Divagações: La mala educación
13.9.23
A cada mergulho na obra de Pedro Almodóvar, eu saio com algo diferente. La mala educación tem muitas características típicas do cineasta – o uso de cores, a trama estrambólica, críticas à religião, representação LGBT+ etc. –, mas a combinação disso tudo é única. Mais uma vez, o cineasta faz a extrapolação de gêneros cinematográficos, criando algo novo ao desvirtuar os clichês previamente estabelecidos.
Na infância, Enrique (Raúl García Forneiro) viveu seu despertar sexual com um colega de dormitório (Nacho Pérez) em um colégio católico. Quando ambos são descobertos pelo diretor, Padre Manolo (Daniel Giménez Cacho), apenas Enrique é expulso.
Anos depois, Enrique Goded (Fele Martínez) é um diretor de cinema em busca de uma história. Eis que um conto bastante interessante – meio baseado em acontecimentos reais, meio ficção – é entregue a ele por um ator em busca de trabalho, Ángel (Gael García Bernal). Em meio a imaginações, mentiras e narradores não confiáveis, o destino de uma determinada personagem (Francisco Boira) vai sendo esclarecido.
A questão é que tudo se mistura. Flashbacks e encenações podem (ou não) envolver os mesmos atores e, em um primeiro momento, não fica claro o que é o “filme dentro do filme” e o que realmente teria acontecido (não garanto que fica totalmente compreensível em algum momento). Com isso, La mala educación traz novas descobertas a cada nova sequência e prende a atenção do começo ao fim.
E, obviamente, tudo isso está envolto em um melodrama colorido e repleto de cenas de sexo. A nudez é utilizada de um modo provocativo e manipulativo, tanto entre os personagens quanto pelo filme em si (ainda assim, não há nada absolutamente explícito). O objetivo é entreter e confundir, criando um filme para ser lembrado. E nem preciso dizer que Almodóvar sabe como conseguir o efeito desejado.
Outra característica interessante é que La mala educación se utiliza de temas e estéticas facilmente relacionáveis ao diretor ao mesmo tempo em que parece contar um mistério mais pesado e cinzento, quase como um filme noir. A dissociação entre esses elementos causa estranheza e pode torcer alguns narizes, mas ela também mostra que há espaço para criatividade e para ser diferente no cinema.
Para completar, a produção dá espaço para Gael Garcia Bernal mostrar versatilidade. A cada virada da história (melhor dizendo, a cada nova peça do quebra-cabeça), ele tem a oportunidade de mudar completamente, indo de uma drag queen viciada em drogas a um ganancioso irmão mais novo, passando também por um jovem ator com brilho nos olhos e por um chantageador barato. Em todos esses momentos, eu simplesmente acreditei que aquela era a sua “verdadeira” versão.
La mala educación é um mistério cativante que se passa em um mundo terrível: próximo demais da realidade para o conforto, mas brilhante demais para ser real. Assim, ele não é exatamente sobre as crueldades vistas em escolas religiosas, sobre abuso infantil, sobre transexualidade ou sobre traumas, mas é sobre pessoas lidando com suas bagagens emocionais em seus próprios dramas.
Outras divulgações:
Los Amantes Pasajeros
Na infância, Enrique (Raúl García Forneiro) viveu seu despertar sexual com um colega de dormitório (Nacho Pérez) em um colégio católico. Quando ambos são descobertos pelo diretor, Padre Manolo (Daniel Giménez Cacho), apenas Enrique é expulso.
Anos depois, Enrique Goded (Fele Martínez) é um diretor de cinema em busca de uma história. Eis que um conto bastante interessante – meio baseado em acontecimentos reais, meio ficção – é entregue a ele por um ator em busca de trabalho, Ángel (Gael García Bernal). Em meio a imaginações, mentiras e narradores não confiáveis, o destino de uma determinada personagem (Francisco Boira) vai sendo esclarecido.
A questão é que tudo se mistura. Flashbacks e encenações podem (ou não) envolver os mesmos atores e, em um primeiro momento, não fica claro o que é o “filme dentro do filme” e o que realmente teria acontecido (não garanto que fica totalmente compreensível em algum momento). Com isso, La mala educación traz novas descobertas a cada nova sequência e prende a atenção do começo ao fim.
E, obviamente, tudo isso está envolto em um melodrama colorido e repleto de cenas de sexo. A nudez é utilizada de um modo provocativo e manipulativo, tanto entre os personagens quanto pelo filme em si (ainda assim, não há nada absolutamente explícito). O objetivo é entreter e confundir, criando um filme para ser lembrado. E nem preciso dizer que Almodóvar sabe como conseguir o efeito desejado.
Outra característica interessante é que La mala educación se utiliza de temas e estéticas facilmente relacionáveis ao diretor ao mesmo tempo em que parece contar um mistério mais pesado e cinzento, quase como um filme noir. A dissociação entre esses elementos causa estranheza e pode torcer alguns narizes, mas ela também mostra que há espaço para criatividade e para ser diferente no cinema.
Para completar, a produção dá espaço para Gael Garcia Bernal mostrar versatilidade. A cada virada da história (melhor dizendo, a cada nova peça do quebra-cabeça), ele tem a oportunidade de mudar completamente, indo de uma drag queen viciada em drogas a um ganancioso irmão mais novo, passando também por um jovem ator com brilho nos olhos e por um chantageador barato. Em todos esses momentos, eu simplesmente acreditei que aquela era a sua “verdadeira” versão.
La mala educación é um mistério cativante que se passa em um mundo terrível: próximo demais da realidade para o conforto, mas brilhante demais para ser real. Assim, ele não é exatamente sobre as crueldades vistas em escolas religiosas, sobre abuso infantil, sobre transexualidade ou sobre traumas, mas é sobre pessoas lidando com suas bagagens emocionais em seus próprios dramas.
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