Divagações: Le charme discret de la bourgeoisie
18.10.23
Ao me aventurar por um clássico – ainda mais um com um título como Le charme discret de la bourgeoisie –, eu me questiono se é melhor estudar sobre o filme antes e buscar “pelo que é bom” com algum conhecimento de causa ou se a alternativa mais adequada seria encarar como se fosse uma nova produção, algo fresco e desconhecido. Muitas vezes, conhecimentos prévios já me jogam no meio do caminho e era isso o que eu achei que aconteceria aqui; para a minha surpresa, o ponto de partida foi mais próximo da novidade.
Dirigido por Luis Buñuel e com roteiro assinado pelo cineasta e por Jean-Claude Carrière, este longa-metragem é, obviamente, uma sátira da alta sociedade francesa dos anos 1960 e 1970 (o filme é de 1972). A história acompanha um grupo de amigos em uma sequência de jantares malsucedidos e/ou de pesadelos rocambolescos. Aos poucos, as neuroses, os hábitos e as futilidades de cada um dos personagens vão sendo ressaltados e ressaltados, até que tudo se torna um grande exagero e a comédia se revela.
A panelinha, por assim dizer, é formado por dois casais – os anfitriões, Henri (Jean-Pierre Cassel) e Alice (Stéphane Audran), e um que está junto por formalidade, François (Paul Frankeur) e Simone (Delphine Seyrig) –, além da irmã de Simone, Florence (Bulle Ogier), e do embaixador de um país ficcional, Rafael (Fernando Rey). As relações entre eles já estão bem estabelecidas quando a história começa e não demandam muitas explicações; o que importa é a maneira como eles interagem e como lidam com os acontecimentos ao seu redor.
Assim, mais de 50 anos após seu lançamento, Le charme discret de la bourgeoisie ainda funciona muito bem. Enquanto assistíamos ao filme, meu namorado comentou a sensação de que as sequências pareciam esquetes de Monty Python, um grupo humorístico britânico que é contemporâneo ao filme, e precisei concordar. E não só eu: uma breve pesquisa do Google me indicou que muitas pessoas também pensaram a mesma coisa.
Com sua estrutura fragmentada, o longa-metragem traz uma sequência de episódios não necessariamente relacionados. Mas a familiaridade é mantida porque há uma ordem cronológica (aparentemente) e porque os personagens se repetem, às vezes com o elenco completo e às vezes em grupos menores. Além disso, há a questão temática, com o eterno problema do jantar sendo interrompido pelas mais variadas razões.
No decorrer de Le charme discret de la bourgeoisie, você percebe que tudo pode suceder. A produção explora adultério, alcoolismo, atentados, drogas, golpes militares em países latino-americanos, mortes, prisões, sexo, vingança e por aí vai... Ao mesmo tempo, como só poderia acontecer com este tipo de personagens, as coisas ocorrem (praticamente) sem consequências, o que só alimenta o sentimento de absurdo.
Talvez Le charme discret de la bourgeoisie seja uma versão francesa do Monty Python, talvez seja o que alguns chamam de “cinema surrealista”. Mas a verdade é que, lançado em um momento histórico que pedia por mudanças políticas e sociais, este filme foi bem recebido em sua época e continua sendo uma boa experiência. Afinal, ao fazer rir em vez de esbravejar, Buñuel deixa a sua mensagem bem clara e mantém sua própria pose.
Dirigido por Luis Buñuel e com roteiro assinado pelo cineasta e por Jean-Claude Carrière, este longa-metragem é, obviamente, uma sátira da alta sociedade francesa dos anos 1960 e 1970 (o filme é de 1972). A história acompanha um grupo de amigos em uma sequência de jantares malsucedidos e/ou de pesadelos rocambolescos. Aos poucos, as neuroses, os hábitos e as futilidades de cada um dos personagens vão sendo ressaltados e ressaltados, até que tudo se torna um grande exagero e a comédia se revela.
A panelinha, por assim dizer, é formado por dois casais – os anfitriões, Henri (Jean-Pierre Cassel) e Alice (Stéphane Audran), e um que está junto por formalidade, François (Paul Frankeur) e Simone (Delphine Seyrig) –, além da irmã de Simone, Florence (Bulle Ogier), e do embaixador de um país ficcional, Rafael (Fernando Rey). As relações entre eles já estão bem estabelecidas quando a história começa e não demandam muitas explicações; o que importa é a maneira como eles interagem e como lidam com os acontecimentos ao seu redor.
Assim, mais de 50 anos após seu lançamento, Le charme discret de la bourgeoisie ainda funciona muito bem. Enquanto assistíamos ao filme, meu namorado comentou a sensação de que as sequências pareciam esquetes de Monty Python, um grupo humorístico britânico que é contemporâneo ao filme, e precisei concordar. E não só eu: uma breve pesquisa do Google me indicou que muitas pessoas também pensaram a mesma coisa.
Com sua estrutura fragmentada, o longa-metragem traz uma sequência de episódios não necessariamente relacionados. Mas a familiaridade é mantida porque há uma ordem cronológica (aparentemente) e porque os personagens se repetem, às vezes com o elenco completo e às vezes em grupos menores. Além disso, há a questão temática, com o eterno problema do jantar sendo interrompido pelas mais variadas razões.
No decorrer de Le charme discret de la bourgeoisie, você percebe que tudo pode suceder. A produção explora adultério, alcoolismo, atentados, drogas, golpes militares em países latino-americanos, mortes, prisões, sexo, vingança e por aí vai... Ao mesmo tempo, como só poderia acontecer com este tipo de personagens, as coisas ocorrem (praticamente) sem consequências, o que só alimenta o sentimento de absurdo.
Talvez Le charme discret de la bourgeoisie seja uma versão francesa do Monty Python, talvez seja o que alguns chamam de “cinema surrealista”. Mas a verdade é que, lançado em um momento histórico que pedia por mudanças políticas e sociais, este filme foi bem recebido em sua época e continua sendo uma boa experiência. Afinal, ao fazer rir em vez de esbravejar, Buñuel deixa a sua mensagem bem clara e mantém sua própria pose.
0 recados