca mais veria nenhum dos seus amigos interdimensionais novamente – e passa seus dias enfrentando o clássico dilema de dividir sua vida civil com o combate ao crime. Porém, as coisas mudam quando ele descobre que Gwen Stacy (Hailee Steinfeld) encontrou uma forma de cruzar o multiverso para reencontrá-lo.

Ela, entretanto, agora fazia parte de uma força-tarefa de pessoas-aranha lideradas por Miguel O'Hara (Oscar Isaac) com o objetivo de proteger a integridade da realidade. Além disso, Spot (Jason Schwartzman) – um desastrado vilão de segunda categoria enfrentado por Miles – representava uma surpreendente ameaça ao multiverso, colocando-o em rota de colisão direta com essa organização interdimensional de heróis-aranha.

Com uma animação ainda mais caprichada e escolhas visuais extremamente ambiciosas, Spider-Man: Across the Spider-Verse é tudo que seu predecessor foi e ainda mais. É o tipo de trabalho onde fica claro o envolvimento de uma equipe extremamente competente e apaixonada pelo que faz.

Há uma infinidade de detalhes visuais e uma coreografia impecável, o que transforma a produção no atual pináculo a ser batido em termos de animação por computador. Para completar, a direção de arte não tem medo de ser só cartunesca e entrega um longa-metragem que vai continuar a ser lindo mesmo daqui a muitos anos, quando a tecnologia deixar vários dos seus contemporâneos com uma cara bem obsoleta.

O roteiro funciona bem, com uma progressão sólida e ótimos personagens – tanto os antigos quanto alguns novos (destaque para Daniel Kaluuya como Hobie Brown, o novo aranha favorito de muita gente). O texto deixa o drama respirar quando necessário, encontrando um balanço adequado com sua abundante comédia, tudo bem suportado pelo trabalho visual e pela ótima produção, que consegue usar de vários truques em seu arsenal, da trilha sonora à paleta de cores, para enfatizar os sentimentos dos personagens e expressar diferenças sutis entre as realidades, literais ou metafóricas.

Um dos pontos que mais me surpreendeu nesse sentido foi o quão central Gwen Stacy se tornou para a trama. Ela virou, de fato, uma coprotagonista e carrega os temas mais humanos e dramáticos. Além disso, o trabalho de voz de Hailee Steinfeld só acrescenta à mistura, de modo que eu não me surpreenderia se esse for o catalisador para tornar a personagem mais conhecida e querida fora do fandom de quadrinhos.

Ao mesmo tempo, não se pode negar que Spider-Man: Across the Spider-Verse é um filme frustrante. Justamente por ser tão bom no que ele se propõe, sua maior falha se torna gritante: esse é só meio filme.

Ainda que disponha de quase duas horas e meia para contar sua história, o longa-metragem simplesmente decide que não vai resolver nenhum dos seus conflitos. A história não funciona por si mesma e deixa uma pilha de questões em aberto para a sua continuação. Spider-Man: Beyond the Spider-Verse já está anunciado e tem lançamento previsto para março de 2024.

Por conta disso, esse é um filme que recomendo com certa cautela, pois é difícil julgar quando tudo não passa de um grande “setup”. Ao mesmo tempo, a produção faz muito bem o que se propõe, sendo uma das raras sequências a superar o seu original, que já era bom o bastante para se tornar uma referência. Se você conseguir lidar com alguns grunhidos quando os créditos começarem e estiver ciente da espera de um ano, Spider-Man: Across the Spider-Verse é absolutamente imperdível.

Outras divagações:
Spider-Man: Into the Spider-Verse

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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